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A miséria da riqueza

  1. Uma epifania

 

               Em uma pequena grande epifania numa esquina de sol, tive a revelação de que, se para se comer uma única vez uma mísera coxinha de frango num boteco de merda, gera-se tanto lixo inorgânico quanto a soma de um prato de plástico, várias embalagens semivazias de sachês de plástico de ketchup, um pote de plástico de sachês, uma garrafa de plástico de 200 ml e um ou dois canudinhos de plástico em embalagens plásticas individuais, fodeu. É preciso, portanto, destruir o capitalismo.

               Não por uma questão ideológica, mas lógica: ou se destrói o capitalismo ou o capitalismo destruirá a civilização.

               O capital é uma “divindade”, creio que Marx o disse. Ou coisa parecida. É preciso destruir também, então, o culto aos deuses. É preciso, portanto, resgatar o marxismo. Ou seria, se o marxismo não fosse outra crença, a da eterna e inexorável luta de classes. É preciso, afinal, resgatar o combate ao capitalismo sem o marxismo. Por exemplo, com o anarquismo. E se não de fato com ele, que era afinal mais uma (apesar de bela) ideologia (a da autogestão pacífica da sociedade entregue a si mesma), talvez com seus métodos.

               Eles não serviram ao próprio anarquismo, combatido até a morte, por motivos diferentes, por uma aliança entre direita e esquerda (ameaçava uma, concorria com a outra pelos “corações e mentes” da Revolução). Antes disso, teve tempo para que seus métodos evoluíssem do assassinato de reis, acreditando assim começar a matar a monarquia, ou da explosão de bolsas de valores para implodir os valores levados nos bolsos dos capitalistas, no século XIX, até a formação de grandes forças militares no século XX, como o Exército Negro de Néstor Makhno na Guerra Civil russa (que lutou ao lado do Exército Vermelho de Trótsky até este traí-lo e destruí-lo), ou a famosa e vitoriosa Coluna Durrutti da guerra civil espanhola, vencedora de muitas batalhas contra os fascistas até ser traída e destruída pelos comunistas a mando de Stálin. Ao menos alguns dos seus métodos, apesar de tudo, deveriam ser resuscitados, para poder servir ao ambientalismo, cujo maior inimigo é o mesmo capitalismo. Porque talvez somente tais métodos o possam.

               Porque é mais ambientalmente produtivo, em vez de discutir canudinhos recicláveis (ou talvez reutilizáveis), arrombar as portas dos parlamentos e obrigar os parlamentares a proibir a produção de canudinhos (como se proibiu a propaganda de cigarros). Pois o ambientalismo não é um projeto de poder (daí não querer ou dever querer sugar o governo representativo para fora da taça amarga da história). Mesmo porque, tampouco é uma ideologia a mais (o mundo está tão poluído de ideologias quanto de canudinhos), mas um diagnóstico e um prognóstico, apesar de sem prescrição de cura. Prescrevo-a eu: o ambientalismo será revolucionário ou não será.

               Na verdade, duplamente revolucionário. Pois terá, quando afinal se der conta de que o terá, de usar métodos revolucionários, não para tomar o poder, mas para transformar o poder. Revolucionando a reforma e reformando a revolução. Ou ir catar canudinhos. A imensurável mediocridade política atual do ambientalismo só pode ser superada pela grandeza política futura do ambientalismo. Ou do ambientalismo futuro. Ou do futuro ambientalista.

               Hoje, apenas uma forma de vida, entre milhões, é plenamente poupada, enquanto as demais vão sendo ameaçadas, para que a única forma de vida poupada não se poupe de poder usar canudinhos.[2]2

                Antidestruidores de todo o mundo, à destruição! Destruam o poder dos destruidores. Vocês têm muito a perder além de canudinhos. Mas talvez possam ganhar um futuro.

 

  1. A “Primeira lei da ambiótica”

 

                    O fim do ambientalismo-canudinho (e, portanto, do capitalismo idem) trará, idealmente, destruição e dor, porque a limitação da indústria de plásticos (entra inúmeras outras), imposta revolucionariamente, e não aos golinhos, trará (ao menos num primeiro momento) desemprego e pobreza. Mas a manutenção do capitalismo-canudinho, ainda que os canudinhos em si sejam, afinal, reutilizáveis (ou recicláveis), pelo imenso consumo de imensuráveis insumos, energia industrial, embalagens, armazenamento, transporte, distribuição etc., não trará nada além de dor, destruição e canudinhos recicláveis (ou reutilizáveis).

               Para cunhar uma frase (a moeda de troca do comércio de ideias), “situações extraordinárias impõem soluções extraordinárias”. Ou bem menos ordinárias que soluções ralas sorvíveis em canudinhos. Neste caso, a primeira coisa a fazer é começar a pensar pelo avesso, considerando o que não pode ser feito. Todo o resto é, portanto, permitido.

               Logo se chega ao limite máximo moral da ação revolucionária ambientalmente correta. Pois ele está, desde sempre, demarcado pela “regra de ouro” da civilidade: “Não faça a ninguém o que não quer que alguém faça a você”. A “regra de ouro” joga na lama da moral incivilizada e no lodo das ideias indesculpáveis toda a discussão de merda e sangue sobre as relações entre meios e fins. Pois ela ilumina e elimina as opções sequer relacionáveis, porque inaceitáveis pela própria “regra de ouro”. Os fins se justificam por si mesmos, ou não seriam justificáveis. Os meios se justificam ao obedecerem à “regra de ouro” – que não tem este nome por acaso.

               Tampouco por acaso, ela é um perfeito equivalente moral da “Primeira lei da robótica” de Isaac Asimov: “Um robô não pode ferir um ser humano ou, por omissão, permitir que um humano seja ferido”. Basta substituir “robô” por “humano” e “ambiente natural”, e as duas “regras douradas” se tornam fundíveis como a melhor e mais valiosa liga metálica: “Um humano não pode fazer a outro humano nada que este não queira, nem ferir o ambiente natural ou, por omissão, permitir que um humano ou o ambiente natural sejam feridos” – a chamada (por mim) “Primeira lei da ambiótica”.

               Resta apenas acrescentar a “regra da legitimidade” de John Locke (1632-1704), um dos principais teóricos do moderno governo representativo: “Se um governo subverte os fins para os quais foi criado, e se ofende [assim] a lei natural, então pode ser deposto” (a “lei natural” afirma direitos igualmente “naturais”, como à vida e à liberdade). Um governo legal se torna, então, ilegítimo, ao não cumprir “os fins para os quais foi criado”. Um governo, um Estado, um sistema. Desde que tal Estado albergue um tal governo, que por sua vez sustente um tal sistema. Se ele pode ser deposto, segundo a melhor teoria política moderna, e se deve sê-lo, segundo a melhor lei moral de todos os tempos (a mesma “regra de ouro”, pois um tal governo a desrespeita, ao “ofender a lei natural”, que parte da proteção à vida), então ele só não será deposto por hesitação, confusão, fraqueza, hipocrisia, covardia ou a mistura tóxica de todos eles por quem deveria fazê-lo. Por exemplo, os ambientalistas-canudinho.

               Os ambientalistas revolucionários, por outro lado, devem olhar para o passado como quem olha para o futuro, e resgatar tudo o que os ex-futuros das velhas utopias recém-mortas perderam. Resgatar o ludismo, e destruir, por exemplo, resgatando também o anarquismo, as linhas de montagem robotizadas de carros movidos a combustível fóssil. Em seguida, as linhas de montagem robotizadas de robôs de linhas de produção. Sem ferir ninguém, a começar da “Primeira lei da ambiótica”.

