1. A “peoplelização” da política e o advento do marketing político que imita os comportamentos das celebridades ao mesmo tempo afetam o patamar da discussão política e reduzem o patamar intelectual dos eleitores e do discernimento eleitoral. Como a política se tornou um meio de ascensão social e a ideologia neoliberal generalizada é a dos novos-ricos, interessa a conquista dos cargos a qualquer preço em nome dos mais pobres. Como não é possível que uma classe social deixe de o ser de um dia para o outro, é mais fácil transformar todos em consumidores do que em pessoas exigentes de qualidade intelectual e moral, e não apenas de bens de consumo. Não sei como os mais pobres não se revoltam contra o miserabilismo cultural a que estão reduzidos pela escola e pelas mídias em particular.
2. Marina Silva constituiu um momento disruptivo nessa ciclotimia partidária, desviou o debate da questão apenas do combate à pobreza e do plano da autoconservação biológica para a questão das relações do homem com a natureza, quer dizer, do que se explora dela, para que fins etc., o que põe em questão o modo de produção do capitalismo contemporâneo, que é o do descartável e do desperdício e da destruição de nosso corpo inorgânico e do orgânico também (questões de poluição, mudanças climáticas, a indústria de alimentos que é envenenamento dos alimentos etc.). Mas o que surpreende mais é que nenhuma candidatura trata da indigência espiritual, cultural, ética e estética da sociedade brasileira, do que pretenderiam fazer para alimentar a vida do espírito, para combater o tédio que é o consumo pelo consumo sem nenhum valor de abrandamento dos costumes e de aprimoramento de si.