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Assêmico-Panssêmico

Jim Leftwich está definitivamente certo ao dizer que não há realmente uma coisa ou sinal perfeitamente “assêmico”, uma vez que tudo transmite algum significado, tudo pode encontrar seu caminho para – pelo menos – um interior “emocional” (garatuja de) significado.

Ele fala de “pansemia” (a partir do prefixo grego “pan” = todo), e ao fazê-lo ele apenas sugere que tudo emite/expressa (ou é um eco de) algum sinal semanticamente rico, sempre provido com uma semissombra de significado; por isso tudo faz sentido, e um monte de caminhos significativos pode sempre ser conectado às flechas invisíveis subindo de qualquer um dos traços escritos que imaginamos e concebemos e fazemos ou encontramos.

Dito isso, parece-me que uma área assêmica “apropriada” (?) pode ser vista no lugar onde a mente liga palidamente nossas expectativas a uma mensagem escrita linguisticamente conhecida e o conteúdo para uma forma realmente desconhecida de glifo.

O todo de um texto ou desenho aparece diante de nós como uma “coisa” assêmica, indecifrável para o intelecto, que não reconhece a linguagem; mas, ao mesmo tempo, pode ser significativo (e, sim, belo) para o… gosto, percepção… solicitando algum tipo de empatia.

Eu penso não só nas paredes escritas de nossas cidades, nem na prática da escrita assêmica em si, solitariamente. Eu gostaria de me referir também às apenas visíveis… linhas entre as coisas. As bordas e limites de blocos e ruas emaranhadas como são vistos pelo olho de um satélite. Ou ao código escrito da chuva numa poça de cimento úmido. Ou traços casuais de animais (e homens) em cavernas. Etc.

Assim que – ao olhar para eles – pensando em sobrepor as formas de alguma linguagem escrita possível, nós abruptamente descobrimos qualquer coisa que pode realmente ser código, mensagem, e que ao mesmo tempo não é. Nós vivemos na incerteza. Eles desafiam qualquer tentativa prática de entender, decifrar. Mas, nesse movimento, fazem algum outro significado opaco surgir. Uma espécie de nuvem de possibilidades. Uma névoa de “fazer sentido” que paira sobre tudo e em torno da camada específica de escrita que estamos enfrentando.


 Sobre Marco Giovenale

Nasceu em fevereiro de 1969, em Roma. Formou-se em Artes, com uma tese sobre a poesia de Roberto Roversi. Ao longo dos anos, manteve inúmeras atividades, inclusive a de curador de exposições, e de novembro de 2000 até 2010 trabalhou em uma livraria romana que lida com livros antigos e modernos (de literatura, da poesia do século XX italiana e estrangeira, de filosofia, história). Publicou vários volumes de poesia. Mantém o blog slowforward.