1
a lua, a serpente, o cipó
me veem como tapir que matam
o jaguar vê o sangue cauim
os mortos veem os grilos peixes
as águas veem nas pedras guias
e o rio rola rindo
garganta abaixo
até os limites da língua
2
orar à araucária
ao ar
que paira
sobre o
parar
pois tudo flui
de mim em mim pra mim
transe é trânsito
poeira nas solas dos pés
cabeça inacabada
3
eu não semeio os cavalos
nem sangro a terra com fé ou ferro
aqui tudo brota do sonho da libélula
o vento das árvores sopra meus olhos
suave seiva que escorre entre os dedos
e penteia os cabelos
comecei a escutar o idioma das plantas
que atravessa meu fôlego
e lambe minha língua:
“a vida nasce e morre dentro do olho rochoso”
e o perfume do musgo me atravessa