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Carolina jornalística

O vídeo-documentário “Carolina jornalística” foi produzido a partir de levantamento iconográfico homônimo que reuniu quase a totalidade dos artigos de jornais e revistas nacionais e estrangeiras publicados acerca de sua carreira como escritora e poeta, entre 1940 e 1977. Reuniu-se por outro lado uma iconografia que contempla também a época em que ela morou em São Paulo e Rio, com  anúncios  e textos  que dão bem uma ideia de como eram os hábitos e a mentalidade da época que tanto marcaram a vida da autora.

Carolina de Jesus, neta de negros escravizados e natural de Sacramento, uma pequena cidade do Triângulo Mineiro, chegou a São Paulo na época do surgimento das favelas. Habitante deste “novo mundo” – mais do mesmo para os desvalidos –, Carolina sempre quis se tornar escritora, um sonho que cresceu oculto no lodo do Rio Tietê por vinte anos, dentro dos cadernos que a “favelada” e catadora de papel recolhia em suas buscas cotidianas.  Repentinamente, a “mais necessária flor do lodo” nasceu e foi colhida pelo jornalista Audálio Dantas, que levou os escritos de Carolina para a ribalta literária, para as luzes da pauliceia.  Mas o vaso em  que  fora colocada  e  as  podas editoriais que  sofrera trouxeram  deleite e  senso  de novidade a todos apenas no começo: Carolina Maria de Jesus tinha raízes, nuances de cor e perfumes próprios, muitas vezes de efeito inusitado, que definitivamente não serviam como mero enfeite, dentro de uma sociedade que a ‘colhera’ para ser apenas uma ‘flor de ocasião’. Assim, mesmo desejada e admirada por muitos, Carolina viveu dois anos de estrelato para em seguida, começar a perder viço e a murchar.  Quase desapareceu, depois de ter se espalhado por todo o planeta, traduzida para mais de vinte idiomas e comercializada em mais de cinquenta países.

A trajetória da curta carreira literária de Carolina – assim como sua recente redescoberta – fazem parte deste documentário, acompanhado por comentários, canções   e poemas da própria Carolina o que faz com que os sessenta minutos de duração se tornem também, além de História, um notável entretenimento.

*Marcelo Ribeiro, psiquiatra e pesquisador.

https://sibila.com.br/wp-content/uploads/2023/02/RibeiroMCarolina.pdf