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Só na tradução – Elaine Equi

Só na tradução

Elaine Equi

 

Sempre adorei ler poesia traduzida. Até mesmo prefiro lê-la assim.

A poesia é o som que uma língua produz quando se refugia em outra.

Para tudo o que pensamos não ter conseguido exprimir, é melhor, como dizem, soltar as rédeas da imaginação.

É isso que confere ao poema, mesmo quando medíocre, uma essência inefável.

O prazer do leitor é tanto maior quanto maior for o seu envolvimento.

Uma tradução ruim, uma tradução desastrada, tem um charme todo especial.

O poema é tudo o que o tradutor jamais consegue destruir.

Seu desejo de sobrevivência, sua ânsia de se encontrar desenraizado e de fugir de sua pátria é admirável, eu diria quase viril.

Um poema não traduzido está muito ligado ao seu autor. Nada mais é que matéria-prima.

Um poema intraduzível, com um significado muito bem guardado, com fronteiras muito bem monitoradas, é melhor ignorá-lo em silêncio.

Durante anos, copiei autores de todo o mundo, e então um dia me ocorreu que talvez fosse o tradutor, e não o próprio poeta, que eu estava imitando. Essa ideia me encanta e me encoraja a continuar escrevendo.

Seria maravilhoso aprender francês para poder ler William Carlos Williams.

Os tradutores são os verdadeiros transcendentalistas.

 

Tradução: Érica Castro

 


Found in Translation
Elaine Equi

 

I’ve always liked reading poetry in translation. In fact, I prefer it that way.

Poetry is the sound one language makes when it escapes into another.

Whatever you think you’ve missed is, as the saying goes, better left to the imagination.

It gives even a mediocre poem an ineffable essence.

Greater involvement on the part of the reader leads to greater enjoyment.

A bad translation, a clumsy one, is especially charming.

The poem is whatever cannot be killed by the translator.

Its will to survive, its willingness to be uprooted and flee its homeland is admirable. I almost want to say virile.

An untranslated poem is too attached to its author. It’s too raw.

An untranslatable poem that hordes its meaning, whose borders are too guarded, is better unsaid.

For years, I copied authors from around the world. Then one day it occurred to me, perhaps it’s the translator I imitate, not the poet. This idea pleases me and makes me want to write more.

It would be great to learn French in order to read William Carlos Williams.

Translators are the true transcendentalists.


Copyright © 2007

Found in Translation


 Sobre Elaine Equi

Elaine Equi é uma poetisa americana. Equi nasceu em Oak Park, Illinois e cresceu na região de Chicago. Seus pais emigraram da Itália na década de 1920. Desde 1988 ela mora na cidade de Nova York com o marido, o poeta Jerome Sala.