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Um retrato da miséria em Myanmar

Myanmar hoje

Jet Ni continua ainda na indústria de turismo. Continua inclinando-se respeitosamente aos turistas junto à porta do Mingalar Hotel que, se você lembrar, se encontra no remendo de terra que pertencia, outrora, ao pai camponês de Jet Ni. Agora, em nome do espírito de reconciliação, Jet Ni não irá lamentar que seu pai tenha comido fertilizante e tenha morrido, depois de longa agonia, após haver perdido nossa terra em prol do turismo, três anos atrás.

Mesmo assim, Jet Ni seria negligente se não lhe contasse o que aconteceu com seu tio Myint Aung, do grupo de vilas de Kunlon, perto de Taung Gyi, a capital do Estado de Shan, no Myanmar oriental.

Myint Aung encharcou-se de gasolina e ateou fogo a si próprio em protesto contra o roubo de mais de 5 mil acres da terra de sua fazenda, na sua região, por parte do Comando Oriental das Forças Armadas de Myanmar. O infeliz sofreu ainda mais no hospital mal equipado de Taung Gyi e morreu três dias depois de sua autoimolação.

O câncer cervical de sua mãe vai amontoando faturas médicas uma sobre a outra. Jet Ni pensou em se dirigir às telecomunicações, uma das indústrias mais lucrativas junto com as da caridade e do turismo, para tentar receber um salário melhor. Ele queria comerciar artefatos chineses manufaturados no mercado negro, mas nenhuma das organizações microfinanciadoras que Jet Ni contatou lhe emprestou um centavo.

A prima de Jet Ni, Shwe Mi, está passando cada vez mais por privações em Mong La, uma pequena cidade de Myanmar, que agora pertence à China. Ela escreve que se mudará em breve para Singapura para trabalhar como doméstica. Apesar dessa sua decisão, a pequena irmã de Jet Ni, Mya May, insiste que quer ir encontrar a prima Shwe Mi em Mong La.

O ano de 2015, que começou com a percepção de que todo e qualquer cidadão de Myanmar (53.26 milhões, caso se acredite no censo oficial) teria à sua disposição um empréstimo para desenvolvimento de 500 mil Kyats (500 dólares) como doação das indústrias estrangeiras, graças a entendimentos realizados pelo presidente Thein Sein. A questão terminou com a perda de 30% da moeda corrente, o Kyat, em relação ao dólar.

Jet Ni apreendeu que a economia do país estaria crescendo, dolarizada ou cambodjada.

Só que o povo de Myanmar está cada vez mais parecido com as miseráveis notas de 100 Kyats que se gastam nos bazares de Myanmar. Já a elite do país cheira a menta das notas de 100 dólares americanos.

É claro que 2015 não podia esperar até o mês de novembro para as eleições. Não houve violências eleitorais: apenas irregularidades nas listas dos votantes, no país inteiro. Não houve fraudes eleitorais: apenas irregularidades nos votos adiantados. Nenhum golpe militar. Batam na madeira! Longa vida à Mãe Suu!

Foi tão espetacular a vitória eleitoral da Mãe Suu! Mais desapontados do que os membros do partido do governo apoiado pelos militares ficaram os pundits e os astrólogos que não ligaram para nosso desejo de mudança.

Compreende-se perfeitamente que a primeira coisa que o presidente derrotado, Thein Sein, fez antes de sair foi decretar a lei de sua imunidade vitalícia, cobrindo qualquer ato ou medida tomada durante seu governo.

Não é brincadeira! Estamos falando de um presidente que encarcerou um poeta pacífico por haver escrito um verso assim: “Eu tenho o retrato do presidente tatuado em meu pênis/ minha mulher ficou desgostosa, inconsolável”. Isso sem falar da cumplicidade do presidente – vou mencionar apenas duas delas – nos motins antimuçulmanos no Estado de Rakhtine e no bombardeio das regiões de Kachin e Kohang.

