Na antiga Roma, os lictores, oficiais de justiça que caminhavam à frente dos magistrados, para lhes abrir caminho, e chamar a atenção para que lhes fosse prestado o respeito devido, levavam como insígnia um feixe de varas de olmo ou de vidoeiro, atadas com fitas vermelhas, e assentes num poste. Por cima, traziam a lâmina de um machado. Era este o símbolo da autoridade do magistrado para castigar e executar os criminosos.
Em latim, este feixe de varas atadas chamava-se fascis, no singular, e fasces, no plural. As varas, atadas assim em feixe, simbolizaram depois a união, a solidariedade.
O mesmo símbolo foi utilizado depois em diversos emblemas, militares ou outros, em vários países.
Na Itália, derivou em fascio, que designava um grupo politicamente unido. Fasci siciliani, por exemplo, eram os sindicatos de operários e trabalhadores agrícolas, formados na Sicília, nos finais do século XIX.
Na sequência da I.ª Guerra Mundial (1914-1918), formaram-se na Itália associações de veteranos, vocacionadas inicialmente para a defesa dos direitos dos antigos soldados e oficiais. Essas associações tornaram-se depois em organizações, ditas patrióticas e nacionalistas, que se opunham violentamente ao bolchevismo e ao socialismo.
Em 1919, um veterano e antigo socialista, Benito Mussolini, reuniu em Milão um grupo de socialistas decepcionados, anarquistas, revolucionários impacientes e veteranos desempregados, para formar uma força, a que chamou Fasci di Combatimento. Na altura da sua fundação, a nova organização política, adotou, como emblema, o fascio da antiga Roma, querendo significar solidariedade e crença na obediência rígida à autoridade central, com uma relação histórica à grandeza do antigo Império Romano.
Transformado esta em partido político, com o nome de Partito Nazionale Fascista, Mussolini e os seus associados acabaram por se apoderar do poder em Itália, em Outubro de 1922. Com o tempo, o fascismo passou a abranger um significado mais amplo, nem sempre relacionado com as mesmas ideologias políticas. Para os políticos dos partidos das esquerdas, todos os seus opositores das direitas eram fascistas. Isto de “esquerdas e direitas” também tem a sua história.
Na Assembleia Nacional Francesa, em 1879, os deputados conservadores, que defendiam o veto real, agruparam-se do lado direito de presidente; os que se opunham a esse veto, que se apresentavam como patriotas, sentaram-se à esquerda do presidente da Assembleia. Foi assim que começou a distinção. Mas, como a política nunca deixou de ser uma atividade muito confusa, foi, se me não engano, J. Edgar Hoover, diretor da FBI, que introduziu o termo “fascistas vermelhos”, para designar os comunistas.
“Fascista”, segundo outro americano, E.B. White, num artigo publicado no “New Yorker”, é aquele que vota ao contrário de nós. A palavra generalizou-se já tanto que, todo aquele que procura impor a sua autoridade, em qualquer assunto, é alcunhado de fascista. E até já li uma vez que algumas empresas adoptam uma política de “fascismo de software”, por não permitirem aos seus utentes alterar algumas opções dos seus programas. Acabou por ora o fascismo e a sua história etimológica.