CUIDADO: VEÍCULOS
1/ [o estacionamento]
se desobedecêssemos
ainda em círculo concêntrico
as zonas do parqueamento
e nos desorientássemos
motores ¦ músculos ¦ assentos
nos comboios dos passantes
e nas procriações da espécie
em vagos de estacionamento
ou nos viesse vagarosamente
a roda em volta das errâncias
desde a origem das distâncias
no ínvio andar das direções
(os descendentes dos fugados
mudados dentro das medulas
no acidental dos batimentos
e retumbados no descentro)
2/ [o acontecimento]
curássemos as máquinas
dos resíduos do arruamento
os carros-forte ¦ carros-leito
carros-bomba ¦ cargas-vivas
(e os pericarpos das carcaças
depois suspensas pela cauda)
e que nunca descuidasse-nos
o aceso insone dos sinais torrentes
como se a combustão interna
nos ressalvasse os porta-vidas
no quando nos atravessasse
o irrefreável do automóvel
que no depois ultrapassasse
toda barreira entre as espécies
e inoculasse-nos o aço ¦ o freio ¦ o polietileno
no ponto morto entre as membranas:
como se carros começassem a nascer-nos nas arcadas
e esses ossos de mandíbula absorvessem-nos o dente
DESCONHECIDO
[ANOTAÇÃO PARA A OTOBIOGRAFIA]
“quando eu finalmente alcancei
a minha idade de criança
me imaginava envelhecendo
sendo o homem-invisível
todo encoberto com crepúsculos
no mundo verde do ilocável
mas os meus gestos de autoria
atrás de mim – uns filamentos –
me denunciam a evidência
na superfície entreaberta
do mundo opaco, capa espessa,
e fazem caudas (…)”
O DESCONHECIDO
[UM COMEÇO DE AUTOBIOGRAFIA]
um sobreaviso de animal antigo
no espaço curvo da cozinha. todavia,
no ar impróprio a mão sustinha
a colherinha de anti-ácido – esquecia
-se ali da louça seca e movediça
em sobrepeso sobre a pia, mas havia
a onda gravitacional: o cinturão
de kuiper: a escuridão: o mal da azia
e toda espécie de criaturas vivas
crescendo dentes em uma lua alheia:
mas não convém nos demorarmos
nos horizontes desse evento
DESCONHECIDOS
[DA ORDEM DOS FENÔMENOS]
(x)
esse copo de café (paralisado)
demasiado arremessado sobre a mesa
cemitério de açúcares ao leite
descido desde as próprias ribanceiras
o copo rodeado pelos dentros
o nó dos dedos tamborila sobre o tampo
um toque lento entre a louça entreaberta
em mesa posta para o espírito do escasso
ou para o plasma que tocasse os relentos
( )
(y)
copo consumido em extremos
desde os lados do além até um centro
que é de ilhas diluídas e defesa
contra os lados de uns vidros acuados
pelos pesos de seu muito peso líquido
mas chega ausente e (és pó) desalimenta
na desmesura do que nunca se condensa
nem ossa um sopro de conviva no espaço
e a mesa volta ao cedro íntimo e silêncios
(na noite inútil irrespirada pelos ventos)
TERRÁBILE
[DE UM NEOLOGISMO LIDO EM MURILO MENDES]
um rio irremovível erra
irrompendo nas terrinas
repletas de terror amaro
o barral ruim das minas
(uma descarga de toxina
– o arsênio e o mercúrio
o chumbo e o alumínio –
na armadilha do fundão)
obriga as criaturas tenras
a desabar suas membranas
no areal – remotamente –
onde morrentes silenciam
em 1 minuto de sirenes