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O Brasil naufraga no marasmo

Entrevista de Marco Antonio Villa a Régis Bonvicino

Sibila: Como avalia a união do PT com as oligarquias regionais (Cid e Ciro Gomes, Eduardo Campos, Collor de Mello, Calheiros, Sarney) visando a vencer as eleições de 2010? O PT mudou, mudou muito?

Marco Antonio Villa: Mudou e para pior. A aliança com os oligarcas é perversa para o país, pois dá uma sobrevida ao atraso. A maioria destes oligarcas são justamente das regiões mais atrasadas economicamente. Dar novo gás a estes oligarcas é manter na miséria milhões de brasileiros.

Sibila: Por que não há partidos com programa partidário e eleitoral no Brasil? Por que se recorre sempre ao presidencialismo de transação, como você diz, seja em governo do PSDB ou do PT?

MAV: Romper com o presidencialismo de transação é tarefa imperativa para modernizar o Brasil e fortalecer a democracia. Como romper? Só há um caminho: via poder central. Um bom exemplo: o presidente ao tomar posse anuncia numa rede de rádio e televisão que pretende governar com base em um programa. Expõe o programa e pede apoio programático aos partidos com representação no Congresso Nacional. O apoio não será na base do “é dando que se recebe”, na transação nada republicana. Terá, então, o presidente, como sustentáculo, um programa de governo. Quem pode tomar esta iniciativa é o presidente da República. Dificilmente o Congresso enfrentará um presidente eleito em segundo turno e com a maioria absoluta dos votos. Isto não é bonapartismo, é democracia.

Sibila: O que significam a candidatura Dilma e a candidatura Serra? O que significou Marina Silva? O que significará o provável governo Dilma?

MAV: Visões diferentes para o Brasil. Dilma é manter o que aí está. Serra diz que vai mudar muita coisa. Marina pode ser uma estrela fugaz, fenômeno que dificilmente se repetirá em 2014.

Sibila: No primeiro turno, a campanha foi muito mais silenciosa do que nos anos anteriores. Considera que os militantes do PT estão envergonhados?

MAV: Não. É que os “mais combativos” estão no aparelho de Estado. Ganham bem. Viajam. Comem bem. Até engordaram. O PT não tem mais militantes, tem assessores, tem DAS.

Sibila: Por que os intelectuais, como Marilena Chauí, Antonio Candido e outros, que ajudaram a construir o PT, agora se calam no tocante aos desmandos de Lula?

MAV: Porque não são intelectuais.

Sibila: Os artistas perderam parte de seu espírito crítico, creio. A que atribuiria esse fenômeno?

MAV: Perderam. Adoraram a “boquinha”. Peças, livros, filmes, exposições, tudo financiado com dinheiro público. Temem perder a “boquinha”. Se na Roma Antiga tinha o Mecenas, aqui é a Petrobrás.

Sibila: Mudando de tema, por que ciência e tecnologia, cultura e educação nunca são efetivamente levadas a sério no país, seja pelo PSDB ou pelo PT?

MAV: Porque não somos um país sério. Vivemos de espasmos, curtos, e retornamos ao marasmo.

Sibila: Qual a razão de as esquerdas marxistas e mesmo social-democratas terem se esvaído?

MAV: Dificuldade (e até preguiça) de pensar programas alternativos e construir outros paradigmas.

Sibila: O que fazer para se aprofundar o Estado Democrático de Direito?

MAV: Enfrentar todas as ameaças às liberdades, custe o que custar.

Sibila: Os Direitos Humanos deveriam pautar o Brasil em suas relações com o mundo?

MAV: Sim. Infelizmente a diplomacia do governo Lula atrelou o Brasil às ditaduras e governos fundamentalistas. Vide, por exemplo, os episódios do Irã, Honduras ou do apoio ao candidato (felizmente derrotado) à direção da Unesco, que era um convicto antissemita.

Marco Antonio Villa é historiador, mestre em Sociologia pela Universidade de São Paulo (1989) e doutor em História Social pela Universidade de São Paulo (1993). Atualmente é professor da Universidade Federal de São Carlos.

Últimas publicações:

Breve História do Estado de São Paulo. 1ª. ed. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2009. 200 p.
1932: imagens de uma revolução. 1ª. ed. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2008. 208 p.
Jango, um perfil (1945-1964). 1ª. ed. São Paulo: Globo, 2004. 287 p.
O Partido dos Trabalhadores e a política brasileira (1980-2006) – uma história revisitada, EdUFSCar, 2009.

 


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 Sobre Marco Antonio Villa

É historiador. Mestre em Sociologia pela Universidade de São Paulo (1989) e doutor em História Social pela USP (1993). É professor da Universidade Federal de São Carlos. Últimas publicações: Breve História do Estado de São Paulo. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2009. 200 p. 1932: imagens de uma revolução. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2008. 208 p. Jango, um perfil (1945-1964). São Paulo: Globo, 2004. 287 p. “O Partido dos Trabalhadores e a política brasileira (1980-2006) - uma história revisitada”, EdUFSCar, 2009.