Skip to main content

Happy Hip Rap Sad Hop: Tyler, the Creator

1

A “crise do verso” tem mais de um século, e já foi, se não definitivamente, exaustivamente debatida. Ao contrário, a crise da poesia, que àquela se seguiu, tem um caráter muito diferente, e ainda insuficientemente discutido. Este texto, no entanto, não trata, mais uma vez (pois já o fiz em várias ocasiões), da notória crise da poesia atual, que costumo resumir como a incapacidade de dar conta poeticamente do mundo contemporâneo, somada à entrega a um prosaísmo desmedido, disfarçado ou não por cortes e margeamentos à esquerda – o que Régis Bonvicino sintetiza como poesia “literária”. Preferi, aqui, discutir onde a poesia não está em crise.

O fato de esse onde não ser o papel, ou seja, de não se tratar de uma poesia escrita ou da escrita, indica, de fato, que em minha opinião atual a poesia escrita ou da escrita se aproxima de uma situação terminal de sua crise. Ela não deixará de ser praticada. Mas duvido que ainda venha a ser praticada com alguma relevância. Posso estar errado. Oxalá esteja errado. Mas não o creio.

Onde a poesia hoje parece capaz de dar conta poeticamente do mundo contemporâneo, além de ser radicalmente poética, no sentido de possuir uma sintaxe não prosaica, é no rap.

Por muitos e muito razoáveis motivos, o senso comum e parte importante da crítica colocam o rap no “nicho cultural” da música popular. Mas rap não é música popular, pela simples razão de que não é música. Ele pode ser acompanhado, marcado e comentado por instrumentos musicais, e pode mesmo, como não é infrequente, incorporar fragmentos de linhas melódicas, mas isso são incorporações, acréscimos, “vestimentas”. A contraprova está nas letras da forma canção. Acredito que, apesar das aparências, letras de música, ao contrário, não são poesia, pois a letra de uma canção não tem autonomia genética em relação à melodia. Por ser congênita à melodia, a letra de música perde ou não adquire autonomia (lei própria) poética, sendo parte inextricável e condicional de outra linguagem que, apesar de usar elementos verbais de tipo poético, não é afinal poesia, mas a própria forma canção. O caso do rap é o oposto. Sua relação com a música, ao contrário de genética, é adventícia.

Rap é o acrônimo de rhythm and poetry, ritmo e poesia, poesia e ritmo, poesia com ritmo. Ora, não existe poesia sem ritmo (a não ser aquela que, por prosaica, da linguagem poética nada possui além da ilusão). A explicitação do ritmo no nome do gênero se explica pelo fato de aquele ser particularmente marcado. Se o ritmo é congênito à poesia, nem por isso é, necessariamente, seu elemento mais evidente. Além disso, trata-se afinal apenas de uma opção de nomenclatura, pois tanto quanto pelo ritmo marcado e marcante, o rap se caracteriza, igualmente, pela forte presença da rima. Seu nome bem poderia ser, portanto, rap, ou seja: rhyme and poetry. Poesia, ritmo, rima: o rap não é, de fato, música popular, mas poesia popular.

Uma análise mais detida revela, inclusive, que não há quaisquer novidades ou diferenças estruturais em relação à poesia letrada. Referindo-me a um famoso rap dos Racionais, observei que

Sua estrutura é a de um poema longo em versos livres. […] Os versos são articulados em pares de rimas, tornando o poema uma longa sucessão de dísticos rimados. Poesia estrito senso. O que diferencia, então, um rap […] de um poema qualquer? Em primeiro lugar, uma forte impregnação entre a estrutura rímica e a estrutura sintática, resultando num marcado paralelismo, no qual a maioria dos versos é uma frase suficiente, sintaticamente isolada, com raros enjambements ou continuações frasais interversos de qualquer tipo, o que reforça grandemente a fragmentação do discurso, além de adequar as frases-versos ao marcado ritmismo do rap. Em segundo lugar, seu realismo, constituído de elementos de vários tipos, entre formais e semânticos, como a incorporação direta de certo falar particular (forma direta de realismo linguístico) [que não pertence ao eu lírico, mas à sua realidade social]. (L.D., “Diário de um detento”)

Além de não ser música popular, rap não é exatamente sinônimo de hip hop.

