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Outra versão de Machado de Assis

Do muito já escrito – e repetido para alunos do ensino médio e dos cursos de Letras e afins – sobre a timidez e a fragilidade física de Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908), como deduzir que ele mantinha correspondência com críticos literários? Como supor que redigia afetuosas mensagens de agradecimento, quando alguém o cumprimentava por publicar mais um livro, ou mensagens de felicitação, quando um estudioso do seu círculo proferia uma conferência singular? Como depreender que a atividade literária o predispunha a procurar os amigos, dando por escrito notícias sobre o seu casamento com Carolina de Novais? Como imaginar, enfim, que o exercício profissional era tão intenso, que ele tentava criar laços com intelectuais estrangeiros, por meio de pessoas que conhecia superficialmente, fazendo-se valer de cartas?

Em texto de Renard Pérez para a obra completa de Machado de Assis (publicada pela Editora Nova Aguilar) e também na sumária biografia escrita por Alfredo Bosi estão presentes exemplos da postura acanhada do escritor.

Pérez, para nos dar a dimensão do ponto alto a que Machado de Assis tinha chegado dois anos antes de falecer, reportou-se à cena da posse de um ministro, cena a respeito da qual ele lera em outros biógrafos. Machado de Assis teria estado presente na referida posse, sendo depois descrito com recurso aos adjetivos “tímido”, “arredio” e “comedido”, entre outros. Já era famoso, mas não fazia dessa fama salvo-conduto para qualquer ganho ou vantagem extra na carreira.

Bosi falaria em “um feitio de ser reservado e tímido” e igualmente mencionaria uma “ativa sociabilidade no mundo literário”, dando porém ênfase à faceta aqui citada em primeiro lugar. A tal faceta, associaria ainda o propalado “absenteísmo político” de Machado de Assis, opção dos estudos literários que pode ser mais uma forma de isolar Machado de Assis, isolando algumas atitudes edificantes que ele teve, na condição de intelectual e de missivista.

Já a interpretação das cartas escritas por Machado de Assis, ou mesmo a mera alusão às cartas, parece restrita aos estudos que resultam de um recorte muito preciso da obra machadiana, embora saibamos que:

(…) a correspondência coloca desafios consideráveis ao investigador que com ela lida. Na fronteira entre o relato de acontecimentos e a sua interpretação subjectiva, numa tensão permanente entre o divulgável e o segredo, situada na confluência da esfera pública e da particular, a correspondência constitui um dos modos mais fascinantes de estudar uma época, mas a sua sobrevivência à passagem dos séculos encontra-se condicionada, à partida, pelo olhar que os contemporâneos lançam sobre ela1.

Ao ler seu epistolário, ficamos a saber que as conquistas da carreira advinham também dos contatos que a escritura das cartas proporcionava, e não necessariamente do brilho ou da exuberância em situações de convívio social, o que nem é expectável de um escritor, como se fosse uma regra.

Machado de Assis utilizou a correspondência para viabilizar projetos no âmbito da cultura, era também dessa forma discreta que trabalhava para ver a cultura brasileira mais sólida.

Às vezes num tom paternal, progredia na tarefa auto-imposta de apoiar e buscar apoio para o exercício da escrita ficcional e confessional. Lúcia Miguel Pereira, conforme pontuou Marcos Antonio de Moraes, considerou as cartas triviais. “Na fortuna crítica dacorrespondência machadiana, nota-se grande oscilação valorativa de julgamentos”, afirmaria Moraes.

No entanto, no mesmo ano de 1936, enquanto Lúcia Miguel Pereira desvalorizava as cartas machadianas, Sérgio Buarque de Holanda, ao tecer considerações sobre o que chamou de descompasso da sociedade a que Machado de Assis pertencia, descompasso entre um desgosto e uma postura frontal, diria:

Tornando possível a criação de um mundo fora do mundo, o amor às letras não tardou em instituir um derivativo cômodo para o horror à nossa realidade cotidiana. Não reagiu contra ela, de uma reação sã e fecunda, não tratou de corrigi-la ou dominá-la; esqueceu-a simplesmente ou detestou-a, provocando desencantos precoces e ilusões de maturidade. Machado de Assis foi a flor dessa planta de estufa.2

Confiar nele próprio como pensador e disseminar ideias tanto quanto estava ao seu alcance, parece nunca ter bastado para que outros intelectuais brasileiros admirassem o tipo de inconformismo, de pedagogia e a rede criada por Machado de Assis.

