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Poemas

aquí se esculpe con los ojos oídos
ojalá las imágenes se basten a sí mismas
pero lo que dicen es y debe ser
otra cosa

del dueño amando hasta el olor de los billetes
se los refriega por la trompa y los párpados como un artista las teorías
en boga nada malo si mantuviera los ojos semiabiertos y la nariz
parcialmente despejada
como este día en el puerto un buque

de carga se agranda conforme pierde definición
la tarde y trae a dos mil asilados

esto se trata de dos amigos que conversan de otra cosa
mientras gozan las imágenes que trafican    láminas del álbum
de fútbol o monitos que incluyen la faltante para completarlo
fotos del fin de semana en la playa    de un cumpleaños familiar
si no olvidable    de exnovias que renuevan su ricura
desde el paso del tiempo y bajo el humo del asado o del cigarro
del catálogo de autos que jamás podrán comprar    de pin ups
u otras bagatelas del recuerdo
y el recuerdo puede ser instantáneo

esto también puede tratarse de una madre y un hijo
o uno solo de los amigos conversándose en voz baja
mientras las imágenes se le traspapelan    echado en y de un hotel
de la ciudad donde vivió toda su vida

aqui se esculpe com os olhos ouvidos
tomara que as imagens  bastem a si mesmas
mas o que dizem é e deve ser
outra coisa

do dono amando até o odor das notas
se as esfrega pela trompa e pálpebras como um artista as teorias
em voga nada mal se mantivesse os olhos semiabiertos e o nariz
parcialmente livre
como este dia no porto um navio

de carga se engrandece conforme a tarde perde definição
e atrai dois mil exilados

isto trata-se de dois amigos que conversam outra coisa
enquanto gozam as imagens que traficam cromos do álbum
de futebol ou mascotes que incluem o que falta para completá-lo
fotos do fim de semana na praia    de um aniversário familiar
se não esquecível    de ex-namoradas que se renovam tesudas
a passagem do tempo e sob a fumaça da carne assada ou do cigarro
do catálogo de automóveis que jamais poderão comprar    de pin ups
e outras bagatelas de lembrança
e a lembrança pode ser instantânea

isto também pode tratar-se de uma mãe e um filho
ou um só dos amigos conversando consigo em voz baixa 
enquanto as imagens se perdem    largado por um hotel
da cidade onde viveu toda a sua vida

por capas el mar va poniendo en el sol
el recuerdo del recuerdo de la luz
sábanas que descorren la leche derramada en el braceo
y una nueva oportunidad para entenderse en pares trae la noche
que toca a los actores secundarios

adónde miran los protagonistas    confluirán sus aguas
servidas de café o té verde
en algo como el mar   sal de los ojos
sal de quien mira atrás
las sábanas la leche o por la tarde
por capas la pintura va poniendo en la tela
el recuerdo del recuerdo de la ola

luz derramada de interrogatorio
qué nos quiere decir el retratado si ahora mira como no podría
una quietud inquieta
le inquieta acaso hueso o solo humus
cuando contempla inapetente
la arena que no está en las córneas de quienes lo indagamos
aprieta el pecho y se parece al hambre
en un idioma que no habla    el castellano se refugia
en un castillo y castra

          el color es la costra o su accidente
braceando los actores secundarios
una piscina roja con los muros marrones
    el nácar raspa un hueso día que al sanar la carne oculta
como su mano sobre el pecho
nada en la tela que respira
mano distinta sin tomarla
entre las nuestras ni juntarnos
en la playa por un café por el té de las cinco

em capas o mar vai pondo no sol
a lembrança da lembrança da luz
lencóis que correm o leite derramado no bracejo
e uma nova oportunidade para entender-se em pares atrai a noite
que toca aos atores secundários

onde olham os protagonistas confluirão suas águas servidas de café ou chá verde
em algo como o mar  sal dos olhos sal de quem olha atrás
os lençóis o leite ou pela tarde
em capas a pintura vai pondo na tela lembrança da lembrança da onda

luz derramada de interrogatório
que quer nos dizer o retratado
se agora olha como não poderia
uma quietude inquieta
ou inquieta por acaso osso ou só humus
quando contempla inapetente
a areia que não está nas córneas de quem indagamos
aperta o peito e parece fome
num idioma que não fala    o castelhano se refugia
num castelo e castra
                    a cor é a crosta ou seu acidente
bracejando os atores secundários
uma piscina vermelha com muros marrons
    o nácar raspa um osso dia que ao sanar a carne oculta
como sua mão sobre o peito
nada na tela que respira
mão distinta sem tomá-la
entre as nossas nem juntar-nos
na praia para um café para o chá das cinco

esa mano en el pecho de la tela
que no damos ni nos busca

essa mão no peito da tela
que não damos nem nos procura

uno elige una mano que atrapa un pájaro
el pájaro es uno

um elege uma mão que pega um pássaro
o pájaro é um

para la gentrificación del cielo
fue cosa de pagar el boleto de avión    comprar
la mirada de un dios compelido a dejar su barrio