Ao contrário, Mãe Suu embarcou em uma campanha nacional antilixo, recolhendo a imundície com seus próprios dedos. O lixo é uma marca de Myanmar – alguns o chamam de a herança de Myanmar. É claro que Mãe Suu sabe que sua luta contra o lixo ou a mastigação de bétel pode ser mais difícil do que a luta contra o totalitarismo em Myanmar. Seu argumento é o seguinte: “Vejam bem, primeiro eu tenho que lidar com o lixo deixado pelos governos precedentes de Myanmar, desde 1948”. Vida longa à fabulosa Mãe Suu!

Por outro lado, outra façanha de Mãe Suu, a de mandar todos os membros do parlamento de seu partido para um treinamento num hotel de propriedade do seu amigo do peito e proeminente homem de negócios Tay Za, que, provavelmente, é dono de mais da metade dos ativos do país, foi saudada com milhares de polegares para baixo, no Facebook, é claro.

Em Myanmar, hoje, não importa de onde vem seu dinheiro, conquanto você não deixe de depositar um ou dois milhões de Kyats na conta do partido de Mãe Suu, ou de alguma boa causa como a Fundação Khin Kyi. Por sermos budistas, tendemos a perdoar absolutamente a todos, inclusive aos inúmeros assassinos, grileiros, estupradores de crianças. Estendemos igualmente nosso mettā de amor e de indulgência àqueles que cometeram crimes contra a Mãe Terra e crimes contra o Senso Comum. Vida longa à Mãe Suu!

Por falar em injustiça, você está lembrado dos protestos pelo direito à educação em fevereiro e março? A história repetiu-se quando estudantes unionistas chocaram-se com as forças policiais brutais em Letpadan, no dia 10 de março. A UE, que havia treinado as forças que controlaram os motins, condenou o ataque policial, mas decidiu que era necessário um treinamento maior e prometeu mais fundos. No momento há 77 estudantes sendo processados, sendo que cinquenta deles estão presos. Vida longa à Federação das Uniões de Estudantes de Burma!

Obrigado, caros amigos, por sua atenção e apoio em julho e agosto, quando a inundação de Myanmar afetou 1.6 milhões de pessoas e destruiu 1 milhão de acres cultivados. Nós, em Myanmar, respondemos à provação com uma série de medidas inovadoras e inspiradoras para arrecadar fundos. Mesmo a poesia, em Burma, tornou-se pro bono quando alguns dos poetas leiloaram seus manuscritos para ajudar os atingidos pela enchente.

Você deve ter ouvido falar dos desbarrancamentos rotineiros das minas de jade em Hpakant, no Estado de Kachin, ao norte de Myanmar, no ano passado. As vítimas não são as que exploram as jazidas de jade com maquinaria pesada, mas aquelas que têm esperanças de encontrar restos de jadeíte nos aterros das gigantescas minas de jade que pertencem aos homens de negócios, amigos do peito dos poderosos. Só neste ano, estima-se que 31 bilhões de dólares em jade tenham sido obtidos graças às extrações no Estado de Karachin.

Em 20 de janeiro, vinte mineiros que buscavam restos no aterro da mina de jade foram soterrados pela pilha de resíduos que caiu sobre eles. Alguns corpos não foram jamais encontrados. No dia 30 de março ocorreu o deslizamento mortal. Em dezembro, cem catadores que dormiam em suas barracas, num aterro de uma mina de jade, foram mortos pelo deslizamento, ao nascer do sol. Que sua alma descanse! Que você aprecie o estilo de sua joia de jade!

No começo do ano, nosso vulnerável e Venerável U Wirathu causou furor quando chamou de prostituta a senhora Yanghee Lee, especial encarregada da ONU para as questões de Myanmar. Dita senhora não teria ficado tão chocada se tivesse sabido que a língua atual falada em Myanmar está repleta de expletivos figurativos. O Venerável queria certamente significar que a dita senhora se prostitui em benefício dos direitos humanos. Quem é que no Ocidente não se prostitui em benefício dos direitos humanos?

Vida longa à senhora Yanghee Lee, e aos seus direitos!