 

  1. Ambientalismo ambiótico

 

               A reforma não revolucionária do capitalismo é uma mentira irreformável. O capitalismo é o capitalismo de consumo. E o capitalismo consumirá o mundo (ao menos, o mundo como o conhecemos), pois não há outro mundo preso ao nosso por uma grossa corda cósmica, de onde retirar novos recursos. Como disse o grande economista Antoine Lavoisier, “na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. Daí o capitalismo jamais produzir nada. Mas transformar tudo (mesmo os chamados “novos materiais” não são novos em sua matéria básica). Toda indústria é uma indústria de transformação. Ou de montagem de peças produzidas por indústrias de transformação. E o produto final, verdadeiramente acabado, é lixo. Nada se perde. Para o futuro não ser também perdido, o presente tem de morrer. E para o presente morrer, tem de ser morto. Mas não a golpes de canudinhos.

               O caminho é um garfo de ferro de dois dentes: um para construir, outro para destruir. Um para construir os novos códigos de leis que imponham ao capitalismo a amputação de sua liberdade ambienticida, outro para destruir os instrumentos de amputação da liberdade de existir do que não foi criado pelo homem (nem pela mulher; mas me permito não comprometer o estilo pelo corretismo político), e que, portanto, não lhe pertence. Tampouco criado para o homem, apesar do Livro do Gênesis: tudo o que existe, fora o que existe pelas mãos do homem, foi criado antes dele. Apenas a sua destruição lhe pertence. E como uma arma nas mãos de um assassino em série, deve ser dele arrancada. A defesa de um terceiro em risco de vida é uma forma de legítima defesa (segundo a maioria dos códigos penais). E a omissão, uma forma de cumplicidade com assassinato (idem). Assim como a tolerância com a intolerância é uma forma de intolerância – pois a preserva. A verdadeira tolerância é a intolerância com a intolerância. Tentar preservar a vida sem matar o poder de quem a destrói é uma forma de não preservá-la. A verdadeira preservação é a extinção da extinção.[3]3

               Como, então, se defender de assassinos de (bio)massa com novos canudinhos? Apenas se os novos canudos forem o cano de uma arma.

               A “Primeira lei da ambiótica” e a legitimidade da ilegimitidade de Locke (que amplia ao limite o poder político do poder político), fundidas e confundidas, eliminam o terrorismo como um meio para um fim qualquer, ou para qualquer fim, desde que não se deixe o gordo engodo do relativismo moral do capitalismo confundir as coisas. Ou seja, confundir coisas com humanos. Pois apenas humanos e outras vidas, além de coisas não-humanas não pertencentes ao ambiente criado por humanos, são objetos legítimos da “lei da ambiótica”. As coisas humanas estão, portanto, fora da lei. E podem, então, ser atacadas e destruídas. Na verdade, devem ser atacadas e destruídas, se sua existência e sua ação contrariarem a lei, e sua destruição, não.

               O terrorismo é, portanto, uma arma legal (dentro do marco legal aqui delineado pela “lei da ambiótica” & pelo corolário de Locke), além de legítima e necessária, para que o ambientalismo-canudinho seja substituído pelo ambientalismo revolucionário, ambientalismo ambiótico ou ambientalismo de combate. Ou seja, para o ressurgimento do futuro, que é o futuro pelo qual se lutar. Desde que se trate de um terror que faça o sangue humano correr e escorrer apenas das faces empalidecidas dos acionistas para suas vísceras congestionadas de raiva, frustração e dúvida (à diferença do Terror da Revolução Francesa, do terror dos totalitarismos de esquerda e direita, dos fanáticos religiosos e dos ambientalistas retaguardistas).[4]4

               O ambientalismo do futuro (em mais de um sentido) tem de fortalecer ao máximo o poder político, ou da política, e enfraquecer o quanto necessário o poder econômico (e apenas o inevitável a própria economia). Tomar para si a moderna razão de ser do governo representativo, ou seja, da maioria. E amputar o poder econômico da minoria. O ambientalismo tem ser um anticapitalismo ou não ser nada. Mas não para reduzir o capitalismo a nada, como no totalitarismo de esquerda.

 

  1. A miséria da riqueza

 

               O único sistema econômico da história comprovadamente capaz de produzir riqueza que mereça o nome é o capitalismo (que o diga a China “comunista”). Mas isso apenas se os capitalistas puderem gerar a própria riqueza, de que a riqueza geral deriva e depende. E seu lucro vem das vendas (tomando a parte principal pelo todo, que inclui ainda o aluguel de dinheiro – empréstimos –, investimentos vários etc.). E as vendas, da produção e do consumo, logo, da produção de bens, serviços e consumidores. A crônica e insuperável pobreza econômica do “socialismo” (que o diga a Coreia do Norte) não veio da limitação dos capitalistas poderem gerar lucro e riqueza, mas da eliminação do próprio capitalismo. A mera diminuição da geração de lucros não eliminaria os capitalistas (ou o capitalismo). Eles querem muito, e, no limite, tudo (daí os monopólios): por isso mesmo, preferem menos a nada, se menos for tudo o que puderem obter. Daí o capitalismo “distributivista” da social-democracia (ou “social-capitalismo”) escandinava. Ali são os altíssimos impostos que reduzem as fortunas dos milionários e, portanto, a milionária produção de milionários. Nem por isso o capitalismo desertou da Europa do Norte. O ambientalismo tem de se impor e impor o capitalismo ambiental – que não é o duende verde do capitalismo idem, mas, como as novas formas de energia, um “capitalismo alternativo”. Porém, ao contrário da desejada superabundância de energias alternativas, trata-se de conquistar um capitalismo limitado por leis restritivas da produção, assim como as leis social-democratas restringem a acumulação.

               Portanto: “Nem tudo que pode ser produzido e vendido o será” (“Segunda lei da ambiótica”). Incluindo a devastação ambiental, a poluição mundial e o aquecimento global. Porque o ambientalismo revolucionário é um humanismo (que corre, assim, o risco de salvar o próprio capitalismo, ao salvar o consumismo – além de salvar o consumismo de seu próprio descontrole, salvando o capitalismo, o consumismo e o futuro).

               Além de leis restritivas à produção, também existirão (aliás, muito poucas já existem) as restritivas ao consumo, por mais de uma razão.

 

Um imposto criado em 2017 pela cidade americana da Filadélfia sobre bebidas açucaradas e adoçadas reduziu as vendas em 38%, de acordo com um dos primeiros estudos para avaliar os efeitos dos novos tributos. Entre 2016 e 2017, as vendas médias caíram à metade em volume, segundo este estudo realizado com base em dados de caixas de comércios e publicado nesta terça no Jornal da Academia Americana de Medicina. […] “Tributar as bebidas açucaradas é uma das estratégias mais eficazes para reduzir o consumo, e acho que esta política de saúde pública é óbvia”, declarou [Christina Roberto, professora de política de saúde da Universidade da Pensilvânia].[5]5

 

               Pois crianças não podem escolher livremente o que comer, por questões nutricionais, de segurança etc., o que inclui não apenas alergias, mas também produtos que elevam a incidência de doenças, como demonstrado dramaticamente por Morgan Spurlok no documentário Super Size Me (2004), em que o cineasta emerge obeso e com grandes problemas metabólicos depois de passar um mês comendo apenas do cardápio do McDonald’s, adultos podem e devem podê-lo. Ainda assim, Spurlok talvez tivesse ficado um pouco menos doente se filmasse na Filadélfia.