de negros pájaros embalsamados sobre un pequeño croquis de oficinas
en el que eres un punto    elongas en piyama y lo eleva el viento    ríes y cuando ríes
cuelgas el cielo como sábana
el cielo que no vuela pues no paga el boleto y yo

miro el país entero desde arriba    un escote
cuyo pezón asoma y tal vez ni sea el enemigo
pulula dentro de luces continuas
calles    o discontinues    llegas prendes apagas vuelves
a salir  la ciudad una placa madre    de amor partió la tuya bajo un árbol
esa cuestión verde con conectores que del computador no sale
como otra oficinista de su casa si está oscuro    lo verde es lo oscuro es el campo los conectores focos discontinuos    llegas prendes apagas vuelves
a salir  la batería y el ventilador son estadios allí detrás del ala
bloques de apartamentos las ranuras    nubosidad parcial y
cómo dejar de esperanzarse por no sufrir desilusiones
si son inevitables
   las nubes cuando abajo tantas hojas
agarraban al vuelo tu padre con tu hermano
revolcándose en el montón de secas

la madre entraba lluvia corriendo entre las sábanas
los ves de frente             y como ellos    ríes

para a gentrificação do céu
foi coisa de pagar o boleto do avião    comprar
a vista de um deus compelido a deixar seu bairro 

de pássaros negros embalsamados sobre um pequeno croquis de oficinas
nesse que é um ponto    estira-se em pijama e o vento o eleva        ri e quando ri pendura o céu como lençol
o céu que não voa pois não paga o boleto e eu

vejo o país inteiro de cima    um decote
cujo mamilo assoma e talvez nem seja o inimigo
pulula dentro de luzes contínuas
ruas    ou discontínuas    chega prende apaga volta
a sair    a cidade uma placa mãe    de amor partiu a tua sob uma árvore
essa questão verde com conectores que do computador não sai  
como outra secretária de sua casa se está escuro    o verde é o escuro é o campo
os conectores focos discontínuos    chega prende apaga volta
a sair   a bateria e o ventilador são estádios alí atrás da ala
blocos de apartamentos as ranhuras    nebulosidade parcial e
como deixar de esperançar-se para não sofrer desilusões
se são inevitáveis
   as nuvens quando debaixo de tantas folhas
agarravam ao voo teu pai com teu irmão
torcendo-se no montão de secas

a mãe entrava chuva correndo entre os lencóis
os vê de frente     e como eles    ri

nada es gratis y nada tiene precio
nos susurra el avance en efectivo
nada abandona nuestras manos cuando
pagamos con tarjeta y recibimos
de yapa un comprobante no se pierde
una sola moneda del bolsillo
ni menos un billete si compramos
la oferta comercial de tanto chino
hasta se multiplica sin esfuerzo
en bolsas de valores y el rocío
moja nuestra fortuna sin aguarla
mientras no llegue el día del recibo
de las cuotas impagas y nos quiten

nada é grátis e nada tem um preço                           
sussurra-nos em dinheiro adiantado
nada abandona nossas mãos quando
pagamos com cartão e recebemos
de bônus um comprovante não perde           
uma só moeda dentro do bolso                                            
nem sequer uma nota se compramos            
a oferta comercial tanto chinês                     
até se multiplica sem esforço
em bolsas de valores e o orvalho
molha nossa fortuna sem aguá-la
enquanto não vem o dia do recibo                
das quotas não pagas e nos quitem

Tradução: Virna Teixeira


 Sobre Enrique Winter

(Santiago, 1982) É autor, em poesia, de Atar las naves (prêmio Festival de Todas las Artes Víctor Jara), Rascacielos, Guía de despacho (prêmio Concurso Nacional de Poesía y Cuento Joven) e, ao lado de Gonzalo Planet, do álbum Agua en polvo (prêmio Fondo para el Fomento de la Música Nacional) –reunidos em Primer movimiento e republicados nos livros Código civil y Oben das Meer unten der Himmel–, e de Sign Tongue (prêmio Goodmorning Menagerie Chapbook-in-Translation), a ser lançado em muito breve sob o título Lengua de señas (prêmio Concurso Nacional de Poesía Pablo de Rokha), além de autor do romance Las bolsas de basura, já publicado em 2015. Traduziu Charles Bernstein para o espanhol e publicou as traduções em livros que mudam de título e número de páginas conforme o país de publicação: Blanco inmóvil, Abuso de sustancias y Grandes éxitos, lançadas no Chile, no México e no Equador, e –junto com Bruno Cuneo e Cristóbal Joannon– Decepciones do inglês Philip Larkin. É também mestre em escrita criativa pela New York University (NYU). Trabalhou como editor nas Ediciones del Temple e foi advogado da Câmara dos Deputados do Chile.