Hoje, ganharíamos se o grande público fosse capaz de aferir essa parte do trabalho de um intelectual de renome, com a ajuda que nossos intelectuais podem prestar, mediante trabalho continuado de pesquisa e de divulgação.

Tendo em conta o possível lapso entre os rótulos encontrados na fortuna crítica e os atos concretos de Machado de Assis, relembraremos a busca árdua, empreendida por ele, de um sistema literário brasileiro, busca esta que não se confundia com a filiação do escritor a uma escola literária. “Machado julgava necessário que o escritor brasileiro, sem deixar de ser brasileiro, estivesse consciente de que sua obra pertencia a uma tradição universal: a literatura”, já disse Rego.

As referências romanescas a Laurence Sterne, Robert Burton, Luciano de Samosata etc, fazem desconfiar que a tradição literária já o havia influenciado mais do que a alguns intelectuais brasileiros contemporâneos dele. Pensando nisso, sublinhamos que Machado “era bastante exigente quanto aos livros que possuía”, palavras do mesmo Rego.

Machado de Assis passou a ser identificado com um tema ou abordagem presente nos romances da segunda fase. À medida que ia amadurecendo, descrevia com mais propriedade o lado negativo dos homens. A negatividade, mostrada com ironia nos textos ficcionais de Machado de Assis, pode afinal não ser determinante nas cartas – e elas constituem outra fonte para o conhecimento de Machado de Assis. Trata-se de um procedimento retórico útil à criação dos romances, mas inexpressivo na tarefa de desnudar outro lado do intelectual Machado de Assis.

Terão as cartas diferenças suficientes para caracterizar Machado de Assis com mais rigor e mais isenção, relativamente ao discurso que se encontra na fortuna crítica e que por motivos diversos pode produzir algum ruído quando disseminado para o público do ensino escolar obrigatório, por exemplo, pouco familiarizado ao discurso académico? Os críticos que o querem orgulhoso por pertencer à elite carioca, encontram no texto das cartas sustentação para esse juízo? Como terão chegado a essa conclusão?

Se a troca de missivas foi intensa, havemos de interpretar a abertura demonstrada pelo escritor para se corresponder, mas está ao nosso alcance, igualmente, ir além disso.

Podemos refletir sobre a tarefa do professor que depara com a dificuldade de contextualizar a obra machadiana sem se restringir a noções muito difundidas e que, eventualmente, acabam por conferir uma ideia de certa forma fechada e caricata do ofício, da obra e do homem.

Encontramos sustentação teórica para nosso desconforto quanto à formação de professores para a lecionação de literatura e, por que não, para nossa reivindicação de uma leitura mais atenta do epistolário de Machado de Assis, nas palavras de Paulo de Medeiros:

Se os estudos literários não tiverem uma função predominantemente ligada à preparação de professores, o que é o caso nas universidades que conheço de mais perto, quer nos Estados Unidos, quer na Holanda, facilmente poderão ser vistos como um luxo já que se torna difícil especificar exactamente para que é que servem.3

Também as palavras de Tzvetan Todorov, em entrevista concedida há cerca de dois anos e meio à revista Bravo!, ajudam-nos a circunscrever melhor nossa reivindicação de maior atenção ao epistolário de um escritor célebre:

O bom crítico – e também o bom professor – deveria recorrer a toda sorte de ferramentas para desvendar o sentido da obra literária, de maneira ampla. Esses instrumentos são conhecimentos históricos, conhecimentos linguísticos, análise formal, análise do contexto social, teoria psicológica. São todos bem-vindos, desde que obedeçam à condição essencial de estar submetidos à pesquisa do sentido, fugindo da análise gratuita.4

O próprio Todorov já defendera em publicação anterior à que lançava no Brasil por volta da altura da referida entrevista, uma poética que combatesse o “desequilíbrio maciço” que “caracteriza a história dos estudos literários”, feitos às vezes de “observações (…) incompletas e grosseiras”5.

Num período de ataque a um espaço privilegiado da produção intelectual nacional e a seus agentes, num período de greves tão longas nalgumas das instituições de ensino superior da federação, são oportunos quaisquer esclarecimentos acerca do espírito de missão com que uma parte dos escritores brasileiros trabalha, afinal a história desses homens passa pela universidade, em alguma instância.

Buscamos fundamentação, mais uma vez, na percepção de um observador privilegiado, que conhece de perto mais de uma realidade de pesquisa acadêmica e de ensino: “Se se atentar na actual condição dos estudos de letras a nível universitário não será talvez exagerado recorrer a termos como crise, arruinamento, dissolução” (MEDEIROS, 2005, p.293).

