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Oswald de Andrade, poeta

O que importa assinalar na poética de Oswald de Andrade é a sua radicalidade — avaliação crítica esta levantada por Haroldo de Campos. Construindo seus poemas-minuto — ou micropoemas, ou minipoemas — à base de uma técnica de montagem, haurida de seus contatos com as artes plásticas e o cinema, o poeta modifica a estrutura da poesia até então utilizada — e utilizada até mesmo pelos inovadores vindos de 1922.
Oswald impõe forma sintética a um idioma que tende para o prolixo. Enxuga e emagrece uma língua quase sempre usada para descabelados desbordamentos.

Assim, ressalta o ensaísta de São Paulo, nela há duas vertentes, “uma destrutiva, dessacralizante, outra construtiva, que rearticula os materiais preliminarmente desierarquizados — estando ambas, no entanto, interligadas, permeáveis, como o verso e o reverso da mesma medalha”.

Na sua poesia entram o humor e o lirismo, a piada e a imaginação, a concisão e a fala popular, “os lugares-comuns que se transformam em lugares-incomuns” (para repetir uma observação feliz de Décio Pignatari), a caricatura da retórica, a ironia e a onomatopeia, a associação inusitada de ideias, o descritivo em sínteses luminosas, as deformações sintáxicas e gramaticais. Pratica o que chamaria mais tarde de “crimes contra a carta poética do passado”. Vale-se do humor, porque “no humor reside o catastrófico e talvez no catastrófico toda a natureza humana”.

Vinícius de Morais disse que Oswald, na sua poesia, “cria e insinua quase todos os temas com que iriam lidar os poetas brasileiros”. O que nele era novidade, criação, tornou-se depois, pela ação dos epígonos, imitação, diluição, transformou-se nos cacoetes do Modernismo.