Que as escolhas ou decisões (não importa a angulação) são precárias, provisórias, e se nos recusamos a fazê-las só nos resta o eterno e as condecorações de praxe.
Que todos esses escritores que infestam as redes sociais são competentes e manejam muito bem os fundamentos do ofício, mas tais dotes não realçam espíritos superiores, apenas compensam intelectos medíocres.
Que podemos usar a opção “curtir” caso sejamos informados, por exemplo, sobre a morte de algum dos nossos desafetos.
Que, através de um raciocínio sedutor e de emendas feiticeiras, o escritor-seguidor das redes sociais tenta por esse meio persuadir-nos de sua significância, contudo, sem confundir ao menos o crítico atento, ilude-se a si mesmo.
Que muitos querem ir além, dizer mais e fazer mais; e que é fácil dar as costas ao além (a tradição, o mundo dos mortos), de onde viemos todos.
Que um homem sozinho não deve ser temido nem estimado.
Que mais se escapa do que se desperta do pesadelo da história.
Que o maior lugar-comum dos últimos tempos é conseguir uma audiência com e/ou posar para uma foto ao lado do poeta Ferreira Gullar.
Que, depois que alguém teve a cara de pau de dizer (em público!) uns desaforos a respeito do medalhão, os seguidores deste último de pronto caem em si e confessam: “Ah, então, ele também me enoja em uma ou duas coisinhas…”
Que não curtir é a maior curtição.
Que um novo Rimbaud no Acre ou em qualquer lugar que seja é tão improvável quanto um gaúcho modesto.
Que publicar no “mural” do amigo dileto é o primeiro passo para uma rentável relação corruptora.
Que, depois de um beijo e de um abraço apertado, às vezes também nos batem a carteira.
Que compartilhar o bônus é moleza.
Que suportamos além do tolerável a cólica narcísica do outro.
Que escritores de segunda categoria (e eles geralmente amam versos ditos a plenos pulmões) quando se referem à genitália o fazem como se disparassem uma cusparada.
Que o vicioso da internet é muitas vezes o estrume da virtude dessa rede de reconhecimentos recíprocos (que não pode ser quebrada!).
Que a arte de fazer inimigos não é mais deste mundo.