O rap nasceu nos EUA no contexto de certa culturalização do movimento negro dos anos 1960 e 1970, que, sob a rubrica geral de hip hop, desenvolveu a partir dos anos 1980 várias linguagens agressivamente afirmativas de uma diferença negra, das vestimentas hiperlargas aos gestos ultramarcados, passando pelo próprio rap e várias formas de street dance. [Teve inicialmente] dois vieses dominantes. Um, tributário de certa postura de gangue, que faz das mulheres e da polícia seus alvos temáticos; outro, marcadamente sociopolítico. Se existe, porém, no rap norte-americano, denúncias de disparidades persistentes entre negros e brancos, com destaque para a população carcerária, seu tema dominante está longe de ser este. Houve um crescente desvio da denúncia social para a afirmação individual, com o rapper marcando sua nova condição de winner, detentor de money and women, em contraste com tantos losers ao redor. O fato de o rap norte-americano não ser hoje predominantemente sociopolítico é indicativo da melhoria da condição socioeconômica e cultural da população negra nos últimos anos, da qual a eleição de Barak Obama não é a marca principal, mas sim o fato de mais de um terço da comunidade negra hoje integrar a classe média norte-americana, cujos padrões de escolaridade, conforto e consumo estão acima dos das classes ricas de muitos países. (idem)

Isto explica, em parte, o fato de o rap, atualmente, estar deixando de ser poesia popular para se tornar, simplesmente, um gênero poético senso lato, capaz de tematizar experiências e visões individuais várias e variadas.

Ao mesmo tempo, a origem do rap no contexto do hip hop explica sua principal característica, ser poesia oral. Pois se tratava de arte social, mais do que engajada, no sentido ideológico tradicional. Social porque criada no contexto do pós-movimento dos direitos civis, em que às conquistas políticas e jurídicas se seguiu a afirmação sociocultural. Afirmação pública, naturalmente (conexa à indumentária, à street dance, ao gestual marcado etc.). O rap é poesia oral porque é poesia pública, ou seja, política, no sentido grego original (relativo à pólis, à cidade). Mas se isso explica sua oralidade e também seu “denuncismo social” original, não implica em sua limitação temática à situação inicial.

Quanto à forma, houve, de início, alguns ou muitos lamentos e reclamações de parte do meio musical norte-americano, principalmente negro, pelo fato de o rap significar um brutal empobrecimento da música negra, a exuberante floração de gêneros e obras nascida da áspera e doce raiz do blues. Mas o rap, por não ser de fato música popular, significou, na verdade, o enriquecimento da poesia popular norte-americana. Nem por isso deixa de ser tributário, também, do blues.

[Eu] diria que a arte norte-americana inteira é mais crua em termos narrativos, isto é, ela é mais capaz de se constituir com uma narrativa dura e realista centrada nas ações – o que é o mesmo que dizer que é melhor na arte da narrativa. No Brasil, isso de as ações virem para o primeiro plano raramente acontece. (Alcir Pécora)

