Determinados anúncios, nos corredores do metrô ou em outros pontos de Paris, irrompem, inusuais, de sua rotina de paredes: a modelo promovendo roupa ou perfume, talvez H&M, talvez Dior, aparece com o rosto coberto por uma burca ou pintado inteiramente com tinta negra. Sua autora: Princess Hijab. Em toda a França, as mulheres foram proibidas de usar burca. Além da crítica social, Hijab cria alguma coisa nova no mundo, hoje, quase sem imaginação, do grafite e/ou da arte de rua. Rompe com a figura, com o figurativismo naïf dos grafiteiros, revertendo o significado da publicidade, do cinema ou da moda. Falando em censura, o Facebook cancelou de seus domínios a página de Hijab, embora ela/ele tenha procurado sempre se manter no anonimato. Não se sabe se Princess Hijab é um homem ou uma mulher. Indagada(o) por Antonio Jiménez Barca, do jornal El País, por que usava um capuz, respondeu: “Porque en un mundo en el que todas las personas juegan a mostrarse, es una forma de remarcarse”. ¿Y por qué burka? “Por lo impactante. Además, yo me nutro del magma de la sociedad, siento en mí también los efectos de la política. Así, yo actuaría como un sociólogo. Pero no es que yo esté a favor o en contra, no es algo tan simplista: tiene que ver también con el miedo, con la ocultación, con la reflexión que conduce a uno a esconderse, con la seducción también”. ¿Prohibiría usted el burka? “En una democracia, no me corresponde a mí decidir eso. Yo me muevo en el plano de lo que impacta y subyuga a la gente”. Hijab demora dez minutos para alterar um rosto. Fotografa-o e se vai, com suas botas militares. Tem 22 anos, informa o repórter do El País.
A Wikipédia a define como a criadora do “hijabismo”, movimento que se propõe a interferir nos anúncios publicitários de cultura mainstream, da moda e das celebridades, e nota nele, hijabismo, um humor, “que tenta expor as contradições do universo do glamour”. Afirmo: é pouco, porque Hijab vai além, tornando a figura complexa, controversa, desfigurada. Um de seus trabalhos mais conhecidos é “Diam’s Ma France à Moi”, um retrato da rapper Diam’s; outro de seus famosos trabalhos é a série “Lafayette”, além da série “Dolce & Gabbana”.
Hijab esconde, oculta para revelar, esse é o mecanismo de seu trabalho. Hijab faz, deste modo, uma leitura arrepiante da propaganda. Inverte o sentido da burca, tornando-a libertadora, na medida em que denuncia o opressivo glamour francês. A “figura” deixa de ser sinônimo de passadismo e de relação direta. Transfigurada revela novas e inusitadas conexões. (Dezembro de 2010)