O menino experimental come as nádegas da avó e atira os ossos ao
cachorro.
O menino experimental futuro inquisidor devora o livro e soletra o serrote.
O menino experimental não anda nas nuvens. Sabe escolher seus objetos.
Adora a corda, o revólver, a tesoura, o martelo, o serrote, a torquês. Dança
com eles. Conversa-os.
O menino experimental ateia fogo ao santuário para testar a competência
dos bombeiros.
O menino experimental, declarando superado o manual de 1962, corrige o
professor de fenomenologia.
O menino experimental confessa-se ateu e à toa.
O menino experimental é desmamado no primeiro dia. Despreza Rômulo e
Remo. Acha a loba uma galinha. No oco do pré natal gritava: “Champanha,
mamãe! Depressa!”
O menino experimental decreta a alienação de Aristóteles. Expulsa-o da sua
zona, com a roupa do corpo e amordaçado.
O menino experimental repele as propostas da prima de dezoito anos,
chamando-a de bisavó.
O menino experimental, escondendo os pincéis do pintor, e trancando-o no
vaso sanitário, obriga-o a fundar a pop art, única saída do impasse.
O menino experimental ensina a vamp a amar. Dorme com o radar debaixo
da cama.
O menino experimental, dos animais só admite o tigre e o piloto de
bombardeiro. Deixa o cão mesmo feroz e o piloto civil às pulgas.
O menino experimental benze o relâmpago.
O menino experimental antefilma o acontecimento agressivo, o Apocalipse,
fato do dia.
O menino experimental festeja seu terceiro aniversário convidando Jean
Genet e Sofia Loren para jantar. Espetados na mesa três punhais acesos.
O menino experimental despede a televisão, “brinquedo para analfabetos,
surdos, mudos, doentes, antinietzsches, padres podres e croulants”.
O menino experimental atira uma granada em forma de falo na mãe de
Cristovão Colombo, sepultando as Américas.
(Publicado originalmente em Poliedro − Roma, 1965/66, Rio de Janeiro,
José Olympio, 1972)