Um blues, como regra, é uma pequena narrativa, um microconto, centrada, portanto, na terceira pessoa (he e, principalmente, she). Já o rap, nisto mais semelhante à poesia lírica, costuma ser uma longa afirmação da primeira pessoa, que, ao mesmo tempo, contrapõe constante e agressivamente à segunda, tu, you, yo. Mas esta mesma contraposição marca uma diferença fundamental com a lírica tradicional, e também informa a dimensão pública do rap. E além de ao rap tampouco faltar afinal a narrativa, ele também costuma ser, como o blues, “duro, realista e centrado nas ações”. Por fim, adquiriu hoje uma característica, em seus melhores autores, que Alcir Pécora aponta em Bob Dylan: “Ele é simultaneamente narrativo e simbólico, por isso, mais abrangente”. E o melhor rapper atual provavelmente é Tyler Okonma, líder do coletivo Odd Future (Odd Future Wolf Gang Kill Them All, também conhecido como OFWGKTA, ou simplesmente OF) – o que mais se aproxima de um verdadeiro punk contemporâneo, ainda que não se trate de um punk obviamente punk à la Ramones, nem de algo como um “neo-pós-punk”, mas no sentido de ocuparem o mesmo lugar do punk a partir do rap.

2

Um punk sutil, é verdade, se a junção deste substantivo e desse adjetivo é possível. Por outro lado, não é possível pensar em outra expressão ao assistir ao clipe de “Yonkers”, com Tyler Okonma delicadamente interagindo com uma enorme barata entre as mãos, como se fosse o filhote de um animal doméstico, enquanto cantofala seus versos algo alucinados de modo quase gentil, até que a engole, sem parar de cantofalar. Uma das grandes sacadas do clipe são as várias dessincronias entre imagem e voz, quando Tyler faz algo que o impede de falar, como engolir a barata e vomitar em seguida (sempre com certa sutileza, pelo gestual, pelo preto e branco e pela forte contraluz, que elimina todos os detalhes e torna tudo um tanto gráfico). Nesses momentos, sua voz segue normalmente, até que sua imagem facial-bucal volta a reencontrar a voz, tudo isso sem cortes. No antefinal, Tyler, ainda delicadamente, se suicida enforcando-se numa corda, e o conjunto do clipe, da barata à solidão do personagem, sempre sozinho em cena, passando pela delicadeza excêntrica, o uso do preto e branco, a referência ao seu psiquiatra e a morte no final, acaba por lembrar Kafka, sem que nenhuma remissão direta seja de fato feita (antefinal porque ele em seguida retorna, como uma caveira tosca feita de uma máscara de pano). O clipe aponta uma ampliação temática do rap para a vida pessoal do rapper, não em relação a quanto dinheiro ganhou no último ano, mas aos seus problemas pessoais e à sua interação com o que o cerca. Em “Yonkers” há, de certa forma, o aparecimento do eu lírico no rap, se o eu lírico não fosse mudo, silencioso, falando através de notas ao leitor (os poemas), e se o rap não fosse falante, falado, dizendo diretamente o que quer dizer. Além disso, o eu lírico é uma persona puramente verbal do poeta, enquanto o rapper que fala de si mesmo é parte persona parte pessoa real, a começar de seu corpo e sua voz. E pensar que tantos poetinhas por aqui falam em “performance” ao ler seus poemas com esse ou aquele acompanhamento ou trejeito.

Outra consequência do verdadeiro performatismo do rap é tê-lo revelado uma forma de fazer poesia particularmente adequada à internet. De modo algo paradoxal, enquanto “Yonkers” aponta para sua sofisticação estética sem perder a dureza do rap, revela a verdadeira dimensão popular dessa forma poética: o clipe teve 80 milhões de visitas. Como eu e Régis Bonvicino afirmamos em outro lugar, isso significa “que a internet não é impermeável nem indiferente à poesia, desde que a poesia não seja indiferente e impermeável à internet, ou seja, às demandas e possibilidades formais do novo meio”. Os poetas da escrita deveriam se ocupar e se preocupar com isso.

