José de Sousa Saramago (1922 – 2010) foi um escritor português galardoado com o Prêmio Camões em 1995 e com o Nobel da Literatura em 1998. Suas frases, dir-se-ia, são homogeneamente geniais. Portanto, ninguém pensaria em chamá-lo de pobre boçalão. Não obstante, uma pergunta não cala: se, entre os escritores de língua portuguesa da segunda metade do século XX José fez por merecer o Nobel, Graciliano, Rosa, Drummond e Cabral deveriam receber o quê? Leitor mudo de luto, de luto mudo, mudo e de luto etc., ainda assim favor envidar o esforço de encaminhar sugestões a fim de nos iluminar (Há, outrossim, outras questões que calam fundo: se, em vez de apoiar ditaduras de esquerda, nosso mestre apoiasse as de direita seria louvado ainda? Há, então, ditaduras boas e ditaduras ruins? Apoiar as ditaduras certas é bom para o reconhecimento literário? Entretanto, tais questões não as faremos) (Sibila).
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“O homem deixou de respeitar a si mesmo quando perdeu o respeito por seu semelhante”.
“Agora vivemos o império do petróleo e do dinheiro – o resto é disfarce”.
“Somos todos escritores, só que alguns escrevem e outros não”.
“O homem mais sábio que conheci em toda a minha vida não sabia ler nem escrever”.
“Independência absoluta não existe. Vivemos numa sociedade de interdependências que se expandem em progressão geométrica”.
“Se começássemos a dizer claramente que a democracia é uma piada, um engano, uma fachada, uma falácia e uma mentira, talvez pudéssemos nos entender melhor”.
“A sabedoria diz que o erro é inseparável da ação justa, que a mentira é inseparável da sua verdade, que o homem é inseparável da sua negação”.
“É ainda possível chorar sobre as páginas de um livro, mas não se pode derramar lágrimas sobre um disco rígido”.
“A carne é fraca e os políticos são feitos de carne. No momento em que o cidadão renuncia a intervir na vida política do país, o poder real escapa-lhe das mãos”.
“Sem política não se organiza uma sociedade. O problema é que a sociedade está nas mãos de políticos profissionais”.
“Que seria de nós se não sonhássemos?”.
“No fundo, o problema não é um Deus que não existe, mas a religião que o proclama. Denuncio as religiões, todas as religiões, por nocivas à Humanidade. São palavras duras, mas há que dizê-las”.
“Eu sou um comunista hormonal, meu corpo contém hormônios que fazem crescer minha barba e outros que me tornam um comunista. Mudar, para quê?”
“Nós podemos comparar a situação palestina com o que aconteceu em Auschwitz.”.
“Vivendo sob as trevas do Holocausto e esperando ser perdoados por tudo o que fazem em nome do que eles sofreram parece-me ser abusivo. Eles não aprenderam nada com o sofrimento dos seus pais e avós”.
“Em vez de as pessoas ouvirem os escritores em busca de respostas sobre o que somos, precisam ouvir umas às outras, porque nós, autores, não somos mais do que meros trabalhadores das palavras e temos limites como todos”
“Nunca lutei para me tornar escritor”.
“Todos sabemos que cada dia que nasce é o primeiro para uns e será o último para outros e que, para a maioria, é só um dia mais”.
“Há coisas que nunca se poderão explicar por palavras”.
“Ser-se homem não deveria significar nunca impedimento a proceder como cavalheiro”.
“O talento ou acaso não escolhem, para manifestar-se, nem dias nem lugares”
“Não sou um ateu total, todos os dias tento encontrar um sinal de Deus, mas infelizmente não o encontro”.
“Os lugares-comuns, as frases feitas, os bordões, os narizes-de-cera, as sentenças de almanaque, os rifões e provébios, tudo pode aparecer como novidade, a questão está só em saber manejar adequadamente as palavras que estejam antes e depois”.
“É preciso variar, se não tivermos cuidado a vida torna-se rapidamente previsível, monótona, uma seca”.