               Imposto se relaciona a imposição. Ninguém gosta de impostos. O ambientalismo revolucionário, se suportasse a previsível reação por tempo suficiente, levaria possível ou provavelmente os capitalistas, ou parte importante deles, a se tormarem seus aliados, sob o lema “perder o colar para preservar o pescoço”. Pois como os capitalistas são os que mais entendem do assunto, começariam naturalmente a pensar sobre o tema de menos produção e menos consumo sem destruição do sistema, para escapar da crescente ameaça à produção, ao consumo e ao sistema pelos ambientalistas revolucionários, além de assumir parte do controle da implementação das mudanças, em vez de correr o risco de o processo revolucionário ficar todo na mão dos revolucionários. Foi, mutatis mutandis, o que aconteceu na mesma Suécia nos anos 1930, aprofundando um processo que vinha desde o início do século, sob comando do maior partido do país, o Social-Democrata: entre a pressão à esquerda do movimento operário organizado e a pressão à direita da burguesia, no contexto da crise econômica e do crescimento de ambas as tendências no continente europeu, decidiu-se escapar da pressão em pinça e criar uma terceira via. Nem os operários teriam a Revolução, nem a burguesia teria a acumulação ilimitada de capital. O Estado, alimentado por altíssimos impostos sobre esse mesmo capital, proveria condições dignas a toda a população. O resultado é conhecido.

               Mas, talvez, nem tanto. Pois sempre se tratará de um equilíbrio frágil.

 

  1. Capitalismo de baixa fermentação

 

               Capitalismo sem crescimento é capitalismo em crise. Porque não existe capitalismo em equilíbrio, ainda que instável, como o de uma bicicleta. Trata-se, na verdade, de uma montanha russa. Porque há necessidade de investir para produzir, o que gera produtos, venda e lucro, e reinvestir o lucro para aumentar a produção e a produtividade, o que diminui o custo individual do produto e o preço, para concorrer com a concorrência e reequilibrar a margem de lucro, pela aumento da oferta, a diminuição do preço do produto e o crescimento da venda, que reequilibra a margem de lucro e de investimento, para concorrer com a concorrência. Até que o aumento da produção e da produtividade produz excesso de oferta e faz desabar o preço do produto e o lucro, produzindo, por fim, uma crise. Alguma coisa assim. Enfim: capitalismo em crescimento é capitalismo em produção de crise. Capitalismo em decrescimento é capitalismo em crise crescente. Capitalismo em crise é capitalismo em busca de recuperação e superação da produção e do consumo pré-crise. Capitalismo em crescimento é capitalismo.

               A revolução ambiental do capitalismo, que exigirá a proibição da produção de inúmeros itens (por exemplo, plásticos, não importa se recicláveis, porque demandará o fim da exploração de petróleo), romperia elos da cadeia produtiva e ainda teria de encadear controles do crescimento da produção dos itens permitidos. Nem o pesadelo da mão pesada do controle estatal do totalitarismo de esquerda, nem o sonho da mão invisível do mercado cavando visivelmente a próxima crise, tampouco a mão hipertrófica da burocracia hipertrofiando controles e regulações resolveriam o problema, que exige uma reforma revolucionária do capitalismo e, portanto, uma revolução reformista do pensamento e da prática da produção capitalista, para por fim criar o capitalismo alternativo. Parafraseando Kennedy, se fosse fácil, não seria difícil. Mas afinal se foi até a lua.

               Portanto, objetivos alcançáveis, porque do campo do possível, à diferença de uma viagem a Asgard, só não são alcançados porque não são alcançados. Como diz um velho ditado árabe (os ditados, ao que parece, já nascem velhos, árabes ou não): “Se você quer realmente fazer alguma coisa, arranja um jeito; se não quer, arranja uma desculpa”. O fracasso já sexagenário do ambientalismo-canudinho é indesculpável. E insuporável por mais tempo (pois não há mais tempo).

               Há algumas “iniciativas” para coibir a propaganda de refrigerantes para o público infantil (e também de outros alimentos industrializados; mas não de toda a propaganda para esse público, a grande tutora do futuro grande consumo), enquanto a Europa deve logo banir os largos canos de escape dos carros a combustível fóssil, ao banir os próprios. Mas muito pouca coisa se move, ou muita coisa se move muito vagarosamente nessa direção nos EUA, na Rússia, no Brasil… Enquanto muitas outras coisas se movem rápido em sentido contrário, como a incorporação, nas próximas décadas (capitalismo em crescimento é capitalismo), de mais de um bilhão de chineses e indianos à sociedade de consumo mundial, seguidos de outras centenas de milhões de africanos.

               Em todo caso, hoje o que de fato mais se move e comove é a busca por energias alternativas aos combustíveis fósseis, para desaquecer o aquecimento global. Mas nada é feito para desaquecer a economia global. Ou pouco menos que nada.

               O antigo luxo extravagante da indumentária da nobreza europeia em épocas em que seus povos  vestiam andrajos era movido, também, pela propaganda; um elaborado cartaz, contendo apenas duas palavras: “Eu posso”. Tratava-se, acima de tudo, de poder. E de afirmá-lo. Daí os novos ricos (literalmente) da grande burguesia mercantilista do século XVII logo passarem a imitá-la. Mas assim que os não-tão-ricos e os que ascenderam muito e muito rápido vindo de muito baixo também o conseguem, muda-se tudo, para tudo ficar em seu devido lugar. O pretinho básico se torna um “luxo” maior do que o maior colar de ouro. Essa regra é hoje uma das impulsionadoras do movimento “pretinho básico” anticonsumista “less is more”, “menos é mais” (e de sua variação, “just enough”, “apenas o suficiente”). “Além de alguns adeptos sinceros, o economista Phillipe Moati, da universidade Paris-Diderot, […] comenta que a filosofia minimalista também pode esconder uma espécie de esnobismo. ‘Há quem adote esse modo de vida apenas para se distinguir em uma sociedade de abundância, onde a acumulação de objetos não significa mais pertencer a uma classe social dominante’”.[6]6 O lema dominante, imperioso como um grito de guerra, continua a ser “more is more”. Ou “more and more”. Daí se fazer de tudo para reaquecer a economia, quando, apesar de tudo, ela não se mantêm aquecida ou não se reaquece “por si mesma”. Uma nova era glacial poderia atingir o planeta, e ainda assim ele seria desertificado pelo permanente aquecimento econômico, apesar dos intermitentes invernos de crise.

               Obviamente, o crescimento será interrompido com ou sem o ambientalismo revolucionário. Não é uma questão de economia ou política, mas de matemática. No século XIX, Malthus errou em sua previsão, matematicamente apoiada, de uma fome mundial iminente, pela constatação do crescimento em PG (progressão geométrica) da população e em PA (progressão aritmética) da produção agrícola. Mas ele não podia prever a “revolução verde” (nem a ironia do nome), o aumento exponencial da produção agroindustrial no século XX, a partir de novas técnicas e tecnologias, como novos adubos, pesticidas, mecanização etc. Muitos citam o erro de Malthus como prova de que, no fim, tudo dará certo. A tecnologia sempre nos salvará. O problema é que alguns “salvamentos” levam a outros e maiores perigos – como no próprio caso do problema de Malthus: “Simplesmente não é sustentável. Nós não teríamos alternativa senão parar. A Terra não possui água nem superfície suficientes; não temos planeta suficiente para continuar nesse caminho [agroindustrial]”. Quem o diz é Shir Friedman, da empresa israelense SuperMeat, uma dos líderes das pesquisas da nova alternativa tecnológica para o novo problema “pós-malthusiano” do crescimento exponencial da produção, da poluição, do aquecimento e das extinções: a carne artificial. Pois ela requer, segundo o próprio, “uma quantidade gritante de energia”. Não tão gritante, em todo caso, quanto o corolário: de um modo ou de outro, a produção parará de crescer. Seja a de carne natural ou a de carne artificial, se esta um dia se tornar dominante. Resta saber se isso se dará de forma racional ou catastrófica (seja pela catástrofe ambiental ou pela catástrofe econômica de uma grande crise mundial). Cabe aos ambientalistas liderarem a escolha. Ou escolher ser um arauto do fim do mundo agitando um velho cartaz na esquina ruidosa do caos.