Incluindo, naturalmente, os textos. Na terceira seção da criação coletiva “Oldie” (Left Brain), que tomo como exemplo, o tema é ainda o velho tema da “party at the hotel”, “sex, drinks and rap´n roll”, mas a densidade da trama morfossemântica não é para amadores. No primeiro verso, juice e gin são aliterantes, quase paronomásticos. Já os finais dos dois primeiros versos é quase virtuosístico: I got the gin / we get it in, com quase os mesmos sons migrando entre os finais dos versos. No terceiro e quarto, a rima se faz por desmontagem paronomástica: hotel / hoes tell. No quinto e no sexto, repete-se o mecanismo do primeiro par: need a freak / a Nitty beat. Sétimo e oitavo: ass fat / hash at. Trata-se, enfim, de algo que tentei imitar e evocar no título deste artigo, “happy hip rap sad hop” (happy e sad se referem ao hibridismo contrastante entre as duras letras aceleradas e o tom normalmente suave, quase doce, do Odd Future), ou seja, o uso intensivo de monossílabos e dissílabos, levando ao extremo uma das principais características da lírica inglesa (bem como da própria língua) e aproveitando, mais do que eventualmente, as possibilidades de deslocamento, impregnação ou multiplicação de sentidos. Os versos “Bumping oldies off my cellular phone / Yeah, bumping oldies off my cellular phone” (Frank Ocean, seção 6), além de terem um ritmo “batido”, pelas quatro primeiras palavras serem ditas como monossílabos e pela alternância de tônicas e átonas, possuem ao menos três significados: acompanhar batendo com os dedos no celular velhas canções tocadas ali; excluir números antigos da memória do celular; e esmagar pílulas de metanfetamina no celular, para cheirá-las. “My bitch white and black like she’s been mimickin’ a panda” (Tyler the creator, seção 1) se refere às roupas da mulher, vestida de branco e preto como um panda, ao fato de ela ser mestiça de branco com negro e/ou ser mestiça e se comportar (mimic, mímica) como uma branca: hipóteses que não são excludentes e, portanto, informam o verso simultaneamente, numa espécie de caleidoscopia verbal. As referências múltiplas ou cifradas, à diferença de suas equivalentes na poesia erudita, não pedem notas nem incomodam o ouvinte, ao contrário, fazem parte do jogo de seduzi-lo pela possibilidade de reinterpretar os versos ou se surpreender com um sentido esquivo. Do lado do autor dos versos, a multiplicidade de sentidos é outra marca de seu virtuosismo rapper, dirigida a seus pares. Por fim, isso acumula camadas na tessitura de referências, por sua vez sobreacumuladas nos versos que se sucedem, numa espécie de alucinação lúcida para dar conta da loucura líquida da realidade contemporânea. O que é notável, aqui, é se tratar de um tipo de virtuosismo semântico, que se funde ao virtuosismo formal (ainda que muitas vezes este se limite ao par de rimas do dístico) sem comprometer o extremo coloquialismo.

3

A razão original deste texto não era, no entanto, analisar o rap, notadamente o de Tyler Okonma e seu Odd Future, mas sim tentar uma comparação entre a poesia cantofalada do rap e a poesia escrita. Em parte, a resposta está no parágrafo inicial, quando me refiro à incapacidade de a poesia dar conta poeticamente do mundo contemporâneo e ao prosaísmo que a domina, encerrada em certo autismo autossatisfeito, enquanto o rap encara, em mais de um sentido, o mundo contemporâneo e nada tem de prosaico. Mas analisando as letras do Odd Future e de outros rappers, inclusive brasileiros, como os Racionais, chego à conclusão de que a principal diferença está no fato de que o rap consegue fundir estruturas propriamente poéticas, como os dísticos rimados em versos livres que dominam seus textos, a um coloquialismo ao mesmo tempo contemporâneo, forte, agressivo, realista e eficiente. Chega a ser paradoxal, pensando no coloquialismo buscado pelo modernismo poético no início do século XX: pois, neste caso, numa espécie de neomodernismo, o rap mantém o verso livre modernista enquanto recupera o dístico rimado da poesia tradicional, acrescentando à mistura esse coloquialismo radical, além de marcado por um forte poetismo no tecido morfossemântico.