Apoiado pelo partido do governo, o ano de 2015 viu o mahabata do Venerável U Wirathu (o comitê pela defesa da Raça e da Religião) tornar-se cada vez mais forte. Em agosto, o presidente Thein assinou a Lei de Controle Populacional. A Lei de Conversão Religiosa, a Lei do Casamento entre Pessoas de Fé Diferente, e a Lei da Monogamia, todas elas escritas e tabuladas pelo mahabata.

Os ocidentais são rápidos em rotular o mahabata de neonazista, como se seus monges estivessem prestes a planejar outro Holocausto. Digo-lhe com sinceridade, nós em Myanmar estamos ficando cansados com o número cada vez mais crescente de futriqueiros-forasteiros que, em Myanmar, estão se casando com os nacionais. Para evitar que os futriqueiros de Myanmar futriquem a nação de Myanmar e o Budismo, é imperativo que tenhamos a regulamentação da Lei de Raça e Religião! Vida longa ao mahabata, mas é certo que Jet Ni votará pelo Não! a todas essas leis, se houver algum referendum sob Mãe Suu.

Jet Ni está secretamente apaixonado por uma jovem Bengali-Rohinja que foi recentemente traficada para Yangon, de um campo de Sittwe do Internally Displaced People (IDP). Conquanto ela se converta ao Budismo, Jet Ni não tem que se preocupar se as leis de raça e religião estão ali para ficar.

A última história do ano refere-se à detenção, por parte dos habitantes da cidade de Nat Kham, no Estado de Shan, de um policial que era mula de drogas. O filme do ano em Myanmar foi Eu sou uma rosa, Maung, baseado  no centésimo romance homônimo de Ponya Khin. Não estou pilheriando: é o centésimo romance. Como são prolíficas as escritoras de Myanmar! E pensar que nenhuma delas ainda não encabeçou nenhum festival literário internacional.

O funeral do ano foi o de Aung Thaung, ex-general e ministro, cuja fotografia  onde  ele está sendo ventilado por um oitavo-anista numa cerimônia estatal acabou de emergir, em junho.

O menos excitante enrolamento do ano é, obviamente, a assinatura do NCA – Acordo Nacional de Cessar Fogo. Todos os oito signatários do NCA já haviam cessado de lutar, haviam importado carros de luxo e haviam assinado um acordo de cessar-fogo bilateral com o governo, anos atrás. O Centro de Paz de Myanmar (MPC).

O arquiteto do NCA teve, obviamente, que cumprir a proposta do projeto de paz e o NCA era parte dos resultados propostos pelo MPC.

A despeito das críticas, o MPC permanece tão otimista no que se refere à paz em Myanmar, quanto o é Yoko Ono, no que se refere à paz mundial. Contudo, o povo de Myanmar sabe que o MPC é uma extravagância multimilionária (em dólares), e que Mae Suu disse aos doadores internacionais para pararem de dar dinheiro ao MPC até que ela tenha assumido o controle de todo o processo de paz. Vida longa à Mãe Suu e ao MPC!

O calão do ano em Myanmar é “Mr. President”, que tanto pode se referir a qualquer tipo suspeito, desde um romancista até a um produtor de fios. A celebridade do ano é Nay Shwe Thway Aung, o neto do mui reverenciado, o aposentado do Supremo Than Shwe. Por sinal, em nosso país, os netos de políticos fracassados (e fracassos) nada de melhor têm a fazer. Eles gastam sua vida inteira a defender o legado de seus avôs. Nay Shwe Thway Aung é, definitivamente, o melhor exemplo de uma dessas vidas consagradas.

Após Mãe Suu haver declarado que ela estará acima de quem quer que seja que ela tenha nomeado Presidente, foi chamada à presença do residente do Supremo Than Shwe. Durante as duas horas e meia do encontro, o residente do Supremo, sem formalmente dizê-lo, lembrou à Mãe Suu que ele está acima do Presidente de saída, Thein Sein, bem como do Comandante em Chefe Min Aung Hlaing!  O Supremo ainda dá as cartas, literalmente. Longa vida à Mãe Suu!