              

  1. O possível realismo do impossível

 

Desde o início do século 19, com a Revolução Industrial, a técnica sofreu uma abrupta mudança em sua natureza. De meio de garantir a sobrevivência humana, foi acoplada a um projeto capitalista que em pouco tempo — 200 anos — […] transformou o planeta a tal ponto que ele não só está irreconhecível, como à beira do colapso. […] Aparentemente, a marcha incontornável da humanidade em direção ao precipício (em regimes capitalistas puros, nos de capitalismo de Estado e nos que tentaram, de modo infeliz, a ditadura dos partidos comunistas) não pode ser alterada sem um levante de uma população que, lamentavelmente, parece cada vez mais fascinada pelo mundo da técnica e dos gadgets. […] Walter Benjamin, criticando o modelo de progresso incorporado inclusive pelo marxismo, anotou: “Marx afirma que as revoluções são as locomotivas da história. Mas talvez isso seja totalmente diferente. Talvez as revoluções sejam o freio de emergência da humanidade que viaja neste trem”. […] A entropia ecológica e a social caminham de mãos dadas e devem ser combatidas juntas. […] Como escreve [o filósofo Thomas] Jonas: “A euforia do sonho fáustico se dissipou e nós despertamos sob a luz diurna e fria do medo”. A resposta a esse medo não deve ser o pânico, mas a ativação de uma nova ética, que inclua pela primeira vez a natureza.[7]7

 

               Talvez aquela sintetizada na “Primeira lei da ambiótica”… É mais fácil escrever ser possível haver “um levante da população”, “frear a locomotiva” do capitalismo de consumo (que inclui o consumo do ambiente sem controle de técnicas predatórias) e “construir uma ética do futuro” do que pisar numa formiga. Ainda assim, a história transborda de inovações em campos antes considerados impossíveis de solução. Eles o eram. Até que deixaram de ser. A afirmação de que é impossível reformar profundamente o capitalismo, inclusive irrompendo contra o paradigma máximo, de que ele tem de crescer ou morrer, não passa de um banal argumento circular. É impossível porque ninguém o conseguiu. Mas isto, em termos puramente lógicos, prova tão somente que ninguém ainda o conseguiu, e não que seja de fato impossível consegui-lo, como se fosse uma lei férrea da natureza, como a da gravidade, que impede a levitação. Mesmo porque, sequer se trata de uma lei natural, mas de uma construção histórico-social.

               Durante séculos, ensinava-se nas escolas de medicina que o peritônio, membrana que envolve as vísceras, e que parecia não ter função fisiológica ou protetiva, porque fina e frágil, era uma barreira posta por Deus à curiosidade humana sobre Sua obra máxima. Daí a cirurgia não evoluir além das amputações até o final do séulo XIX. Era impossível porque todos consideravam impossível, não porque de fato o fosse. Não se começa uma obra pela reiteração de sua impossibilidade. Neste caso, os egícios não teriam construído as pirâmides ou os americanos a bomba atômica – que só foi afinal construída porque Einstein, em vez de considerar sua construção impossível, como muitos físicos teóricos da época (a descrença dos cientistas alemães fez com que o governo nazista, felizmente, sequer o tentasse), o julgou possível. Tão possível, que escreveu uma carta a Roosevelt, descrevendo do que se tratava (ele jamais ouvira falar de nada parecido, dada a descrença de seus generais e pesquisadores militares) e afirmando sua possibilidade. Foram precisos um Einstein e um Roosevelt para que os imobilistas, movidos por sua descença, saíssem da frente, e o primeiro então reunisse a maior e melhor força-tarefa da história da ciência (o Projeto Manhattan). Talvez seja necessário reunir um Einstein, um Roosevel e o melhor e maior grupo de acadêmicos da atualidade, durante dez anos. Em todo caso, antes de algo assim, continuar reafirmando a intransponibilidade do peritônio e a impossibilidade de construção da bomba (ou da ida à Lua) é apenas inércia de paradigma. Uma inércia que, à semelhança daquela dos anos 1940, acabaria por levar à vitória nazista e, portanto, como neste caso, ao fim da civilização.

               Todos os aeroportos têm pistas retas. E todos os engenheiros de aviação do mundo acreditam que elas só podem ser retas. E todos talvez estejam errados. Mas como poderia ser diferente? Construindo-se uma pista circular. O avião pousa num ponto determinado, avança até o próximo ponto de escape e estaciona. Não haveria mais as complexas manobras de aproximação (elas se dariam de qualquer direção), esperas para liberar a cabeceria, ou graves e comuns problemas com vento de través etc., além de se permitir triplicar a capacidade da pista, que operaria três pousos e decolagens simultaneamente. Sei disso porque isso já existe em um projeto experimental holandês em estado avançado, pré-aprovado pela UE.[8]8 Não sei se o capitalismo “circular”, não-linear ou não-crescente é possível. Mas sei que os que afirmam ser impossível não podem sabê-lo. Não foi teorizado. Não foi descrito. Não foi tentado. Ninguém escreveu uma obra equivalente à de Marx sobre o capitalismo-sempre-crescente, que levou à Revolução Russa. Sem Marx, sem Lênin. Sem um Marx do capitalismo limitado, posso, então sim, afirmar que ele não existirá (nem o capitalismo limitado nem o Lênin que o implantaria pela primeira vez, contra a crença, a descrença e a vontade do mundo). Sem haver hoje um Roosevelt e suas circunstâncias, os ambientalistas têm de assumir a tarefa – ou continuar, com um canudinho reciclável entre os lábios amolecidos entre a inação e o medo, a ver o mundo ser engolido.

 

                    Na verdade, existem pessoas “pensando o impensável”. Porém não quanto ao capitalismo em si, mas ainda quanto ao manejo de suas consequências (como o já morto “capitalismo sustentável”), particularmente (e exclusivamente) o aquecimento global, sem atacar suas fontes. Algo assim como querer esfrirar um forno mantendo-o aceso.

 

Cientistas de Cambridge planejam montar um centro de pesquisa para explorar novas maneiras de conter as mudanças climáticas e regenerar a Terra. Eles investigarão abordagens radicais como recongelar os polos do planeta, reciclar o dióxido de carbono (CO2) com a produção de combustível e estimular a produção de algas nos oceanos para remover este gás da atmosfera. A decisão de criar o centro nasce dos temores de que as abordagens atuais não serão capazes de combater e reverter danos ao meio ambiente. Uma das ideias mais promissoras para recongelar os polos é ‘iluminar’ as nuvens acima deles. A ideia é bombear água do mar até os pontos mais altos de mastros de navios por meio de tubos bem finos. Isso produziria minúsculas partículas de sal que seriam dispersadas na atmosfera para formar nuvens capazes de refletir mais a luz do sol e, assim, reduzir a temperatura das regiões abaixo delas. […] O Centro de Reparo do Clima faz parte da Iniciativa para Futuros Neutros em Carbono da universidade, liderada pela cientista Emily Shuckburgh. Ela disse que a missão do projeto será “resolver o problema climático”.

 

               Mas não, obviamente, os problemas cognitivos, lógicos e epistemológicos de alguns cientistas, muito menos a catástrofe ambiental – que está muitíssimo além do aquecimento global e da capacidade lógica, epistemológica e cognitiva de alguns cientistas. Mas, felizmente, não de todos. Ou sequer da maioria.