O rap não recuperou o dístico por respeito à tradição poética erudita, obviamente, mas por respeito à rima. Não é possível rimar mais, ou em maior quantidade, do que rimar sempre, ou seja, criar um par de rimas e em seguida outro e assim por diante, até o fim do texto. O rap, por ser baseado e estruturado num ritmo marcado, usa a rima reiterada para marcar esse ritmo. Ao fazer isso, recria o dístico rimado tradicional, agora a serviço de seu coloquialismo extremado. Um coloquialismo, porém, que nada tem de prosaico, mas que se impregna de uma densa trama de relações sonoras. E se de um lado o poema é duro, ambíguo e irônico, em contraste marcado e marcante com o som (no caso do Odd Future, ou Futuro Estranho), essa dureza não compromete, mas retroalimenta a velocidade fluente e fluida da dicção, numa fala tão frenética quanto natural, que parece, afinal, uma tentativa de agarrar o agora com os dentes. Comparado a isso, a poesia escrita parece mera literatura.

4

“Yonkers”

“Yonkers” lyrics

[Verse 1]
I’m a f-ckin’ walkin’ paradox, no I’m not
Threesomes with a fuckin’ triceratops, Reptar
Rappin’ as I’m mockin’ deaf rock stars
Wearin’ synthetic wigs made of Anwar’s dreadlocks
Bedrock, harder than a muthaf-ckin’ Flintstone
Makin’ crack rocks outta pissy n-gga fishbone
This n-gga Jasper tryna get grown
About five-seven of his bitches in my bedroom
Swallow the cinnamon, I’mma scribble this sin and shit
While Syd is tellin’ me that she’s been gettin’ intimate with men
Syd, shut the fuck up
Here’s the number to my therapist
Tell him all your problems, he’s f-ckin’ awesome with listenin’

Wolf Haley, Golf Wang

[Verse 2]
Jesus called, he said he’s sick of the disses
I told him to quit bitchin’, this isn’t a f-ckin’ hotline
For a f-ckin’ shrink, sheesh I already got mine
And he’s not f-ckin’ workin’, I think I’m wastin’ my damn time
I’m clockin’ three past six and goin’ postal
This the revenge of the dicks, that’s nine cocks that cock nines
This ain’t no V Tech shit or Columbine
But after bowlin’, I went home to some damn Adventure Time
(What’d you do?) I slipped myself some pink Xanies
And danced around the house in all-over print panties
My mom’s gone, that fuckin’ broad will never understand me
I’m not gay, I just wanna boogie to some Marvin
(What you think of Hayley Williams?)
F-ck her, Wolf Haley robbin’ ‘em
I’ll crash that f-ckin’ airplane at that faggot n-gga B.o.B is in
And stab Bruno Mars in his goddamn esophagus
And won’t stop until the cops come in
I’m an over achiever, so how ‘bout I start a team of leaders
And pick up Stevie Wonder to be the wide receiver
Green paper, gold teeth and pregnant gold retrievers
All I want, f-ck money, diamonds and bitches, don’t need ‘em
But where the fat ones at, I got somethin’ to feed ‘em
In some cookin’ books the black kids never wanted to read ‘em
Snap back, green ch-ch-chia f-ckin’ leaves
It’s been a couple months, and Tina still ain’t permed her fuckin’ weave, damn

Wolf Haley, Golf Wang

[Verse 3]
They say success is the best revenge
So I beat DeShay up with the stack of magazines I’m in
Oh, not again, another critic writing report
I’m stabbing any blogging faggot hipster with a Pitchfork
Still suicidal? I am
I’m Wolf, Tyler put this f**king knife in my hand
I’m Wolf, Ace going to put that f**king hole in my head
And I’m Wolf, that was me who shoved a c**k in your bitch
(What the f**k, man?) f**k the fame and all the hype, G
I just want to know if my father would ever like me
But I don’t give a f**k so he’s probably just like me
A mothaf**king Goblin
(F**k everything, man) That’s what my conscience said
Then it bunny hopped off my shoulder, now my conscience dead
Now the only guidance that I had is splattered on cement
Actions speak louder than words, let me try this s**t, dead

