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Brancos

brancos são aqueles tipos que aparecem nos comerciais. ao contrário do que acontece com não-brancos, a presença de brancos em peças publicitárias não precisa ser justificada.

brancos: a rigor não existem, os comerciais é que lhes conferem existência.

a máxima segunda a qual um produto que tem um branco como garoto propaganda é indicativo de que este produto será bem recebido, só se justifica pela preguiça, pelo cansaço e pelo preconceito.

brancos são universais, jamais particulares.

para os brancos qualquer um que se afirme não-branco comete um crime de lesa humanidade, afinal todossomoshumanos.

tenho amigos brancos. são engraçados.

a branquitude dos brancos é cega.

brancos dizem: “você sabe com quem está falando?”.

é branca a mão em close up que passa ou insere o cartão de crédito. nas cartilhas de lógica consta: “sócrates é branco”.

brancos não aceitam ser coadjuvantes. pagam seus impostos e fazem questão de publicar isto.

se autoproclamam brancos, mas a contragosto (pois isso, afirmar uma identidade ainda que provisória, é coisa de não-brancos).


 Sobre Ronald Augusto

poeta, letrista e ensaísta. Formado em Filosofia pela UFRGS e mestrando em Teoria Literária na mesma instituição. Autor de, entre outros, Confissões Aplicadas (2004), Cair de Costas (2012), Decupagens Assim (2012), Empresto do Visitante (2013), Nem raro nem claro (2015), À Ipásia que o espera (2016) e A Contragosto do Solo (2021). Dá expediente no blog www.poesia-pau.blogspot.com