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Dois poemas

ainda assim

arriscar um poema que não
seja cálculo
que a forma
fosse subtraída
como em um assalto

de próposito

só impulso
de pensamento
um fluxo
de algo que surge
como o que é inexplicável

meio sem querer

todo desejo
de escrever poesia
sem tempo ou espaço
é cartada sem curinga
como um blefe

de caso pensado

em todo verso
existe a necessidade
de morte
das ideias que surgem
como do nada

oportunamente

apenas aquilo que é
espontâneo
se destaca se o caso for separar
de si toda forma de eu

como um bilhete de suicida.

réquiem para um poeta vivo[1]

para Tico.
Poeta, coveiro, suicida: homem.

Embora palavras
não passem
de nuvens
ainda que
formatos indeterminados
do imaginário
discordem tolos
teimam contornos
meramente sugestivos
fugidios da
primeira arquitetura
*
dos símbolos

também agulhas
 podem ser
 pois picam
alfinetam juízo
coçam por
dentro a
tragédia infinita
anunciado assassinato
no texto
difícil do
golpe arriscado
*
da escrita

talvez lápides
obras invisíveis
mas sempre
vermelhas como
vírgulas suicidas
do mergulho
do ferrão
certa loucura
mistura nariz
de palhaço
no veneno
*
de escorpião

pudera conceitos
dessem conta
enquanto letras
que enterram
a música
interna do
sentimento quando
silêncio um
grito pressentido
acorde final
ferroada poética
*
de marimbondo

naqueles signos
construções narrativas
onde veículos
fatais se
movem sempre
ou nunca
via contramão
o caso
daquele homem
argumento de
si mesmo
*
do não

nas imagens
sempre algo
de morte
estrutura a
nebulosa arte
do sonho
ressignifica mundo
num blefe
o último
da forma
dialética
*
de vagabundo

[1] [1] Esse poema foi escrito como crítica cinematográfica ao filme “Ferroada” de direção de Adriana Barbosa e Bruno Mello Castanho.


 Sobre Rodrigo S. Cintra

Rodrigo Suzuki Cintra, filósofo e poeta, é bacharel em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (Largo de São Francisco/USP) e bacharel em Filosofia pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH/USP). Realizou o mestrado (2008) e o doutorado (2012) na área de concentração Filosofia e Teoria Geral do Direito da Faculdade de Direito da USP. Estudou a obra de Shakespeare na University of Cambridge, na Inglaterra. Realizou suas pesquisas de Pós-Doutorado na Universidade de Coimbra, em Portugal (2014), no Programa de Pós-Doutoramento em Democracia e Direitos Humanos. É Socius in Collatione Juridica Conimbrigensi (Parceiro na Discussão Jurídica Coimbrã), pelo Centro de Direitos Humanos do Ius Gentium Conimbrigae da Universidade de Coimbra. É membro da International Association for the Philosophy of Law and Social Philosophy (IVR). Está publicando, periodicamente, capítulos do livro "A Galeria Invisível" (Ekphrasis de obras Dadaístas e Surrealistas) no website zagaiaemrevista.com.br. É Professor Adjunto III da Universidade São Judas Tadeu. Atua principalmente nos seguintes temas e autores: relações entre Direito, Filosofia Política e Arte, Direitos Humanos, Ideologia, Sociologia, John Locke, Maquiavel, Shakespeare e Kafka. É um dos editores da Revista Zagaia. Líder do grupo de pesquisa "Revolução 4.0: Ética, Direitos e Arte na Era Pós-Moderna. Poemas do livro Geometrias do Cosmos, Ateliê Editorial, 2019.