2016 vai ser muito, muito quente, segundo o mui amado homem do tempo de Myanmar, U Tun Lwin. A estação das monções está se encolhendo drasticamente, com cada vez menos chuva chegando. Ao mesmo tempo, El Niño vem aí. Quando Myanmar foi atingida por uma onda de calor, alguns anos atrás, havia uma longa fila de corpos nos cemitérios na região central de Myanmar, a região das secas. A tirada da época era a de que pobres têm que fazer fila, mesmo mortos. A época da seca de 2016 pode ser igual àquela, diz o sisudo homem do tempo.

O otimista Jet Ni, olhando para frente, acredita que Mãe Suu, com suas qualidades apaziguadoras, possa restaurar a lei e a ordem e trazer paz e desenvolvimento para Myanmar, num futuro imprevisível.

A transição farsesca de um governo de terror para um governo de erros parece estar virtualmente no fim. Uma transição autêntica do governo de terror ao governo da Mãe Suu está emergindo. Só não espere que Mãe Suu possa mudar o clima. Longa vida à fabulosa Mãe Suu.

Com bastante mettā a para o novo ano,

Jet Ni (Kyak Ni)

Zona do Hotel 24 (Gobingone Village)

Myanmar (Burma)

Myanmar Now

            Jet Ni is still in the tourist industry. Still bowing respectfully at tourists at the door of Mingalar Hotel which, you might recall, stands on the patch of land once owned by Jet Ni’s peasant father. Now, in the spirit of reconciliation, Jet Ni will not whinge how father ate fertilizer and died in agony after we lost our land to tourism three years ago.

            Yet Jet Ni would be remiss if he didn’t tell you about Uncle Myint Aung of Kunlon Village Group near Taung Gyi, the capital of Shan State in eastern Myanmar. Uncle Myint Aung doused himself in gasoline and set himself on fire on 21 May 2015. Uncle was protesting against land grabbing of over 5,000 acres of farmland in his region by the Myanmar Armed Forces Eastern Command. The poor man suffered a great deal more at the poorly-equipped Taung Gyi hospital and died three days after his self-immolation.

            Mother’s cervical cancer collects more and more medical bills. Jet Ni has considered switching to telecommunication, one of the most lucrative industries along with charity and tourism, for better income. Jet Ni wanted to sell black-market handsets from China but all the micro-financing organizations Jet Ni contacted would not loan him a dime. 

            Jet Ni’s cousin Shwe Mi, the Zhang Ziyi lookalike, is in less and less demand in the streets of Mong La, a Myanmar town owned up by China. She wrote that she is soon moving to Singapore as a housemaid. Despite that Jet Ni’s little sister Mya May, who looks up to cousin Shwe Mi, insists she must go see cousin Shwe Mi in Mong La.

            The year that began with the realization that each and every Myanmar citizen (53.26 million if you believe in the official census) in 2015 has a development loan of Kyat 500, 000 (500 USD) to foreign donor industries, thanks to President Thein Sein, ended with the Kyat having lost nearly 30 percent of its value against the dollar. Jet Ni learned, Myanmar economy is increasingly Cambodianized, or dollarized. The Myanmar populace these days increasingly resemble the hackneyed 100 Kyat notes at Myanmar bazaars. The Myanmar elite, on the other hand, smells of mint 100 USD notes.

            Of course 2015 couldn’t wait until November for elections. No election violence though. Only irregularities in voter lists nationwide. No vote rigging. Only irregularities in advance votes. No military coup! Touch wood! Long live Mother Suu!

            So spectacular was Mother Suu’s election victory, more disappointed than the members of the military-backed ruling party were pundits and astrologers who had overlooked our desire for change. 

            Understandably, the first thing the outgoing President Thein Sein did following his electoral defeat was tabling a bill that will grant him immunity for life for whatever he did during his presidency.

            No kidding! We are talking about a president who has jailed a peaceable poet for writing a verse that goes like: “I have a president’s portrait tattooed on my penis/ My wife was utterly disgusted, inconsolable”. Not to mention Mr. President’s complicity in, to name but two, anti-Muslim riots in Rakhine state, and bombing of Kachin and Kokang regions.