Machado de Assis, desde que apresentado aos alunos como intelectual de raciocínio límpido, homem organizado e atuante, sintonizado com obras cruciais do nosso passado literário, é um expoente que reforça o sentido das universidades no Brasil.

Ele não frequentou a universidade, foi ensinado em casa até certa idade, onde aprendeu latim e francês, e depois foi autodidata; não viveu no Estado que alberga a universidade brasileira de melhor classificação no ranking internacional divulgado em setembro de 2011 (QS World University), porém teve uma trajetória de vida e de esforços profissionais que conta uma história a louvar e eventualmente a imitar, pois é representativa da função do intelectual dentro de um país desejoso de raízes profundas na cultura letrada.

Em fins do século XIX e início do XX, Machado de Assis tinha projetos culturais a apresentar e a valorizar. Escrevia sobre o jornal e sobre o livro, com a envergadura de quem efetivamente contribuía para a veiculação de notícias e de ideias no país: “Se argumento assim, se procuro demonstrar a possibilidade do aniquilamento do livro diante do jornal, é porque o jornal é uma expressão, é um sintoma de democracia; e a democracia é o povo, é a humanidade” (MACHADO DE ASSIS, 1992, III, p.948).

E nós, os académicos do século XXI, não temos projetos? Como os estruturamos e como os apresentamos? É indispensável tê-los, considerando sobretudo o desafio que ora se afigura: apresentar à sociedade brasileira uma universidade de papel decisivo na cultura nacional. “Hoje em dia é por demais óbvio que a universidade em geral e, mais especificamente, os estudos de letras, necessitam de uma mudança radical” (MEDEIROS, 2005, p.295)

A confusão que envolve a universidade, perceptível nos jornais impressos, nas suas edições para a Internet e nas reações dos respectivos públicos leitores, confusão que se adensa por ocasião de greves e de reivindicações várias, confirma a necessidade de legitimar o papel do intelectual brasileiro que as instituições de ensino, públicas ou privadas, de excelência reconhecida ou medianas, podem ajudar a florescer. Incidindo sobre a figura do intelectual e sobre o meio em que ele se forma (e que pode ambicionar melhorar), as universidades estarão a contribuir muito. Estarão a contribuir para uma maior compreensão dos serviços que os professores universitários e os estudantes já prestam e podem vir a prestar à cultura nacional.

Quais as novidades, urgentes, capazes de fortalecer o trabalho de professores, de críticos literários, de jornalistas, de editores? Caso não as forjemos, caso não trabalhemos para propor comportamentos e linhas de raciocínio que corrijam as distorções na interpretação de numerosos episódios da cultura e de seus representantes, estamos a pôr sob suspeita aquilo que a universidade faz. Estamos colocando sob suspeita aquilo que agentes da universidade e seus objetos de estudo ofereceram como legado e como lição.

A crise dos estudos literários tem sido admitida e discutida em veículos de comunicação de massa6 e o objeto de estudo dos críticos, que neste caso são as cartas de Machado de Assis, continua a configurar documento passível de leitura.

De todo modo, e recentrando a questão nas qualidades das cartas machadianas, digamos que elas têm atrativos próprios, capazes de captar o interesse dos críticos, dos professores do ensino obrigatório e de seus alunos. Não são atrativos do ponto de vista do estilo, quiçá da profundidade da análise psicológica, mas o são no que toca à disponibilidade de Machado para falar dele como intelectual e como homem, ora com delicadeza, ora com pulso. Seria mais proveitoso que académicos, professores do ensino obrigatório e alunos em geral – todos leitores em potencial -, conhecessem as cartas aquando dos primeiros contatos com Machado de Assis.

Há vislumbres do lado amoroso e cúmplice de Machado, sobretudo quando se lê o que ele escrevia à mulher Carolina: “A casa há de encontrar-se, porque empenha-se nisto o meu coração… 23 dias; é quanto basta para que o amor faça um milagre” (MACHADO DE ASSIS, 1992, III, p.1.029).

Há ressalvas relativas a defeitos que o trabalho dele, segundo a defesa que ele próprio fez, nunca teria: “O que me obriga a tomar a pena é a insinuação de furto literário, que me parece fazer o Sr. Sílvio-Silvis, censura séria que não pode ser feita sem que se aduzam provas” (MACHADO DE ASSIS, 1992, III, p.978).