5

“Oldie”

“Oldie” lyrics

(feat. Tyler, The Creator, Hodgy Beats, Left Brain, Mike G, Domo Genesis, Frank Ocean, Syd Da Kyd, Jasper Dolphin & Earl Sweatshirt)

[Intro: Taco]
Yo, shout out to everybody that worked on the album
You feel me, son? Yo, shouts out to Ty Dollas
Shouts out to Hodgy Daddies, shouts out to Left Brizzle
Shouts out to Domyon, shouts out to Frankie Ocean

Shouts out to Syd the Dude, shouts out to L-Boy Awk

[Verse 1: Tyler the Creator]
Big eared bandit is tossing all his manners
In a bag and wrapping them in seran wrap bandages
Tossing them in baskets with the rest of those sandwiches
So when he says “catch up, nigga” it looks like an accident
Um, flowing like my pad is the maxiest
My bitch white and black like she’s been mimicking a panda
It’s the dark skinned nigga, kissing bitches in Canada
Then kicking all out like Mr. Lawrence did Pamela
Put her in the chamber all against her Wilt Chamberlain
I never had a reason, nigga, I was just able
Not a fucking Logic contradicting dick head
Flyer than an ostrich moshing in a tar pit
Semen scented cheetah printed tee
In that ‘Preme five panel, I’ll repeat it for the season
Previous items in the present
With the normal ass past like I cheated on my team
Man (tried to get that nigga, but, Golf Wang)

[Verse 2: Hodgy Beats]
To have some type of knowledge that is one perception
But knowing you own your opponent is a defeating bonus
I’m Zeus to a Kronos
Cartilage cartridge is boneless
Smiles of cowards in lead showers
Dead spouses in red blouses
Children who fled houses on Mustang horses and went jousting
I’m on my Robin Hood shit
Robbin’ in the hood: whips, drugs, jewels, and your pet
Stealing your rings, coke diamonds and your Vet
Soldiers lace the fuckin’ boot
And salute like the troop when you shoot you gon’ poop
It’s Killhodgy, nigga, stay the fuck off my stoop
And out my Kool aid, Juice

[Verse 3: Left Brain]
Hodgy got the juice, I got the gin
Jasper got the Henny, my nigga we get it in
Wolf Gang party at the hotel
I call a ho, you call a ho, and all the hoes tell
You know Left Brain need a freak
I need a bitch to go down like a Nitty beat
Yup, uh, and her ass fat
Don’t be surprised if I ask where the hash at
Nigga I’m tryin’ to smoke, bitch get higher
Domo where that Flocka Flame? Talkin’ ‘bout a lighter
Still bang salute me or just shoot me
Cause if you don’t salute me then my team will do the shooting
Yea my nigga Ace will pull the black jack
The king Mike G is in the cut with the black mac
Livin’ like the Mafia, bitch, don’t get to slacking up
And if these haters actin’ up, throw ‘em in the aqueduct
Free my nigga Earl, yo, I don’t really ask for much
But two bad bitches in front of me cunnilingus

[Verse 4: Mike G]
What the fuck is caution?
Often I leave you flossin’ and cause exes next to coffins