 

A era do pânico climático chegou. Em outubro, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU* divulgou o que se tornou conhecido como seu relatório do apocalipse, “um alarme de fumaça ensurdecedor disparado na cozinha”. […] Por décadas, havia poucas coisas com pior reputação do que “alarmismo” entre aqueles que estudam a mudança climática. […] Em 2018, sua circunspecção começou a mudar. […] Alguns cientistas até mesmo começaram a abraçar o alarmismo, particularmente naquele relatório da ONU. […] O pânico pode parecer contraproducente, mas estamos em um ponto em que o alarmismo e o pensamento catastrófico são valiosos, por vários motivos. O primeiro é que a mudança climática é uma crise precisamente por ser uma catástrofe que se avulta e exige uma resposta global agressiva, já. […] O terceiro motivo é que apesar de a preocupação com a mudança climática estar felizmente crescendo, a complacência continua sendo um problema político muito maior do que o fatalismo. […] Em seu relatório do apocalipse, o painel da ONU ofereceu uma analogia bem clara para a mobilização necessária a fim de se evitar um aquecimento catastrófico: a Segunda Guerra Mundial, que o presidente Franklin D. Roosevelt chamou de um “desafio à vida, à liberdade e à civilização“. Aquela guerra não foi travada apenas com esperança. […] Logo, o que nós podemos fazer? E, a propósito, quem somos “nós”? O tamanho da ameaça da mudança climática significa que organização é necessária em todos os níveis, comunidades, Estados, nações e acordos internacionais que coordenem a ação entre eles. Mas a maioria de nós não vive nos corredores da ONU ou nas salas de reunião nas quais o acordo do clima foi negociado. Em vez disso, vivemos em uma cultura de consumo que nos diz que podemos deixar nossa marca política no mundo por meio de onde compramos, pelo que vestimos, como comemos. […] Mas o propósito da política é podermos ser e fazer melhor juntos do que conseguiríamos como indivíduos.[9]9

 

               O ambientalismo pode estar, de fato, muito pouco e muito tarde, tornando-se mais alarmista. E um grande alarme é fundamental para um grande incêndio. Mas alarmes apenas chamam os bombeiros, não os criam, não os treinam, não os equipam. O ambientalismo tem de decidir se será o alarme ou o bombeiro. Na verdade, não faltam alarmes. Falta responder à alarmante questão de quando o ambientalismo começará a se tornar minimamente sério. Quando começará seriamente a pensar em partir para o combate. Ao incêndio e aos incendiários.[10]10

 

  1. 7. A democracia na praça do mercado

 

               A democracia liberal, ou de mercado, em tese, a partir do próprio nome, não pode existir sem os dois termos. Portanto, mercado capitalista moderno pressupõe democracia liberal moderna. Ou pressupunha, até as reformas econômicas das últimas décadas na China totalitarista, para escapar do destino de “gigante de pés de barro” da ex-URSS, uma superpotência impotente para se manter de pé, e que literalmente de repente ruiu, sem que ninguém disparasse um tiro de pólvora seca. “O problema, estúpido, é a economia”, como disseram Karl Marx e Bill Clinton. E os chineses não são estúpidos. Então criaram o que a teoria clássica dizia ser impossível, esse Frankenstein moderno, o capital-socialismo, ou capitalismo socialista, ou estatal-capitalismo, ou chame-se como se queira, desde que não se chame nem de capitalismo nem de socialismo. O problema é que a teratogênese chinesa deu certo, quando não deveria dar, ao menos não por muito tempo, pois a tese clássica diz que o capitalismo dinamiza a economia, e, entre outras coisas, cria uma classe média, incluindo profissionais liberais de todas as áreas, e o resultado é a demanda por liberdade política para acompanhar devidamente a liberdade econômica, que foram feitas uma para a outra. Diga-o a Revolução Francesa. Em outros termos, a chamada sociedade civil e a sociedade limitada se desenvolvem juntas, como gêmeos univitelinos. Ou não se desenvolvem. Deng Xiao Ping, o reformador econômico da China, foi o carniceiro da Praça da Paz Celestial, quando tanques passaram por cima da multidão no centro de Pequim, por mais de um dia e um número desconhecido de mortos. Eles queriam democracia. Ficaram querendo. Ou não querendo nada, pois mortos. Ou mortos de medo. E desse capitalismo nutrido pelo Estado e dessa população anêmica de esperança e poder políticos foi costurado o frankenstein do “modelo chinês”. A principal consequência cognitiva é que prateleiras de livros despencaram aos milhares pelo mundo. Todas as teses que, desde antes de Weber, conectavam sociedade civil, sociedade livre, livre-iniciativa, autodeterminação política etc. ao desenvolvimento do capitalismo e ao desenvolvimento capitalista caíram ruidosamente no chão. A capitalismo não precisa da democracia.

 

[O FMI] fez as suas projeções econômicas para os próximos cinco anos. Uma ideia perturbante: o total do PIB dos países considerados “não livres” pela Freedom House será superior, pela primeira vez na história, ao valor da riqueza gerada pelas democracias ocidentais. Para darmos nomes aos bois: as economias combinadas dos Estados Unidos, da Alemanha, da França e do Japão vão perder para o time da China, da Rússia, da Turquia e da Arábia Saudita. No fundo, o que o FMI prevê é que a “narrativa democrática” está em risco. Em que consiste essa narrativa? Na ideia otimista de que existe uma relação profunda entre democracia e prosperidade: quanto mais democrático um país, mais próspero ele será. A emergência do “autoritarismo capitalista” desautoriza essa ideia. […] O sucesso do “autoritarismo capitalista” é fenômeno recente. Ainda há um futuro inteiro para provar. Seja como for, o desafio é real. E a inquietação também. Se a única coisa que garante a superioridade da democracia liberal sobre o “autoritarismo capitalista” são os bons resultados econômicos, o que acontece quando essa vantagem se evapora? A resposta, óbvia, é que a democracia liberal não pode se definir apenas pela economia.[11]11

 

               Corolário: a democracia é um valor político em si, não um ingrediente da receita do capitalismo moderno; corre-se, portanto, o risco real de o “modelo chinês”, para o qual ela não é valor algum, ajudar a terminar de matá-la.

               Terminar, porque o próprio capitalismo contemporâneo, que, se por um lado, é o capitalismo de consumo, por outro, é o capitalismo financeiro, já começou a feri-la de morte. A atual “crise de representatividade” da democracia ocidental é enorme, e enormemente simples: a política no governo representativo é a instância de contrapeso do poder econômico. Com o assalto indefendido da política pelo poder econômico, cai o contrapeso, e com ele a própria razão de ser do governo representativo e, portanto, sua representatividade. Sem representatividade política, no limite, volta-se a Locke: “Se um governo subverte os fins para os quais foi criado e se ofende a lei natural, então pode ser deposto”. Ou se resigna à confusão e à servidão.

