Entrevista com Luciano Figueiredo
1. O que achou da exposição “A NOVA UTOPIA” como conjunto?
LF: A exposição foi concebida por Alberto Saraiva a partir dos poemas de Régis Bonvicino e principalmente do poema – então inédito – “A nova utopia”. A exposição utiliza vários suportes: primeiro uma projeção noturna e ao ar livre na fachada do prédio do poema intitulado “Frontispício”, depois, e já dentro do espaço da instituição, e ao longo da vitrine de 12 metros, expõe um poema que reflete sobre o Facebook (“Tempus fugit”) e, na galeria de arte, uma outra instalação com 12 monitores, que projetam na sala escura, vídeos gravados onde jovens falam trechos escolhidos de “A nova utopia”. No centro desta sala foi colocado o poema-objeto, o trabalho que fiz em parceria com o Régis, com uma frase extraída do texto e inscrita uma folha de papel Arches dobrada e em vários sentidos, direções, e pintada de diferentes amarelos para cada dobra, de maneira que a estrutura favorece uma dinâmica planar para a leitura. Uma leitura tridimensional. Assim, posso afirmar que, a realização da exposição tem em sua variedade de suportes um forte aspecto experimental, a mostrar que, com isso, a poesia e as outras artes ganham ao se inter-relacionar. Estabelece-se um embate de linguagens que é próprio da arte, ou seja, não concluir, deixar em aberto fricções e possibilidades.
2. Como o seu objeto se relaciona com o todo?
LF: O objeto que fiz integra o conjunto de variados suportes da exposição e por outro lado, muito ambiciosamente ao lograr mais uma realização em algo que sempre me foi muito caro que é o espírito de colaboração e principalmente com poetas. Desde cedo gostava de trabalhar com poetas. Muitas foram as colaborações com, entre outros, Óscar Ramos, Torquato Neto, Wally Salomão, Antonio Cicero, e diversos artistas de outras áreas. Trata-se do que ainda se pode chamar de interação das artes. Um terreno fértil e para o qual eu estou aberto.
3. O que a exposição diz para a cena de artes plásticas e poesia no Brasil?
LF: Inicialmente, a exposição, no caso de um poeta que escreve em linhas e estrofes, faz parte do programa pioneiro e ainda único no Brasil dedicado à poesia visual e que se passa no Oi Futuro- Ipanema, sob a direção de Alberto Saraiva, já há alguns anos. A existência desse espaço e programa enfatiza a interação das artes, conceito atual e defendido pelo que se entende por arte contemporânea. Tem avançado bastante e mescla-se com as artes visuais e também, nesse contexto de ampliações, com o que se chama de poesia visual, distante dos cânones que a poesia concreta propôs e realizou nos anos 1950, 1960 e 1970.
4.Como vê o trabalho de Régis Bonvicino como poeta na exposição e quanto à sua própria obra?
LF: Vejo o trabalho de Régis Bonvicino como resultado de um processo criativo todo dele, numa via que, de certa forma, está na contracorrente de certas tradições da poesia brasileira. Conhecemo-nos há muitos anos e esse trabalho que fizemos juntos marca um reencontro. Com espanto, atualizei-me com sua subjetividade que capta tão explicitamente as coisas e imagens do mundo – sua poesia não é confessional ou “filosofante”. Não sou crítico literário, porém, sempre fui e serei voraz leitor de poesia. Quando leio Régis Bonvicino, sinto uma poesia singular, não abstratizante, forte, a merecer mais atenção, sempre. Espero que outros leitores sintam isso também e confirmem minha maneira de vê-la.