Lost in translation, the dreams you chase
Got you diving for the plates like you stealin’ home base
That’s great – I’m home alone dreamin’ of two on ones
With Rihanna and Christina Milian, bring it on
And Travis is in the closet organizing and hangin’ the tramp
Three lettermans that Ace has been makin’ him
No strays while we catchin’ matinees, huh?
I’m gettin’ blazed thinking ‘bout those days
I had the top off the GT3 like toupees
One finger in the air, all’s fair when crime pays
My grand scheme of things
Is to be attached to the game like bitches to their wedding rings
And you don’t even need to look
Cause we gleam obscene in the light
Ride slow to my yellow diamond shining like the Batman logo over Gotham
Rock LA to Harlem
If you say “get ‘em Mike G” then I got ‘em
One man squadron, nigga I’m a problem
From Briggs I got bars and plans to
Pimp these Polish bitches into pop stars
Humanity kills, we all suffer from insanity still
And if I said it then it is or it’s gonna be real
OF ‘til I OD and I probably will, uh

[Verse 5: Domo Genesis]
It’s still Mr. Smoke-a-lot-of-pot
Get your baby mommy popped with my other snobby bop
Do I love her, prolly not
Know your shit is not as hot as anything I fuckin’ drop
Bitch I’m in the zone, stand alone, like Macaulay Cock
I’ve been runnin’ blocks since a snotty tot
Big wheel was a big deal with the water Glock
Now I’m all grown, sing songs just to give ‘em watts
Fire what I talk, but still cooler than the otter pop
Op Dom neck shit in your wish list
Mad sick shit, mad dick for your bitches
On some slick shit, your mistress on my hit list
And I’m lifted ‘til I’m stiff out of this bitch
Odd in your motherfuckin’ area
Blood clots give me five feet ‘fore I bury ya
Suicide flow, let the big wave carry ya
Tyler got the mask like he held Jim Carey up
And fuck your team, ho nigga wassup
Wolf Gang so you know we not givin’ no fucks
You know me dog, I’m a chill in the cut so I can
Cut it short, break it down, couple pounds, roll it up
(Get me a Persian rug where the center looks like Galaga)

[Verse 6: Frank Ocean]
Rent a super car for a day
Drive around with your friends, smoke a gram of that haze
Bro, easy on the ounce, that’s a lot for a day
But just enough for a week, my nigga what can I say
I’m high and I’m bi, wait I mean I’m straight
I’m a give you this wine, the runner just brought the grapes
My brother give it some time, Morris, and Day
‘Course you know the vibe’s as fly as the rhymes
On the song, cut and you could sample the feel
Headphone bleed, make this shit sound real

Used face to work the grill, fatburger and fries
Then I made a mil and them psychics was liars
Now, how many fuckin’ crystal balls can I buy and own
Humble old me had to flex for the fogs
Down in Muscle Beach pumpin’ iron and bone
Bumpin’ oldies off my cellular phone
Yea, bumpin’ oldies off my cellular phone

[Verse 7: Jasper Dolphin]
Goddammit, this rapping is stupid and it’s hard
Gotta do it over and over and over again but here I go
Hey it’s Jasper, not even a rapper
Only on this beat to make my racks grow faster
Got a TV show, so I guess I’m an actor
Pot head, half baked, lookin’ like Chappelle
Rollin’ up a blunt with that fire from hell
Still ignorant, still hit a bitch
Wolf Gang, nigga, so I still don’t give a shit
Catch me in the back with Miley on my lap
Bong rips as I feel on that little bitch cat
Hah, nigga came through with a 9 bar real quick
Just for the bitches, little bit of money in my pocket
Fuck it, Wolf Gang