               A democracia representativa contemporânea se aproximou de perder sua pouca representatividade (e sua ainda mais parca credibilidade), depois das mais ou menos esotéricas e intérminas questões de partidos, sistemas políticos, “guerras culturais”, da crescente fraqueza da ossatura do Estado de bem-estar (com o lento envelhecimento da população), da súbita aparição do fantasma do “precariado” (assustado herdeiro do arquivelho proletariado, filho direto e dileto do desemprego tecnológico-estrutural e da migração globalizada de empregos idem), porque as pessoas, a partir das enormes rachaduras da Grande Crise de 2008 (uma das maiores da história), afinal vislumbraram claramente quatro coisas: 1. que não tinham proteção alguma contra a destruição repentina e sem razão aparente de suas economias e de seus empregos; 2. que não haveria recuperação rápida (se afinal houvesse) de nenhum dos dois; 3. que havia uma “razão” para tudo isso (4. que o sucesso econômico chinês era um prêmio pelo desdém ao governo representativo). E essa (des)razão estava nas desregulamentações financeiras iniciadas em 1980 pelo governo Reagan, e reforçadas a partir de 1989 com a vitória na Guerra Fria e o “fim da história”, o fim do futuro e o início de um eterno presente de capitalismo e democracia liberal. O objetivo era, então, destruir o sistema de “pesos e contrapesos”, controles e estímulos econômicos de Roosevelt, que permitiram os famosos “anos dourados” a partir do fim da Segunda Guerra Mundial. Desregulamentações continuadas até o governo Obama, e além. Obama, o Grande Mentiroso, fez sorrindo tudo o que seus antecessores fizeram com menos dentes à mostra, ao contrário das garras. Todos os principais nomes econômicos de suas administrações eram os mesmos dos governos anteriores – e todos homens da banca (ou da banca & das grandes faculdades de economia), que desregulamentarem tudo, aumentando o risco e aumentanfo o lucro, pois eles são inseparáveis. O capitalismo financeiro mundial tornou-se uma “grande pirâmide”, com ações cobrindo ações e assim indefinidamente, sem lastro algum na economia real. Essa economia (auto)financeira era um castelo de cartas com dívidas alheias (à realidade), e castelos de cartas caem. Sua queda recebeu o referido famoso nome de Grande Crise de 2008. Sabia-se que aquilo acabaria e que alguém acabaria por pagar o preço. E que não seriam os banqueiros. Sem que se possa falar sem perfeita desonestidade em qualquer risco assumido pelos milhões de pequenos investidores, que não sabiam nada, que não entendiam nada e que perderam tudo, enquanto os banqueiros tudo ganharam. Parece o jogo normal. Mas não foi um jogo normal. E sim um jogo com dados desconhecidos e mais que viciados (e não me refiro à “economia-cocaína” de Wall Steet). Eles foram simplesmente completamente enganados. Não foi um jogo justo. E é desnecessário que eu demonstre aqui o que afirmo, quando existe um documentário devastador sobre tudo isso, incluindo história, histórias, rostos, nomes, ações, ações, responsabilidades e responsáveis: Inside Job, de Charles H. Ferguson. Enfim, é muito simples: a democracia representativa perdeu sua credibilidade porque perdeu sua credibilidade. Os outros problemas crônicos debilitantes não estavam matando a paciente paciente (além de terem talvez tempo para remédios relativamente graduais, ou ao menos menos traumáticos), até a Grande Merda no Ventilador Econômico de 2008 (outro nome cabível). Tudo isso é passado. E presente. Todos continuam lá, e tudo continua como estava. Como os Bourbon que, depois da Revolução, ao voltar ao poder com a Restauração, “não aprenderam nada e não esqueceram nada” (Talleyrand), o poder político e o poder econômico seguem em sua insaciável cópula incestuosa (que outros tempos não aceitariam, e não aceitaram).

               Na verdade, trata-se de um ménage a trois, em que se exibe nua a ativa e íntima participação das principais academias, teorias e autores econômicos, que, circulando promiscuamente como ideias e indivíduos entre as salas de aula, as publicações, os fóruns econômicos e os cargos de direção dos grandes bancos e órgãos governamentais, criaram “teoria” econômica ad hoc que se tornou um conjunto de fatos econômico-financeiros igualmente ad hoc. Por acaso, todos os economistas envolvidos saíram da orgia acadêmico-econômico-político-financeira como seus pares da banca: muito ricos – mas não saciados, como diria Baudelaire.

               A maioria dos envolvidos, incluindo os acadêmicos, se recusou a dar as caras e ser entrevistada em Inside Job, apesar de sua incontornável participação na geração da crise (ou terá sido por isso?), e de ninguém ter devolvido dinheiro algum ganho como “grande prêmio” antes, durante e depois, ou de não ter sofrido qualquer ação penal de nenhum tipo, a despeito das enormes evidências de espessas maquiagens contábeis, propaganda mais que enganosa, malabarismos financeiros circenses, criação de muito podres produtos de investimento, deep and dirty inside information etc. Há vários casos bem documentados de analistas indicando “novos produtos” a clientes que, em e-mails internos, chamam literalmente de “lixo” (os produtos, não os clientes; estes são apenas tratados como tal). E também apesar de Inside Job, com sua robusta objetividade e sua pertinência grandemente informada, ser o mais perfeito oposto de obras planfetárias, recheadas de homens maus e péssimas teorias da conspiração e semelhantes, à la Michael Moore.

               Outros tempos não o aceitariam: o primeiro Roosevelt, em contraexemplo, foi eleito no início do século XX para acabar com os grandes monopólios dos setores industrais (cujo peso equivalia ao das grandes corporações de investimentos atuais), e usou o poder do governo representativo, a política, o Congresso, para aprovar leis antitruste que simplesmente os destruíram, obrigando-os a se dividir e se vender literalmente aos pedaços. O capitalismo não morreu (“mas hoje tudo é muito maior e mais complexo” etc.; e isto é anacronismo, lançar características do presente sobre o passado; à época, o capitalismo jamais fora maior ou mais complexo).[12]12 O segundo Roosevelt criou mais agências reguladoras e estimuladoras de investimentos fundamentais, como de infraestrutura (que servem à economia e à sociedade direta e simultaneamente) do que qualquer outro na história americana. Isso é ação política realocando e recolocando a atividade econômica nos trilhos, não para parar o trem, mas por simples questão de segurança: deve haver um trem; mas ele não pode sair por aí descarrilhando sobre as pessoas a cada duas estações. Alguém tem de cuidar disso. Mas não como a raposa “cuidaria” do galinheiro, para cunhar mais uma frase, caso do capitalismo financeiro que desabrochou desde Reagan (e Thatcher), e nunca mais foi podado. Ao contrário: foi adubado, irrigado, fertilizado, felicitado e acariciado. Por falar em frases, Brecht questionou o que era roubar um banco, comparado a fundar um; os fundos imensos e as enormes companhias de investimentos descontroladas (e descontrolados) da Era Reagan (a nossa), com seus produtos financeiros “tóxicos” e a capilarização de sua toxicidade por todo o sistema de crédito, tornaram a pergunta premente outra vez.

               A política morreu, engolida, digerida e cagada pela economia – incluindo o referido surgimento da “alternativa chinesa”, avalizada por sua entrada, via “botão do foda-se”, na Organização Mundial de Comércio, a famosa OMC, apesar de desrespeitar completamente todas as regras mais fundamentais do livre-comércio internacional. Hoje se vive o teatro patético de sua zumbificação (da política, não da OMC, um cadáver de fato): “Como Kishore Mahbubani argumenta em seu livro A queda do Ocidente?, o evento mais decisivo de 2001 não foi o ataque [de 11 de setembro], mas a entrada da China na OMC. Ao basicamente dar sua aprovação às práticas comerciais injustas de Pequim, o Ocidente destruiu a segurança econômica que reforçava seu contrato social capitalista”.[13]13 Destruição de qualquer mínima segurança econômica que aproximou da beira da queda a representatividade da democracia liberal, cuja figura recente mais ridícula foi o primeiro-ministro britânico Tony Blair, o “poodle” da mais explícita, o presidente americano Walter W. Bush (“eviscerado” em outro filme, que forma um verdadeiro duo com Inside Job, Vice, de Adam McKay, centrado na monstruosa mediocridade sutil de seu vice, Dick Cheney), com Barak Obama como a mais hipócrita. Ainda há quem se dê o trabalho de se espantar com a impotência, a inapetência e a inépcia sorridentes e satisfeitas de suas administrações, que não fizeram nada do que prometera em muitos muito altos brados (“Yes, we can!”), em área alguma, interna, externa ou a meio caminho. O Obamacare ruiu, Guantánamo resistiu, o genocida Assad gaseou seu próprio povo mirando a partir de uma “linha vermelha”, o poder literalmente fora de controle da banca seguiu impávido e incólume colosso pós-2008 (com muitos de seus nomes centrais no centro do governo Obama, que então se iniciava), e o presidente sorridente foi sorrindo escrever suas memórias milionárias, acompanhadas das milionárias memórias da bela Michelle (no momento em que escrevo [início de maio de 2019], o principal concorrente à candidatura democrata para suceder Trump é o velho [nos dois sentidos] vice-presidente de Obama, o pálido [nos dois sentidos] John Biden…).

