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Oswaldiograma nos 120 anos de Maiakovski

vladimira a fé do vate:
por nossa hóstia de tapioca
o marxismo-leniilismo.

 

Quem não paga dízimo
está roubando de Deus.
Edir Macedo

BARRABÁS E O BISPO

a ligeireza
das pletoras
mais avulta
o seu cariz
de fagulha
apocalíptica:
a opulência
das auras rotas
assestava
só mentiras

apoteóticas
e em operoso
desassombro
arrebanhavam
pobres de espírito
em sermonários
de esquematismos:
de porco e alma
o corpo é lama

só ladravam
aos domingos
os evangelhos
de um bispo
cleptomaníaco
e a Barrabás
esse salmo
atribuíam:
entre o abraço
e o mãos ao alto
a cruz te diz
aceita-me
que te safo.

OFÍCIOS DA CARNE

o açulamento
de um bafejo
comiserava-se
de dulcíssimas canjicas
se no retábulo de pelúcia
um bafo fosse brisa:
na íris flamejante
uma linha em lâmina
sobre a bota branca
quando, sem surpresa
a paulada na cabeça
arriava as quatro patas
na rabiola dos revérberos
e trinando de espasmos
a vitela envolta em visgo
era uma cria semipronta
pendurada pelo umbigo

ali cada dente de aço
só confiava nele para afiar-se:
orgulho e amizade entre
o carniceiro e o amolador
que do esmeril à chaira
doravante retornava
a ofícios bem mais dignos
que tesouras domésticas
ou faquinhas de cozinha
para pânico dos vegetarianos
felizes com o caldo roxo
de suas beterrabas cozidas
e perguntando pelo fio
dos alicates de cutículas

adeus à tabuleta na calçada
(AFIA-SE NAIFAS E FACAS):
agora só o pugilato do abate
e uma picardia de galo de rinha
procurando por veios e juntas
separando as peças
para o enguiço da balança.

OS NOVOS BROQUÉIS

dito um certo oblíquo
de requintes despojado
sem as maneiras finas
do nu e do calvo
libidinoso e dissoluto
feito um fauno
ou antes mesmo um tarado
que se apresenta inconveniente
(de pau duro e pelado)
que atinge de través
como a cilada inevitável
que não é de quina perfeita
como o canto do esquadro
que chega bicudo e hostil
como o cotovelo do gaiato
que alvoroça e aterroriza
a sentinela em sobressalto
que brandindo seu escudo
enfim revida o atentado

mas não um escudo muro
dos de imenso anteparo
e sim um bem pequeno
a bem dizer discoide ou ovalado
um escudo então redondo
(sem as coberturas do biombo)
que para se exprimir corretamente
remove o pó da palavra broquel
– a mesma dos Broquéis de Cruz e Sousa:
um escudo ágil e de estreita loisa
que traz no centro de sua calota
uma ponta muito aguda
(por isso dita broca)
recurso derradeiro de quem
surpreendido sem seu gládio
conserva na própria defesa
o rechaço do adversário.

A CASA NA RUA

a casa grande
sobre rodas
(tração 4×4)
borrifa diesel
engarrafada
pelo tráfego

a mim me vejo
em suas janelas
de vidro negro

mas rente às grossas
esquadrias de aço
quem não me vê
quando passo
quase atropelado?

era uma casa
nada engraçada:
parecia bunker
parecia cápsula.

 

 

Obscuro e rugado como um cravo violáceo
Rimbaud e Verlaine, Soneto do Olho do Cu

DORIAN GAY

um olho do cu
que na sua fome
avessa de esperma
sugasse toda a merda
da sodomia dos poetas
desses de estudadas maneiras
ou maquiados de mil estratégias
e entretanto pelados
da coragem moderna

não penso nada selvagem
como Rimbaud ou Wilde
só penso em alguém
que tirasse do armário
sua parafernália de achincalhes
para dizer que além da alcova privada
(altar da carne feita dádiva de genitálias)
também a vida pública
precisa ser desinfetada
desse odor fétido
de banheiro de rodoviária
onde se mija e se caga
como se o de muitos
jamais fosse casa.

JAMAIS N’ABOLIRA

un signe signé singe
l’alarme mal armée


 Sobre Marcus Fabiano Gonçalves

É gaúcho e radicado no Rio de Janeiro, onde é professor de Hermenêutica e Filosofia do Direito na Universidade Federal Fluminense - UFF. Em 2012 saiu, pela editora 7Letras, Arame Falado, o seu segundo livro de poemas. O autor também publica poemas e ensaios no seu blog.