            In contrast, Mother Suu embarked on a nationwide anti-littering campaign, picking up trash with her own fingers. Litter is a Myanmar landmark – some people might call it Myanmar heritage. Of course Mother Suu knows that her fight against littering or betel chewing may be harder than her struggle against Myanmar totalitarianism. Her point is this: “Look, I first have to deal with the trash left behind by the previous Myanmar governments from 1948”. Long live awesome Mother Suu!

            However, Mother Suu’s another move, to send the elected MPs from her party to a boot camp at a hotel owned by Myanmar’s top crony businessman Tay Za, who probably owns more than half of the country’s assets, was met with thousands of thumbs down, of course, on Facebook.

            In Myanmar today, it doesn’t matter how you make your money as long as you toss a million Kyat or two into Mother Suu’s party or some other good causes such as Daw Khin Kyi Foundation. As Buddhists, we tend to forgive absolutely everyone, including mass murderers, child rapists, and land grabbers. We also extend our forgiving mettā to those who have committed Crimes against Mother Earth and Crimes against Common Sense. Long live Mother Suu!

            Talking of injustice, you might recall student protests for education rights in February and March? History repeated itself when student unionists clashed with the brutal police at Letpadan on 10 March. The EU, which had trained the Myanmar riot control forces condemned the police attack, but decided more training was needed, and more funds were promised. Currently there are 77 students on trial of which about 50 students are being locked up. Long live All Burma Federation of Student Unions! 

Thank you, dear friends, for your care and support in July and August when floods all over Myanmar affected 1.6 million lives and ruined 1 million acres of farmland. But we Myanmar stood up to the challenge with numerous innovative and inspiring fundraisers. Even Burmese poetry became pro “Bono” when some poets auctioned off their hand-written poems for flood relief.

            You must have heard of routine jade mine landslides at Hpakant in Kachin State, northern Myanmar, the past year? The victims are not those who mine jade with heavy machinery but those who hope to find traces of jadeite at the dumpsites of gigantic jade mines owned by crony businesses. This year alone, an estimated US$ 31 billion worth of jade was hauled out of Kachin State. In January, 20 miners, tailing at a jade mine dumpsite, were buried alive when the heap of refuse collapsed over them. Some bodies were never discovered. The landslide death toll in March was 30. In December, 100 scavengers, sleeping in their tents at the base of a jade mine dumpsite, were killed when the landslide struck at dawn. May their souls rest in peace! May you wear your jade in style!

            Early in the year our vulnerable Venerable U Wirathu caused much furore when he called Ms. Yanghee Lee, the UN special rapporteur to Myanmar, a whore. Ms. Yanghee Lee would not have been so upset if she had known that contemporary Myanmar language is full of figurative expletives. The Venerable surely meant Ms. Yanghee Lee is whoring for human rights. Who in the West isn’t whoring for human rights? Long live Ms. Yanghee Lee, and her rights!

Backed by the ruling party, 2015 saw the Venerable U Wirathu’s mabatha (The Committee to Protect Race and Religion) go from strength to strength. By August, President Thein Sein signed The Population Control Law, the Religious Conversion Law, the Interfaith Marriage Law and the Monogamy Law, all written and tabled by mabatha.

            Westerners are quick to label mabatha neo-Nazi as if the monks were designing another Holocaust. I tell you, we Myanmar people are getting weary of the increasing number of Myanmar fuckers – aliens who are married to Myanmar nationals. To prevent Myanmar fuckers from fucking up with the Myanmar nation and Buddhism, it is imperative that we have the rule of race and religion laws! Long live mabatha, but of course Jet Ni will vote No! to all those laws if there is a referendum under Mother Suu. Jet Ni is secretly in love with a Bengali-Rohinja girl who was recently trafficked into Yangon from an IDP camp in Sittwe. As long as she will convert to Buddhism, Jet Ni should not worry even if race and religion laws are here to stay.

             The news story of the year goes to the townspeople’s arrest of a policeman at Nam Kham, Shan State. The policeman was a drug mule. The Myanmar film of the year is I am a rose, Maung, based on the 100th novel of the same name by Ponya Khin. No kidding! The 100th novel. How prolific Myanmar women writers are. And yet none of them have headlined international literary festivals. The funeral of the year is that of Aung Thaung, a former general and minister, whose photograph of himself being fanned by an eighth grader at a state ceremony emerged in June.