               A política morreu. E como seus assassinos foram o capitalismo de consumo e o capitalismo financeiro (o que não é contraditório nem redundante: ganha-se tanto dinheiro na banca quanto no capitalismo semiescravista chinês), o capitalismo financeiro e o de consumo têm de ser ambos atacados pelos democratas (não se trata aqui, obviamente, de qualquer partido “político”). Trump foi eleito, em grande parte, porque a direita americana tradicional, pós-2008, nada mais tinha a oferecer a não ser miséria, mentira e dor, e porque a “esquerda” americana, pós-Obama, nada mais tinha a oferecer além de cinismo, fracasso e frustração. Os medíocres Macrons franceses, as confusas Theresas Mays britânicas, as decadentes Angelas Merkels alemãs fazem por direito parte do quadro sombrio. Deles nada virá. Não, com toda certeza, a retomada da política pela cidadania. Mas, com enorme probalidade, a próxima próxima grande crise.[14]14

 

  1. A luta pelo futuro e o ambientalismo de combate

 

               Capitalismo é crescimento. E capitalismo financeiro é crescimento de produção e vendas de investimentos, empréstimos, hipotecas, títulos, ações, até que a superprodução leve à saturação da demanda pela oferta, e o valor de tudo caia. O capitalismo não funciona sem crédito, que permite comprar hoje com o dinheiro que se terá amanhã. Compra-se mais do que se pode pagar, conta-se com mais dinheiro do que se tem, e a economia cresce. Até que a superprodução leve à saturação da demanda pela oferta, e o valor de tudo caia. A questão é que, aqui, dada a natureza dos produtos, tudo é quase tudo. Para piorar, o capitalismo não funciona sem crédito.

               Nada justifica tal risco sob tal descontrole, estimulado a crescer, como o próprio capitalismo, até encobrir as luzes do sol e da lucidez. A miséria, a angústia e a dor, então, recobrem o mundo de penumbra. A isso se dá o pequenino e quase singelo nome de “crise”. À sociedade, não à infima parte dela chamada “grandes investidores”, deveria caber decidir o tipo de risco e de crise que está disposta a correr ou suportar. Se a Bastilha caiu, Wall Street também pode cair. O tempo da aristocracia acabou em 1789. Mas se ela, como a velha hidra de Lerna, insiste em fazer brotar duas novas cabeças a cada vez que se lhe corta uma (como nas leis antitruste), faça-se como na mesma Revolução: cortem-lhe o pescoço. Ou as asas. Ao menos, uma das mãos. Sem esquecer, desta vez, de cauterizar o corte.[15]15

               O ambientalismo deve atacar tanto o capitalismo predatório quanto a política já predada, porque precisa impor controle a um e dar sobrevida à outra, para impor controle àquele, sem o que o ambientalismo não tem razão de ser. Mas, acho que alguém já o disse, não a golpes de canudinho. Qualquer ambientalismo sério será um ambientalismo de combate.

               O modelo histórico original é o Greenpeace da fase heroica do navio Rainbow Warrior (Guerreiro do Arco-íris), que não tinha “guerreiro” no nome por acaso. Eles agiam no limite da lei, e às vezes um pouco além, abordando navios predatórios (literalmente: no caso, de baleias), entre outras ações. Em 10 de julho de 1985, foi bombardeado e afundado pelo serviço secreto francês, quando tentava impedir a realização de testes nucleares no atol de Mururoa – o nome disto é ambientalismo de combate no mais puro e digno sentido da expressão.

               Forma de ambientalismo que, em seguida, o Greenpeace, em vez de se tornar ou tentar se tornar o Greenwar, recusou, recuando para a segurança do ativismo ong. O ambientalismo, desde então, não fez senão perder a coragem. A ousadia. A audácia. A objetividade. A inventidade. E, pedaço por pedaço, ir diminuindo. Até encolher do tamanho de um navio para o de um canudinho. Mas mesmo a pequena grande história do Rainbow Warrior impede os céticos militantes, os cínicos oportunistas, os ignorantes satisfeitos e os indiferentes indiferentes de afirmar ser impossível.

[1]     Este texto (adaptado para esta edição) é parte do livro inédito Ensaio de futurismo.

[2]    “Extinção acelera e 1 milhão de espécies estão ameaçadas, diz ONU” (<https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2019/05/extincao-acelera-e-1-milhao-de-especies-estao-ameacadas-diz-onu.shtml>).

 

[3]    Ver a rigorosa síntese de Reinaldo José Lopes em “Pesquisador discute o Antropoceno, nova era geológica criada por humanos – transformações mensuráveis fortalecem a proposta de rebatizar o período que vem a partir de 1950” (<https://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2019/05/em-livro-pesquisador-discute-o-antropoceno-nova-era-geologica-criada-por-humanos.shtml>).

[4]                 “O que é o ITS, grupo ecoextremista que o governo do Chile acusa de atos terroristas”. “Na semana passada, o grupo ambientalista radical enviou um pacote com uma bomba dentro para o presidente do Metrô do Chile, Louis de Grange. Não é a primeira ação do grupo, que diz estar presente em outras partes da América Latina” (<https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/bbc/2019/05/15/o-que-e-o-its-grupo-eco-extremista-que-o-governo-do-chile-acusa-de-atos-terroristas.htm>). O ITS [Individualistas que Tendem ao Selvagem], segundo seu site, são contra a “civilização moderna e o progresso humano, científico e tecnológico”. Portanto, são também contra a inteligência, a arte e a cultura, além da mínima decência humana ou civilizatória, que não outorga a ninguém ser acusador, juiz e carrasco autoinstituído. Trata-se de métodos totalitaristas, apesar de pontuais, em defesa de um ideologia retaguardista. O ITS não é o único retroanarcoambientalismo, ou retroambientalismo terrorista, em atividade. Nos EUA, não são raros os ataques a laboratórios de pesquisa biológica (e a pesquisadores) que utilizam animais (criados em laboratório) por grupos que substituem o antropocentrismo ocidental tradicional por um “animalismo” mítico (os animais são os filhos “sagrados” da “Mãe-natureza” etc.). O ambientalismo ambiótico (que segue as leis da ambiótica) deve renegar (além do ambientalismo-canudinho) tanto a predação capitalista quanto o ambientalismo mítico, “místico”, retaguardista e anticientificista (ou seja, obscurantista). Se a ideia é evitar a volta à “Idade das pedras” pela catástrofe ambiental, não parece fazer muito sentido voltar a ela pelo combate à catástrofe ambiental…

[5]                 “Tributo sobre bebidas açucaradas nos EUA reduz consideravelmente as vendas” (<https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/afp/2019/05/14/tributo-sobre-bebidas-acucaradas-nos-eua-reduz-consideravelmente-as-vendas.htm>).

[6]                  “Adeptos da filosofia minimalista consomem menos para viver melhor” (<https://universa.uol.com.br/noticias/rfi/2019/02/02/adeptos-da-filosofia-minimalista-consomem-menos-para-viver-melhor.htm>).

[7]                  Márcio Seligmann-Silva, “A técnica na sofisticada marcha da humanidade em direção ao precipício” (<https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2019/02/a-tecnica-na-sofisticada-marcha-da-humanidade-em-direcao-ao-precipicio.shtml?loggedpaywall>).

