Se Disney proibiu o selfie-stick é porque interpunha demasiada distância entre o eu e o eu. Para que o sistema se clone, o eu não deve colocar distância alguma entre o Vil Eu e o Vil Eu. Qualquer distância ameaça tornar-se crítica.
Esta época consiste em ocultar as verdades de Buda. Mesmo que o Budismo seja o ponto alto do pensamento terrícola, queremos alegar que esta flecha nunca nos feriu.
A literatura contemporânea é um passeio por parques de diversões. Nas literaturas experimentais, gringos veteranos como Burroughs e Acker já não seriam possíveis hoje em dia. O punk já está proibido. Ser escritor na Era Facebook significa Portar-se Bem: Like! Like! Like!
Quase tudo o que tem a ver com Milênio é detestável: foi desenhado pelas mídias. A tudo o que acontece reagem com uma referência ao mundo do espetáculo. Cada coisa que acontece no mundo lembra-lhes um filme ou um vídeo.
Na literatura norte-americana experimental o chamam de “pós-conceptualismo”. Na América Latina e na Espanha o chamam “Retorno da Crônica” ou “Autoficção”. Num caso e no outro são fugas do que realmente acontecia: a escritura como destruição do eu, eu e eu.
Selfie, Networking, Retro e Hipster são as palavras-chave da globcult atual.
Havia formas de escritura mais além do autor. Porém, a Morte do Autor foi substituída pelo Escritor enquanto Celebridade-Zumbi.
As literaturas do século XX chegaram a um ponto de não retorno e as literaturas iniciais do século XXI deram esse retorno. Vargas Llosa é o melhor avatar. Certa vez ele foi um autor do Boom, hoje ele é uma folha de rosto do Olá!.
O olho roxo de García Marques já o prefigurava: graças ao confessionalismo das redes sociais, todos seríamos Varguitas.
Não consta que haja alguma rede social que não queira ser ¡Hola! [Não sei o que possa ser]. A noção de “obra” morreu por combustão espontânea.
O produto literário passou a um terceiro plano. O importante é o “autor”. E o autor já é sua pura imagem.
O mais importante dos escritores/as atuais são suas fotografías. O livro é apenas o pre-texto. O assunto chave é seu nome, quer dizer, seu lugar é no networking. Das click: foto é tudo.
Estamos no primeiro momento da história da literatura em que não importa que o escritor produza obras. O primordial é que sua imagem seja popular ou – ao menos – pivotal em alguma rede literária virtual.
O relevante é que se venda bem na Amazon ou nas cadeias ou, no caso de @s escritor@s sem sucesso, protegidos/as por alguma instituição ou click cultural, que o que eles postam tenha certa relevância em sua rede de Perdedor@s Privilegiad@s.
Ninguém será Vargas Llosa. O próprio Vargas Llosa não conseguiu sê-lo. Porém, todos podem aspirar a ser uma semiestrela de um setor da Rede.
E a literatura? A literatura se converteu em um ramo da fotografia fantástica. A fotografia colonizou todas as mídias.
O Buda Punk foi apenas um sonho. Tire uma selfie.