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Venezuela em crise: Chávez, ETA e as Farc

Há uma crise séria, sem data para acabar, entre Venezuela e Espanha. O juiz espanhol Eloy Velasco investiga as ligações entre as FARC e a ETA que, apoiadas por Hugo Chávez – segundo ele –, treinavam em conjunto na Venezuela. O magistrado afirma que os grupos planejavam assassinar o presidente colombiano Álvaro Uribe na Espanha. Em outras palavras, Velasco acusa Chávez de planejar a morte de Uribe, valendo-se de etarras – inimigos mortais do governo central espanhol.

O auto se iniciou com correios eletrônicos apreendidos no computador de Raúl Reyes, o número 2 das FARC morto por Uribe em 2008, que revelavam a associação entre as duas bandas terroristas. Há pouco um etarra foi preso no aeroporto de Lisboa quando embarcava para Caracas. Todavia, Chávez nega as acusações e afirma que o juiz Velasco age a mando do ex-presidente espanhol José María Aznar, bastante vinculado aos Estados Unidos. Chávez se recusa a colaborar com a Justiça espanhola. Trata-se de um desdobramento da Guerra Fria ainda em curso, embora com outro perfil, apesar da Queda do Muro de Berlim em 1989 e o fim do comunismo real.

Os juízes espanhóis têm funções diferentes das dos brasileiros – lá eles podem investigar, aqui não. Na peça que relata as investigações, Velasco acusa a Venezuela de tolerar ou promover cursos de treinamento com explosivos para etarras e farquianos. Velasco expediu mandado de prisão contra vários desses “revolucionários”, alguns deles residentes em Cuba – que tem dado enorme apoio ao presidente venezuelano nesse momento de aguda crise econômica em seu país. Chávez nacionalizou – nos últimos anos – mais de uma dezena de grandes corporações espanholas – o que desagradou o governo de Madri.

O que são as FARC (Fuerzas Armadas Revolucionarias de Colombia – Ejército del Pueblo)? Uma organização marxista-leninista de inspiração bolivariana (ideologia de Hugo Chávez), que luta contra as corporações multinacionais e defende os pequenos agricultores. Vale-se – destaco – do sequestro, para ataque político aos adversários e para obter dinheiro com os resgastes, e do tráfico de drogas, também para acumular fundos. Na Colômbia houve uma guerra civil que durou 16 anos, de 1948 a 1964. Liberais e socialistas somaram-se contra os conservadores na luta pelo poder. Entretanto, em 1964, sob pressão norte-americana, os liberais recuaram e se aliaram aos conservadores para combater os camponeses (pequenos agricultores) comunistas, inspirados pela Revolução cubana de 1959. Dissidentes liberais criaram então as FARC, ao lado dos socialistas, e a guerra civil se transformou em guerra de guerrilhas. Hoje, as FARC estão relativamente enfraquecidas pela ação do atual presidente colombiano Álvaro Uribe, com o apoio intenso dos Estados Unidos.

O que é a ETA? Em basco, Euskadi Ta Askatasuna (Pátria Basca e Liberdade) é um grupo que pratica o terrorismo como meio de alcançar a independência da região do País Basco (Euskal Herria), situado ao nordeste da Espanha e ao sudeste da França (Pireneus). A ETA possui ideologia separatista/independentista marxista-leninista e revolucionária. Com a Constituição democrática da Espanha de 1978, o País Basco obteve grande autonomia, entretanto a ETA prossegue em sua luta. Em 2006, a organização – que já assassinou mais de 2 mil pessoas – declarou um cessar-fogo permanente, que no entanto durou somente até 30 de dezembro daquele ano, quando explodiu um carro-bomba no aeroporto de Madri. O País Basco é das regiões mais industrializadas e ricas da Espanha. Sua capital, Bilbao, abriga o Museu Guggenheim-Bilbao – um dos mais ousados da Europa em termos de arquitetura. O presidente do País Basco, o socialista Patxi López, afirma que a ETA, com suas ações, demonstra absoluto desprezo pelo conjunto da cidadania basca.

Chávez não respeita os direitos humanos em nome de sua “revolução”. Violentou a democracia. Então, em princípio, as acusações do magistrado se tornam verossímeis. Agora, como disse, há um mandado de prisão expedido por Velasco para a Interpol – e não para qualquer polícia –, para capturar os possíveis suspeitos. Entre os processados encontra-se Arturo Cubillas Fontán, alto funcionário de seu governo (Chávez). Chávez está, pela primeira vez, diante de uma Justiça séria e independente – a que não está acostumado. O mais grave é que – se tudo se confirmar, com a oitiva dos eventualmente capturados – o governo Chávez estará vinculado a terroristas e a Venezuela poderá entrar na lista negra da ONU, inclusive com sanções econômicas, o que radicalizaria ainda mais o líder bolivariano, criando enorme instabilidade na América do Sul.

 

Mapa da Espanha

 


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 Sobre Régis Bonvicino

Poeta, autor, entre outros de Até agora (Imprensa Oficial do Estado de S. Paulo), e diretor da revista Sibila.