A Jean-Jacques Viton
Observe
Caminhar por muito tempo capaz de conservar as coisas ao redor
capaz de infinitamente conservar as coisas ao redor
Cabe a ele somente conservar para preservar esta falsa familiaridade
com a palavra para sorrir
Rua Breteuil música ao longe eco muito perto leveza da palavra
cigarro cigarro cigarro faixa fixada sobre o enunciado mesmo das
coisas
E muito perto das faixas o riso de uma outra menina que seria preciso amar
vermelho desvairado escarlate carmim carmesim ocre este que a mão esconde
Erro físico da imagem ou ignorância ou vertigem concreta ou fibras de
copos despedaçados fragmentos isolados de músculos
Ou ainda nervos vencidos pesadamente sem retenção Velho Porto primeiras
horas do dia primeiros copos e jogar ao mar
As primeiras zoologias as primeiras carruagens a efêmera cobertura do
céu a leve emoção por detrás dos primeiros ruídos
Observe
Excessivo provisório de uma liberdade provisória retorna à memória
Vauban o suor sobre os dentes as pedras das calçadas colocadas aos pés dos muros a água
para o café
Dentro das panelas os cartazes a Indochina a Algéria o piche o sal
o peixe os odores do sol a poesia a serviço do povo
E na escrita não havia moral e no poema não
havia objeto uma sopa egípcia verde um pombo recheado
Um prato derrubado mexilhões crus cobertos de pimenta corrida
de pés juntos Cours d’Estienne d’Orves subida em direção a Notre Dame
como saber qual disposição
Para as obras de poesia qual diferença com aquelas do passado
tão exclusivas tão exclusivas hoje no imediatismo
Lorca Césaire livros rasgados cabeça enviesada apoiada neste movimento
que lhe é próprio de frente para trás cabeça dele só
Descoloridas sobre grandes superfícies camadas acumuladas de um
vocabulário não apenas esmagado pelo desejo de conhecimento
Não só pelas práticas pelas incertezas não somente ao
lado e sem ignorar a aparência dos corpos
Observe
Num instante as escritas insuficientes o Péano a maiúscula interditada
o sol recortado e para terminar que regime
Que barricada falsa visão analógica do poema decomposto
por inteiro que grito que fantasma em uma derradeira palavra a paródia
Praça da Ópera nada de grave nada de pânico nunca simular nada
emudecer
Do acaso talvez virá a morte também
durante muito tempo
Janeiro de 2008
Tradução: Solange Rebuzzi
LEGENDES POUR GÉRALD NEVEU
Henri Deluy
Pour Jean-Jacques Viton
Regardez
Marcher longuement capable de conserver les choses d’alentour capable de conserver infiniment les choses d’alentour
Pour lui seul pour conserver pour préserver cette fausse familiarité avec la parole pour sourire
Rue Breteuil musique lointaine écho tout proche légèreté de la parole cigarette cigarette cigarette banderole posée sur l’énoncé même des choses
Et tout près des banderoles le rire d’une autre fille qu’il faudrait aimer rouge éperdu écarlate carmin cramoisi ocre ce que cache la main
Erreur physique de l’image ou bévue ou vertige concret ou fibres de verre brisées fragments isolés de muscles
Ou encore nerfs défaits sans retenue lourdement Vieux Port premières heures du jour premiers verres et pousser à la mer
Les premières zoologies les premiers chars l’éphémère couverture du ciel l’émotion légère derrière les premiers bruits
Regardez
Démesure provisoire d’une liberté provisoire retour à la mémoire Vauban la sueur sur les dents les pavés posés aux pieds des murs l’eau pour le café
Dans les casseroles les affiches l’Indochine l’Algérie le goudron le sel le poisson les odeurs du soleil la poésie au service du peuple
Et dans l’écriture il n’y avait pas de morale et dans le poème il n’y avait pas d’objet une soupe verte égyptienne un pigeon farci
Une assiette renversée moules crues recouvertes de poivre course pieds joints Cours d’Estienne d’Orves montée vers Notre Dame comment savoir quelle disposition
Pour les œuvres de poésie quelle différence avec celles du passé quelles exclusives quelles exclusives aujourd’hui dans l’immédiat
Lorca Césaire livres déchirés tête de biais posée dans ce mouvement qui lui est propre d’avant en arrière tête à lui seule
Sans couleurs sur de larges surfaces couches accumulées d’un vocabulaire non seulement écrasé par le désir de connaissance
Non seulement par les pratiques par les incertitudes non seulement à côté et sans ignorer l’apparence des corps
Regardez
Sur l’instant les écritures indépassables le Péano la majuscule interdite le soleil découpé et pour finir quel régime
Quelle barricade factice vision analogique du poème décomposé en son entier quel cri quel fantasme en un mot derrière la parodie
Place de l’Opéra rien de grave Gérald pas de panique ne jamais faire semblant de ne rien dire se taire
Le hasard viendra la mort peut-être aussi
longtemps
Janvier 2008
Régis, voilà un poème, inédit. Gérald Neveu, un très bon poète (dans l’ambiance du surréalisme révolutionnaire) a été l’un des fondateurs d’Action Poétique, dans les années 50 à Marseille.Il s’est suicidé à l’âge de 39 ans. Les lieux du poème sont des lieux marfseillais; Bien à toi. Henri
Notas da tradutora
Gérald Neveu foi um dos fundadores da revista de poesia Action Poétique que é dirigida por Henri Deluy.
Vauban: bairro da cidade de Marselha.
Le Péano: restaurante em Marselha.
Cours d’Etienne d’Orves: grande praça à moda italiana, onde se encontram galerias de arte, bares e cafés. Localizada bem próximo ao Velho Porto em Marselha.
Henri Deluy nasceu em Marselha em 1931 e vive entre Ivry-sur-Seine (subúrbio de Paris) e Marselha. É um dos principais poetas franceses vivos. Dirige a revista Action poètique, a principal da França, que fundou em 1954. Fez vários trabalhos em parceria com Jacques Roubaud, outro dos grandes poetas franceses da atualidade. Segundo Mário Laranjeira, Deluy luta contra “as velharias poéticas francesas e internacionais e se caracteriza pela busca do contemporâneo”. É filiado ao Partido Comunista francês. E um grande cozinheiro também — fato que revela, sempre, e com orgulho.
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