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CARTA ABERTA em solidariedade ao Professor Boaventura de Sousa Santos

Perante as acusações de má conduta e abuso numa instituição internacional de prestígio como o Centro de Estudos Sociais (CES) de Coimbra, que circularam nas redes sociais e transbordaram para a imprensa na sequência da publicação do capítulo intitulado “The walls spoke when no one else would”, de Lieselotte Viaene, Catarina Laranjeiro e Miye Nadya (Routledge, 2023), nós, abaixo assinados, investigadores e membros da academia, queremos afirmar o seguinte:


1. Alguns de nós conhecemos o CES através da importante investigação desenvolvida pelos seus investigadores, nomeadamente Boaventura de Sousa Santos, em diferentes áreas do conhecimento. Outros de nós conhecemos mais diretamente o CES e os seus dirigentes através de visitas académicas, colaboração em trabalhos de investigação, participação em cursos de especialização, palestras e seminários, etc. Sempre pudemos observar o funcionamento exemplar da instituição e o seu rigoroso empenhamento na investigação científica. Da mesma forma, sempre observámos o generoso apoio dado a todos os que aí se formam como investigadores e profissionais, bem como aos movimentos de cidadania que respeitam a igualdade e a justiça social.


2. Encorajamos todas as pessoas envolvidas no trabalho académico a denunciar qualquer violência institucional de que sejam alvo, seja por razões de sexo, género, diferenças psicomotoras, diferenças ideológicas ou de qualquer outra natureza. A transformação da sociedade pressupõe a transformação das instituições. No entanto, qualquer instituição submetida a uma análise baseada em parâmetros tão pouco rigorosos como os invocados no capítulo acima referido pode ser acusada de estratégias extractivas e abusivas. A publicação de textos com tão pouco rigor metodológico põe em causa os processos de avaliação e objetividade científica, bem como a institucionalização da transferência científica de forma a garantir a qualidade da produção de conhecimento científico.


3. Desde a sua fundação, o CES tem-se dedicado a desenvolver uma ciência comprometida com a igualdade social, denunciando frequentemente diferentes tipos de injustiça social. Tornou-se, por isso, alvo de acções de descrédito que visam cercear o seu potencial transformador, quer ao nível da academia, quer ao nível da sociedade em geral, tornando os seus membros particularmente vulneráveis, sobretudo os que ocupam cargos de responsabilidade.


4. Nós, abaixo assinados, homens e mulheres livres e feministas, conhecedores do trabalho deste centro e das acções que objetivamente promove em prol da igualdade, queremos manifestar o nosso profundo desacordo com todos aqueles que têm criado e/ou difundido uma imagem da instituição totalmente contrária à nossa vivência do seu trabalho e das suas relações.


5. Por fim, queremos manifestar o nosso apoio a Boaventura de Sousa Santos, alvo de uma campanha de descredibilização baseada em acusações infundadas que, sem ter em conta a presunção de inocência ou a mínima prova, permitem que a sua imagem seja utilizada para lutar contra práticas indesejáveis no meio académico. Quaisquer práticas abusivas baseadas na desigualdade sexual ou de género devem ser completamente erradicadas, mas precisamente pela gravidade deste tipo de realidade que afecta muitas mulheres no sistema patriarcal, devemos ser rigorosos no seu tratamento.


6 – Boaventura de Sousa Santos e a sua equipa, que são o rosto visível do CES, têm dedicado generosa e corajosamente os seus esforços à promoção de iniciativas de luta e protesto contra as desigualdades sociais. Merecem, por isso, um tratamento justo e democrático, de acordo com as garantias legais vigentes.

 

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