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Sylvia Plath e o filho

Suicídio se propaga na família. Não se sabe com clareza até que ponto é uma predisposição genética e até que ponto ter um pai ou uma mãe que se matou torna a opção mais prontamente disponível, embora as duas coisas sejam sem dúvida verdadeiras.

O suicídio é o ponto-final de muitas depressões, mas inúmeras pessoas, apesar de agudamente deprimidas, não se tornam suicidas. Cometer suicídio requer um misto de depressão e impulsividade; a depressão em excesso é passiva, submissa e neutralizante. A dor pode ser intolerável, mas a perspectiva de tomar uma providência deliberada como o suicídio é esmagadora.

O modelo do suicida literário, do escritor cuja sujeição ao ofício pode ser consequência ou causa da mais horrenda depressão, é recorrente; David Foster Wallace é o último elo dessa triste corrente. Sylvia Plath escreveu sobre depressão de forma explícita e lindamente em A redoma de vidro, onde descreveu: “Eu não conseguia reagir. Sentia-me muito quieta e muito vazia, como deve ser o olho de um tornado, avançando monotonamente em meio ao tumulto circundante”. Para qualquer um que já se deprimiu essa descrição soa espantosamente verdadeira.

Ela tinha talento, beleza e era casada com um grande poeta, mas essas exterioridades não conseguem aliviar o desespero de estar no olho do furacão. Por muito tempo, toda a obra de Plath (como a de Virginia Woolf) foi lida através das lentes de seu suicídio. Ela é, na verdade, uma poeta notável, cujos escritos mereceriam nossa atenção mesmo que a autora tivesse vivido feliz seus dias, levando os filhos para jogar futebol no subúrbio.

Agora seu filho se matou, depois de uma longa luta contra a depressão. É triste pensar que nestes tempos de maravilhas psicofarmacológicas e cognitivo-comportamentais, ele não tenha conseguido superar a doença. Não sei que tratamento recebeu ou buscou, mas sei que tinha por herança o olho calmo e vazio, e essa forma tristemente definitiva de lidar com ele. Pais que sofrem de depressão não são capazes de impedir a transmissão da doença.

Os que comentem suicídio implantam a ideia de que se trata de uma opção viável, mas é bem possível que Nicholas Hughes vivesse atormentado por demônios que podia perfeitamente chamar de seus. Toda a vida que se perde para o suicídio é trágica, esteja ou não associada à poesia.

Nota do editor: Nicholas Farrar Hughes foi um biólogo marinho e professor universitário em Fairbanks, Alasca. Um dos filhos da poeta Sylvia Plath com o também poeta Ted Hughes. Em 16 de Março de 2009 Nicholas, em consequência de uma depressão, comete suicídio enforcando-se em sua casa.

 

Quem é Andrew Solomon https://pt.wikipedia.org/wiki/Andrew_Solomon

[1] Publicado originalmente em: “Why the Plath Legacy Lives”, Room of Debate, New York Times, 24 mar. 2009.