[8]                    Ver “Aeroporto do futuro terá pista de pouso e decolagem circular” (<https://www.dw.com/pt-br/aeroporto-do-futuro-ter%C3%A1-pista-de-pouso-e-decolagem-circular/av-40200522>), “Pesquisadores holandeses apresentam aeroporto do futuro com pista circular” (<https://www.aviacaoemercado.com.br/pesquisador-holandes-apresenta-aeroporto-do-futuro-com-pista-circular-assista-ao-video/>).

[9]                              David Wallace-Wells, “Somente o medo pode nos salvar da catástrofe do aquecimento global” (o autor é colunista e vice-editor da revista New York e autor de The Uninhabitable Earth: Life After Warming (A Terra inabitável: a vida após o aquecimento( https://noticias.uol.com.br/midiaglobal/nytimes/2019/02/25/opiniao-somente-o-medo-pode-nos-salvar-da-catastrofe-do-aquecimento-global.htm. * Ver o “relatório do apocalipse” do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU em <https://report.ipcc.ch/sr15/pdf/sr15_spm_final.pdf>]. O retório resumido em números: “Risco de extinção de espécies: aproximadamente 25% delas já estão ameaçadas de extinção na maioria dos grupos de animais e plantas analisados. Ecossistemas naturais: diminuíram em média 47%. Biomassa e abundância de espécies: a biomassa global de mamíferos selvagens caiu 82%. E os indicadores de abundância de vertebrados recuaram rapidamente desde 1970” (“1 milhão de espécies ameaçadas: o preocupante relatório da ONU sobre o impacto do homem no planeta” (<https://noticias.uol.com.br/meio-ambiente/ultimas-noticias/bbc/2019/05/06/1-milhao-de-especies-ameacadas-o-preocupante-relatorio-da-onu-sobre-o-impacto-do-homem-no-planeta.htm>). Sim, preocupante…: “Dois terços dos maiores rios estão obstruídos por ação humana – estudo na revista Nature examinou 12 milhões de km de rios e criou a 1ª cartografia do impacto humano” (<https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2019/05/dois-tercos-dos-maiores-rios-estao-obstruidos-por-acao-humana.shtml>). “Erosão do solo pode reduzir rendimento de plantações pela metade, diz FAO”: “A diretora-geral adjunta da Organização da ONU para a Alimentação e a Agricultura (FAO) Maria Helena Semedo detalhou na apresentação do simpósio, que terá três dias de duração, que a agricultura intensiva, a lavoura, a monocultura, a pecuária extensiva, a expansão urbana, o desmatamento, a indústria e a mineração contribuem para a aceleração da erosão” (<https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/efe/2019/05/15/erosao-do-solo-pode-reduzir-rendimento-de-plantacoes-pela-metade-diz-fao.htm>). “Secretário-geral da ONU alerta para risco de vazamento radioativo no Pacífico”: “O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, alertou nesta quinta-feira para o risco de vazamento radioativo em um depósito de resíduos de testes nucleares dos Estados Unidos no arquipélago das Ilhas Marshall, no Pacífico. […] Guterres disse que a estrutura – uma cratera coberta com uma camada de concreto – construída na ilha de Runit, pertencente ao atol de Enewetak, é um ‘caixão’ herdado da Guerra Fria” <https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/afp/2019/05/16/secretario-geral-da-onu-alerta-para-risco-de-vazamento-radioativo-no-pacifico.htm>. Resta quem ou o que será nele enterrado. Sobre a complacência, ver “Ceticismo americano sobre o clima atrapalha cooperação regional no Ártico” (<https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/afp/2019/05/07/ceticismo-americano-sobre-o-clima-atrapalha-cooperacao-regional-no-artico.htm>. Ver, ainda, “Grupo de voluntários quer retirar 10 toneladas de lixo do Everest” (<https://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2019/05/05/grupo-de-voluntarios-quer-retirar-10-toneladas-de-lixo-do-everest.htm>). Se o lugar mais inacessível do mundo está recoberto, não de neve, mas de lixo, o resto… São restos potenciais de uma civilização moribunda.

[10]               Pallab Ghosh (BBC News): As ideias inusitadas e radicais que cientistas vão testar para conter as mudanças climáticas” (<https://www.bbc.com/portuguese/geral-48235783?xtor=AL-[73]-[partner]-[uol.com.br]-[link]-[brazil]-[bizdev]-[isapi]>).

 

[12]               “Facebook é monopólio e chegou a hora de desmembrá-lo, diz cofundador da rede – Chris Hughes, em artigo no jornal New York Times, defende reversão da compra de Instagram e WhatsApp” (<https://www1.folha.uol.com.br/tec/2019/05/e-hora-de-desmembrar-o-facebook-escreve-cofundador-da-rede-no-new-york-times.shtml>).

[13]               “Jovem promissor da política propõe um neossocialismo para a Alemanha” (<https://noticias.uol.com.br/midiaglobal/the-international-new-york-times/2019/05/04/opiniao-jovem-promissor-da-politica-propoe-um-neossocialismo-para-a-alemanha.htm>).

[14]           Danielle Brant, “Crise está próxima e será muito pior que a de 2008, diz economista que previu derrocada da lira turca: para Tim Lee, abalo virá das empresas endividadas e alavancadas no mercado acionário global” (<https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2018/12/crise-esta-proxima-e-sera-muito-pior-que-a-de-2008-diz-economista-que-previu-derrocada-da-lira-turca.shtml>); “’Podemos ter a semente de um novo ‘crash’, diz economista que previu crise de 2008 – Raghuram Rajan, ex-economista-chefe do FMI, atribui o crescimento excessivo do crédito a políticas monetárias frouxas demais” (<https://oglobo.globo.com/economia/podemos-ter-semente-de-um-novo-crash-diz-economista-que-previu-crise-de-2008-23052379>).

[15]               Após concluir este texto, deparei com um artigo de um ex-editor da The Econonmist, cujos argumentos são surpreendentementes próximos aos meus Na verdade, chega a parecer plágio (e não seria o ex-editor da The Economist o plagiador…). Mas o que perco em originalidade ganho, talvez, em alguma credibilidade, pelo teor do artigo, a começar do título (Bill Emmott, “Confissões de um liberal meio arrependido”; o autor acaba de lançar o livro The Fate of the West: The Battle to Save the World’s Most Successful Political Idea (O destino do Ocidente: a batalha para salvar a ideia política mais bem-sucedida do mundo) (<https://noticias.uol.com.br/midiaglobal/prospect/2017/06/09/opiniao-confissoes-de-um-liberal-meio-arrependido.htm>).


 Sobre Luis Dolhnikoff

Luis Dolhnikoff estudou Medicina (1980-1985, FMUSP) e Letras Clássicas (1983-1985, FFLCH-USP). Entre 1990 e 1994, co-organizou em São Paulo, ao lado de Haroldo de Campos, o Bloomsday SP, homenagem anual a James Joyce. Em 2005, recebeu uma Bolsa Vitae de Artes para estudar a vida e a obra do poeta Pedro Xisto. Entre 2006 e 20014, foi articulista de política internacional na Revista 18, do Centro de Cultura Judaica de São Paulo. Como crítico literário e articulista, colaborou, a partir de 1997, com os jornais O Estado de S. Paulo, A Notícia, Diário Catarinense, Gazeta do Povo, Clarín e, recentemente, Folha de S. Paulo, bem como em várias revistas. É autor do livro de contos Os homens de ferro (São Paulo, Olavobrás, 1992), além dos livros de poemas Pânico (São Paulo, Expressão, 1986, apresentação Paulo Leminski), Impressões digitais (São Paulo, Olavobrás, 1990), Lodo (São Paulo, Ateliê, 2009), As rugosidades do caos (São Paulo, Quatro Cantos, 2015, apresentação Aurora Bernardini, finalista do Prêmio Jabuti 2016) e Impressões do pântano (São Paulo, Quatro Cantos, 2020).