Há reflexões feitas por ocasião do falecimento de Eça de Queirós e que incluem a perda de outros escritores de relevo: “Quando a morte encontra um Goethe ou um Voltaire, parece que esses grandes homens, na idade extrema a que chegaram, precisam de entrar na eternidade e no infinito, sem nada mais dever à terra que os ouviu e admirou” (MACHADO DE ASSIS, 1992, III, p.933).

Em texto do início da década de 60 do século XIX, Machado de Assis pede conselhos a um amigo ilustre, Quintino Bocaiúva, para apresentar ao público uma nova obra teatral de que ele tivera poucas apreciações até então.

Muitos anos à frente, exatamente em 1883, é de Joaquim Nabuco que ele solicita opinião, desta vez para certificar-se da qualidade de Papéis avulsos.

Um pouco mais tarde ainda, em 1895, teria motivos para interpelar Ernesto Cibrão sobre o valor de outra peça.

A polêmica gerada pela crítica de Sílvio Romero tem repercussão na carta que Machado escreve a Lafaiete Rodrigues Pereira em 1898.

A defesa de um livro com o qual Machado simpatizava, de nome Vindiciae, praticada por Belmiro Braga, tem registro na resposta que Machado escreveu em 1899.

No ano seguinte ele traçaria umas linhas para José Veríssimo, com a finalidade de retomar comentários feitos por ocasião do lançamento de Dom Casmurro.

João Roberto Faria e também Maria Helena Werneck revelaram aspectos concernentes ao amadurecimento do escritor e à aplicação dele nas amizades, traços apreendidos da observação atenta das cartas.

Descortinamos a admiração de Machado de Assis por outro grande nome da literatura nacional, José de Alencar. João Roberto Faria mostra que Machado de Assis e José de Alencar admiravam um ao outro e, nas primeiras aproximações, Machado de Assis foi inclusive convidado por José de Alencar a promover outro escritor, o jovem Castro Alves. Machado de Assis era crítico de teatro e Alencar, que recebera Castro Alves para conhecer-lhe poemas e uma peça teatral, estava confiante nas qualidades de Machado de Assis para tal empresa. Lançou o repto pelo Correio Mercantil, em uma carta pública, que dizia: “O senhor foi o único de nossos modernos escritores, que se dedicou sinceramente à cultura dessa difícil ciência que se chama crítica” (FARIA, 2000, p.130).

Igualmente somos despertados para a generosidade de Machado de Assis, perceptível, por exemplo, em “Não se importe de não ser alegre, também eu não sou, ainda que pareça menos triste. Mas há em tudo um limite. Sacuda de si esse mal. A arte é um bom refúgio. (WERNECK, 2000, p.141).

Apontado outrora como “acadêmico ideal”, por Mário de Andrade, e depois como homem capaz de fazer “aquela salada, a que se referia Montaigne, onde entram Voltaire, a instituição do júri, a carta que o grão-turco escreveu do próprio punho no jubileu do Papa, as saudades de Granada, algumas reflexões sobre o Corão…”, por Gustavo Corção (MACHADO DE ASSIS, 1992, III, p.325), ou simplesmente o responsável por aquela “salada intelectual”, nas palavras de Roberto Schrwaz retomadas por Enylton de Sá REGO (1989), Machado de Assis lidava muito bem com uma autonomia capaz de permitir de tudo um pouco, inclusive cartas práticas, cartas leves, pontuais e breves, cartas que espelham uma disciplina de trabalho.

As cartas fazem referência ao fluxo de trabalho, ao desejo genuíno de pôr em funcionamento determinadas revistas às quais ele estava associado (a José Veríssimo, por exemplo, ele escreveu em Abril de 1883 dando felicitações pelo empenho com a Revista Amazônica), à busca de espaço físico para as reuniões da ABL e mais.

Feitas as contas justas, são parte de um respeitável legado, na medida em que Machado de Assis foi ele mesmo crítico literário, poeta, cronista, contista, foi romancista, tradutor e articulista.

Sem procurar nas cartas o dito pessimismo dos romances, mesmo porque existe desde os anos setenta do século XXI contestação para tal rótulo, na produção académica de professores brasileiros residentes nos Estados Unidos, por exemplo; sem esperar a paródia dos textos antigos, interessante presença hoje sugerida por essa mesma linha de leitura dos romances, é preciso produzir discursos novos para um público que ainda não se sente incluído nos domínios da cultura letrada no Brasil.

