Nota oficial do Teatro Regio di Torino
O Teatro Regio di Torino quase certamente cancelará a temporada 2020/21, ação provavelmente seguida nas próximas semanas por outros teatros, ópera etc, em todo o território nacional; e é claro que estamos falando dos cinemas que tentaram reabrir após o fechamento, porque muitos nem mesmo reabriram suas portas. O caso do Regio di torino é interessante por se tratar de um teatro com quase 1.600 lugares, mas que se impôs o limite máximo de 200 espectadores, incompatível com a sustentabilidade econômica de uma produção de ópera ou balé. Os mais assustados com a epidemia de Covid-19, dirão “paciência”. Afinal, “os cuidados de saúde e a proteção da vida humana são muito mais importantes”.
O fechamento dos teatros corre o risco de ser o “badalar do sino” anunciando uma crise social sem precedentes e da qual a epidemia pode ser apenas um gatilho. O que se vislumbra? Vislumbra-se a morte da cultura: do encerramento dos cinemas à terrível crise editorial, do colapso do turismo (é claro, com seus aspectos deteriorados e padronizados, mas uma expressão para muitos de um desejo autêntico de cultura e conhecimento) à decadência de um debate público, a morte do intelectual em nome da informação grosseira e tendenciosa. A morte da cultura será um problema maior do que a própria pandemia. Um grande organismo social sobrevivente, mas descerebrado, um homo oeconomicus, sem qualquer senso crítico.
Já ouvimos vozes afirmando que “não haverá cultura se não sobrevivermos à pandemia”. Obviamente sobreviveremos à Covid-19. Com muitas vítimas. Nunca esqueçamos que só em 2019 morreram quase 650 mil pessoas na Itália. Mas se a cultura morrer, sobreviveremos à Covid, mas nos limitaremos, literalmente, a sobreviver, entregando aos nossos filhos um mundo desertificado muito pior do que o que recebemos. E, dessa morte da cultura, a morte do teatro parecer ser o anúncio fúnebre. Não esqueçamos dos versos de Pier Paolo Pasolini, naquela extraordinária obra teatral Affabolazione, encenada primeiro no Cabaret Voltaire de Torino em 1975: “l’uomo si è accorto della realtà solo quando l’ha rappresentata. E niente meglio del teatro ha mai potuto rappresentarla”.