[Verse 8: Earl Sweatshirt]
Yeah, fuck that
Look, for contrast is a pair of lips
Swallowin’ syrup and settin’ fires to sheriffs whip
Fuckin’ all american terrorist
Crushin’ rapper larynx to feed ‘em a fuckin’ carrot stick
And me? I just spent a year Ferrisin’
And lost a little sanity to show you what hysterics is
Spit to the lips meet the bottom of a barrel
So that sterile piss flow remind these niggas where embarrassed is
Narrow, tight line, might impair him
Since I made it back to Fahrenheit, grimey get dinero type
Pharoah fuckin’ ill apperal wearin’ pack of parasite
Then threw his own youth off the roof after paradise
La di da di back in here to fuck the party up
Raiding fridges, tipping over vases with a tommy gun
Never dollars, pop would make it rain hockey pucks
60 day chips from fuckin’ awesome anonymous
Call him bloated ‘til he show them that the flow deluxe
Off the wall loafers, four loko, and a cobra clutch
Vocals bold and rough, evoke a ho’ to pose his drum
Let me hit him, hit it with a stick until the ho was numb
Culprit of the potent punch
Scolding hot as dunking scrotum in a Folgers cup – or Nevada
Driving drunk inside a stolen truck
Shitting like his colon bust
Belly full of chicken and a fifth of old petroleum
Supernova, I’m rollin’ over the novices
I’m roamin’ through the forest and spittin’ cold as the porridge is
Stay gold ‘til the case closed and the story end
Post mortem porkin’ this rap shit and record it
To escort it to the morgue again
Lord of lips, bored of this
Forklift the tippy top, best under 40 list
Stormin’ the gate, who’s sure in the base, scorching ladies
Fortunately these motherfuckers soarin’, torso and g

Get at me with savages, have a pack of Apache
Indian pack of niggas who don’t give a fuck if we nasty as flatulence
As a matter of fact, your swagger is tacky so see me you can’t
Like crunchy black cats in a taxi
Back like lateral passing
With that motherfucking gladiator manner of rapping
As an addict I let percocets and xannies relax me
Fall back if your paddies is Maxi
Please

[Verse 9: Tyler the Creator]
OF, shit that’s all I got
From my bigger brother Frankie to my little brother Tac
From that father figure Clancy to that skatey nigga Naks
Shredding down ‘Fax, Wolf Gang run the fuckin’ block
Storefront, Knee tat
Book cover is the same lettering on lettermans and cotton socks
And grip tape… and my shoes
Um, I was 15 when I first drew that donut
5 years later, for our label yea we own it
I started an empire, I ain’t even old enough
To drink a fuckin’ beer, I’m tipsy off this soda pop
This is for the niggers in the suburbs
And the white kids with nigger friends who say the n-word
And the ones that got called weird, fag, bitch, nerd
Cause you was into jazz, kitty cats, and Steven Spielberg
They say we ain’t actin’ right
Always try to turn our fuckin’ color into black and white
But they’ll never change ‘em, never understand ‘em
Radical’s my anthem, turn my fuckin’ amps up
So instead of critiquing and bitching, being mad as fuck
Just admit, not only are we talented, we’re rad as fuck

Bitches

* Com a colaboração de Luis Dolhnikoff


 Sobre Luis Dolhnikoff

Luis Dolhnikoff estudou Medicina (1980-1985, FMUSP) e Letras Clássicas (1983-1985, FFLCH-USP). Entre 1990 e 1994, co-organizou em São Paulo, ao lado de Haroldo de Campos, o Bloomsday SP, homenagem anual a James Joyce. Em 2005, recebeu uma Bolsa Vitae de Artes para estudar a vida e a obra do poeta Pedro Xisto. Entre 2006 e 20014, foi articulista de política internacional na Revista 18, do Centro de Cultura Judaica de São Paulo. Como crítico literário e articulista, colaborou, a partir de 1997, com os jornais O Estado de S. Paulo, A Notícia, Diário Catarinense, Gazeta do Povo, Clarín e, recentemente, Folha de S. Paulo, bem como em várias revistas. É autor do livro de contos Os homens de ferro (São Paulo, Olavobrás, 1992), além dos livros de poemas Pânico (São Paulo, Expressão, 1986, apresentação Paulo Leminski), Impressões digitais (São Paulo, Olavobrás, 1990), Lodo (São Paulo, Ateliê, 2009), As rugosidades do caos (São Paulo, Quatro Cantos, 2015, apresentação Aurora Bernardini, finalista do Prêmio Jabuti 2016) e Impressões do pântano (São Paulo, Quatro Cantos, 2020).