ainda assim
arriscar um poema que não
seja cálculo
que a forma
fosse subtraída
como em um assalto
de próposito
só impulso
de pensamento
um fluxo
de algo que surge
como o que é inexplicável
meio sem querer
todo desejo
de escrever poesia
sem tempo ou espaço
é cartada sem curinga
como um blefe
de caso pensado
em todo verso
existe a necessidade
de morte
das ideias que surgem
como do nada
oportunamente
apenas aquilo que é
espontâneo
se destaca se o caso for separar
de si toda forma de eu
como um bilhete de suicida.
réquiem para um poeta vivo[1]
para Tico.
Poeta, coveiro, suicida: homem.
Embora palavras
não passem
de nuvens
ainda que
formatos indeterminados
do imaginário
discordem tolos
teimam contornos
meramente sugestivos
fugidios da
primeira arquitetura
*
dos símbolos
também agulhas
podem ser
pois picam
alfinetam juízo
coçam por
dentro a
tragédia infinita
anunciado assassinato
no texto
difícil do
golpe arriscado
*
da escrita
talvez lápides
obras invisíveis
mas sempre
vermelhas como
vírgulas suicidas
do mergulho
do ferrão
certa loucura
mistura nariz
de palhaço
no veneno
*
de escorpião
pudera conceitos
dessem conta
enquanto letras
que enterram
a música
interna do
sentimento quando
silêncio um
grito pressentido
acorde final
ferroada poética
*
de marimbondo
naqueles signos
construções narrativas
onde veículos
fatais se
movem sempre
ou nunca
via contramão
o caso
daquele homem
argumento de
si mesmo
*
do não
nas imagens
sempre algo
de morte
estrutura a
nebulosa arte
do sonho
ressignifica mundo
num blefe
o último
da forma
dialética
*
de vagabundo
[1] [1] Esse poema foi escrito como crítica cinematográfica ao filme “Ferroada” de direção de Adriana Barbosa e Bruno Mello Castanho.