Benfica
das guerras que sempre respiram
em algum lugar do mundo,
pousa aqui este
atrito
contra a tarde pronta para
esmurrar meu abraço
na lembrança de você dizendo caminhar
por uma cidade
desconhecida é tomar a vida
de alguém,
emprestada,
contra a luz (e seu monólogo,
esta milonga), esta
bela infelicidade a jogar
ligue-os-pontos
com cumeeiras, árvores
e sombras do bairro
unidas sem voz
como em uma
língua
de estátuas
Como estou dirigindo?
eu sou o banco de trás, nossa
esfinge possível, e só você
o acrobata, não me vê. amarrado
a este cinto, arrancando com
vagar o seu rosto triste, até
ir embora, só você, um abismo,
não me vê. o dia como um caldo
denso, e o que pode haver de
melhor? a vida é uma canção
de favor, mas agora enfrentarei
algum trânsito: amor e assado
de panela, amor que dorme à
maneira de tarântulas alegres
e verdes e negras. repita comigo:
nenhum coração está completo.
diga comigo: riquixá, larvas,
esperanças enlatadas (todas as
assombrosas companhias), corpo-
rocha, silêncio-lago (soma de
morte e sabor), o movimento
ancestral dos barcos: fiat lux! eu
me satisfaço com a minha casa
e o deserto – ao redor o mundo
descolore –, o próximo passo
pode ser o da terra que desaba,
afundar como caranguejos,
vê essa linha aqui? até você
ir embora, vou deixar as duas
mãos no vidro, como se quisesse
chegar a algum lugar. entre
os finais do grande espetáculo,
você não vê minhas mãos
vazando: como estou dirigindo?
ou: quem é o mais acrobata?