É importante fazer sobressair, de uma figura emblemática como Machado de Assis, o intelectual que distingue todo o trabalho intelectual, que dá sentido à epistolografia e ao hábito de ler jornais, aos discursos inspirados e às associações culturais. Tenhamos em conta que:

A obra de um dado autor e a interpretação que dela fazemos decorre, pois, e antes de mais, da ‘impressão’ que temos a respeito da pessoa que escreveu essa obra, como se antes do texto estivesse anteposta a face, o rosto de quem escreve. Não é, portanto, estranho que o rosto de quem escreve seja o primeiro texto com que nos deparamos…7

A universidade que produz em exclusivo para seus acadêmicos – aos quais, neste caso concreto dos estudos literários, a debilidade de Machado de Assis parecia bastar como retrato transmissível a um número elevado de leitores – e que não se perturba nem se manifesta quando seus discursos geram uma visão deturpada dos intelectuais de seu país -, tem-se mostrado fadada ela própria à incompreensão.

No que concerne aos amantes das Letras, ficam algumas perguntas derradeiras, talvez equivocadas e circulares: para quem é modelar um Machado de Assis descrito insistentemente como gago, epiléptico, encolhido, porta-voz de uma sociedade centrada no derrotismo e no cinismo? Por quem nos tomam aqueles que nunca estiveram na universidade ou que não prezam – esperamos que por deformação originada ao longo do percurso escolar e, portanto, algo corrigível – o perfil de um universitário ou de um intelectual autodidata? Do muito já escrito – e repetido nas universidades e no ensino obrigatório – sobre a timidez e a fragilidade física de Machado de Assis, como deduzir que “Neste momento só três autores em toda a história da literatura no Brasil estão completamente representados na Amazon.com. Um é Machado de Assis”?8.

Referências Bibliográficas

BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. São Paulo, Cultrix, 1999.

GALVÃO, Walnice Nogueira e GOTLIB, Nádia Battella (orgs). Prezado senhora, prezada senhora: estudos sobre cartas. São Paulo, Companhia das Letras, 2000.

MACHADO DE ASSIS. Obra completa. Rio de Janeiro, Editora Nova Aguilar, 1992.

MEDEIROS, Paulo de. Literatura, instituição e sociedade, Máthesis, 2005, pp.293-309.

MORAES, Marcos Antonio de. Epistolografia machadiana. Estud. av. [online]. 2010, vol.24, n.69 [cited  2012-01-13], pp. 417-424.

REGO, Enylton de Sá. O calundu e a panaceia: Machado de Assis, a sátira menipéia e a tradição luciânica. Rio de Janeiro, Forense Universitária, 1989.

Notas

[1] ANASTÁCIO, Vanda (org.). Correspondências (usos da carta no século XVIII). Lisboa, Edições Colibri, 2005. p.9.

[2] HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. São Paulo, Companhia das Letras, 2006. p.162.

[3] Paulo de Medeiros, “Literatura, instituição e sociedade”, Máthesis, 14, 2005, pp.301-302.

[4] Entrevista de Tzvetan Todorov concedida a Anna Carolina Mello e André Negri, “Literatura não é Teoria, é Paixão”, Bravo!, 2010, consultada em 09.01.2012.

[5] TODOROV, Tzevtan. Poética. Tradução de Carlos da Veiga Ferreira. Lisboa,Teorema, 1986. p.19.

[6] O jornal Expresso, de Portugal, publicou à p.36, a 03 de dezembro de 2011, a seguinte observação, formulada a partir do aparecimento de outra publicação sobre o tema da crise dos estudos literários: “O suplemento literário ‘El País’ publicou na semana passada uma ‘radiografia da crítica literária’, sob a forma de um inquérito feito a 20 ‘influentes líderes da opinião literária da Europa e da América’ (assim os apresentava o jornal). Desse inquérito, podemos tirar as seguintes conclusões: a crítica literária está em crise em todo o lado e em risco de se tornar uma coisa do passado; a crítica literária não está a morrer de morte natural (ninguém defende que se tornou obsoleta) …”.

[7] António Carlos Cortez, “Camilo Pessanha por António Osório ou o Romance do Ensaísta”, Letras com vida, 1, 2010, p.105.

[8] Entrevista de Errol McDonald concedida a Isabel Coutinho, “’Hoje ninguém mostra os livros que tem na estante para nos dizer quem é’”, Ípsilon, 2011, consultada em 09.01.2012.


 Sobre Betina dos Santos Ruiz

Doutora em Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Docente na Escola Superior Artística do Porto - Guimarães.