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Vergonha, Gerald!

Vergonha, Gerald!

 

James Joyce está hoje, 24 de abril,  em dois dos principais jornais do país. Na Folha, numa resenha do livro Companhia e outros textos, de Beckett (tradução de Ana Helena Souza), assinada por Gerald Thomas, – resenha, aliás, confusa que não avalia objetivamente o texto que comenta –, o famoso diretor, depois de discorrer sobre a partícula “on”, tratando-a fora do… contexto, como um fetiche semântico e sonoro, cita Joyce, errando duas vezes na grafia do título do seu romance-testamento: Finnegan’s Wake. Devia ter parado seu discurso pomposo e autorreferencial por aí… Como se sabe, o título é: Finnegans Wake, sem apóstrofo. “Finnegan’s Wake” com apóstrofo é o título da canção que teria inspirado Joyce. Quem sabe Gerald Thomas não quisesse falar da canção popular e não do romance de Joyce?

Como confiar nas opiniões de um crítico que não sabe escrever o título do romance que comenta? Ao citar Joyce numa resenha de um livro de Beckett, o diretor almeja elogiar o livro Panaroma (que contém excertos estrategicamente escolhidos de Finnegans Wake), dos irmãos Campos, considerando-o modelo de tradução. Ora, sem querer criticar os irmãos Campos, hoje se sabe que muitas das escolhas que fizeram nesse trabalho são “equivocadas” ou “inaceitáveis”, se é que se podem usar tais palavras em referência a essa e a outras traduções criativas. Por exemplo, só para voltar a uma partícula, os Campos transformaram o ômega de Joyce (“O”, mandala e ‘água’ em francês) em um coloquial “Ah”! Mas também não é por causa da escolha dessa partícula que iremos desmerecer a tradução dos Campos…

Já no Estadão, numa resenha do romance Mrs. Dalloway, de Virginia Woolf, o crítico Vinicius Jatobá considera Joyce um autor superestimado, que teria escrito uma obra soporífera, narcisista e hermética. Figura genial das letras é Katherine Mansfield. E Virginia Woolf, naturalmente, já que o texto do crítico se propõe a elevar a literatura de ambas rebaixando a de Joyce. Isso às vésperas do lançamento da nova tradução de Ulysses, assinada por Caetano Galindo. Como diria Beckett num dos textos de Companhia, pra frente o pior! Sérgio Medeiros e Dirce Waltrick do Amarante