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Três poemas de Leilah Accioly

LINGUAGEM FULGURADA

voar com os pés no chão
é um oxímoro
cair e não se arrebentar
é uma metonímia
atirar-se da janela
é uma ironia
bater a porta pra nunca mais
é uma elipse
ser estar ficar parecer permanecer andar
é uma enumeração caótica
soltar os nós sendo nossos
é uma silepse
e é só com figuras
que se faz a língua
a letra só fulgura
quando a imagem assina
vestir formas é a sina
do conteúdo que costura
o embaixo com o em cima.

AU REVOIR POR FAVOR

no calor da sala,
dos presentes trocados,
dos futuros sem etiqueta de troca,
dos passados sem retorno,
volverá que eu vi!
mais um fim de ano
desde que nasci
todos os anos têm fim
e em todos recomeça outra de mim
todos os fins de ano acusam
“obra em andamento”
e o que é um ano além de mais uma placa de inauguração
do que jamais será
inaugurado?
a inauguração deste edifício
somente ao fim
quando não houver
mais ano algum a romper, enfim.


XEPA FRESH SOB O SOL DE SEGUNDA-FEIRA

segunda-feira

o círculo curto das feiras

as frutas de novo virando suco

sob as solas das mulheres

sobre as cestas a azia a tortura a travessia o rombo a
fantasia o escuro a alegria impronunciável do zum zum zum

tudo cheio

a vida demorando a pegar no tranco o trampo sonâmbulo o
inchaço o delírio de um feriado que nunca acabe o delírio
de uma feira em que tudo seja fresco

o sabor de quem sabe fazer feira aproveita a xepa.