            The most unexciting wingding of the year of course is the signing of the Nationwide Ceasefire Agreement (NCA). All the eight signatories to the NCA had already stopped fighting, imported luxury vehicles, and signed bilateral ceasefire agreement with the government years ago. The Myanmar Peace Centre (MPC), the architect of the NCA, of course had to live up to their project proposal for peace and the NCA was part of their proposed “results”. Despite criticisms, the MPC remain as optimistic about peace in Myanmar as Yoko Ono is about world peace. However we the Myanmar people know that the MPC is a multi-million dollar extravaganza and that Mother Suu has told the international donors to stop giving money to the MPC until she takes over the whole peace process. Long live Mother Suu, and the MPC!

            The Myanmar slang of the year is “Mr. President”, which could mean any dodgy type, from romancer to spinner of yarns. The celebrity of the year is Nay Shwe Thway Aung, the grandson of much revered retired Supremo Than Shwe. Alas, in this country, grandchildren of political failures have nothing better to do. They spend their whole life defending their grandparents’ legacy. Nay Shwe Thway Aung is definitely the finest sampler of such wasted lives.

            After Mother Suu declared she would be above whoever she will name president, she was summoned to the Supremo Than Shwe’s resident. During the two and a half hour meeting, the Supremo, without actually saying it, reminded Mother Suu that he is above the outgoing President Thein Sein as well as above the Commander in Chief Min Aung Hlaing! The Supremo still calls the shots, literally. Long live Mother Suu! 

            2016 is going to be very very hot, according to Myanmar’s much-loved weatherman U Tun Lwin. The monsoon season is shrinking drastically with less and less rain to come. At the same time, El Nino is looming. When Myanmar was hit by a heat wave a few years back, there was a long line of corpses at cemeteries in the dry region in central Myanmar. Joke of those days was that the Myanmar poor have to queue up, even in death. 2016 dry season could be the same, says the grumpy weatherman.  

            Looking forward and optimistic, Jet Ni trusts that Mother Suu with her irenic qualities can restore law and order, and bring peace and development to Myanmar in no time.

            The sham transition from rule of terror to rule of error is virtually over. An authentic transition from the rule of error to rule of Mother Suu is about to emerge. Just don’t expect Mother Suu to change the clime. Long live awesome Mother Suu!

With loads of mettā for the year ahead,

Jet Ni (Kyak Ni)

Hotel Zone 24 (Gyobingone Village)

Myanmar (Burma)


 Sobre Ko Ko Thett

Poeta, tradutor, editor e exilado político até 2011, nasceu em Rangum em 1972. Em 1995, enquanto estudava engenharia no Instituto de Tecnologia de sua cidade natal (YIT), lançou clandestinamente seu primeiro livro de poemas Old Gold. Com o lançamento de Funeral do ouro resistente, seu segundo livreto, ele foi detido, em uma base militar por 135 dias, por seu engajamento na insurreição política de dezembro de 1996. Após a sua libertação, em abril de 1997, Ko Ko Thett deixou tanto o YIT como a própria Birmânia, mudando-se para Singapura e, em seguida, para Bangkok, onde passou três anos trabalhando para o Serviço Jesuítico aos Refugiados Ásia-Pacífico. Em 2000, Thett foi para a Finlândia, onde fez estudos de paz e conflito na Universidade de Helsinki, antes de se mudar para Viena, onde estudou no Instituto para o Desenvolvimento Internacional da Universidade de Viena. Atualmente, vive na Bélgica e é o editor do website birmano “Poesia Internacional” e co-editor e tradutor de Bones Will Crow: 15 Contemporary Burmese Poets, an anthology of Burmese poetry, que, em 2012, recebeu o prêmio English PEN Writers in Translation Programme (Inglaterra) e foi considerado pelo jornal inglês The Guardian “um dos dez melhores livros que captam um dos países mais tumultuados da história”. Saiu, este ano, The Burden of Being Burmese, seu novo livro de poemas.