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De uma ranhura

escrevo-me entre as
ranhuras, nos nós
do lenho, com a
sujeira embaixo do tapete:

o escuro, que espera
entrar, gruma-se
de olheiras.

*

como na folha
enrrugada
que se alisa
resta a
marca
ranhura
que nos colore
a tinta.
(nós nos encharcamos
de infinitas arestas)

*

só me avistam
em contraluz,
matéria como
clara de ovo,
pátina através dos poros
pelo entalhe:
um alfabeto braille
de ossos sequiosos
por sair.

*

e o dorso
ranha-se, estojo
de sementes
que empurram,
apartam-se em galhos,
moita de dedos
que nunca toca,
corta o ar a unhaço.

Tradução: Aurora Bernardini e Régis Bonvicino

Da una crepa

mi scrivo tra le
crepe, nei nodi
del legno, nella
polvere sotto il tappeto:

il buio, che aspetta
d’entrare, s’aggruma
d’occhiaie.

*

come su foglio
accartocciato
che si liscia
resta il
segno
crepa
a coloraci
l’inchiostro.

(noi ci imbeviamo
d’infiniti spigoli.)

*

mi si vede solo
in controluce,
materia come
chiara d’uovo,
patina gocciolata
dalla crepa:
un alfabeto braille
d’ossa che vogliono
uscire.

*

e la schiena si
crepa, astuccio
di semi
che spingono,
che s’aprono in rami,
cespuglio di dita
che mai giunge a toccare,
che taglia l’aria d’unghia.


 Sobre Elisa Biagini

Nasceu em Florença, Itália, em 1970, onde se formou em História da Arte Contemporânea. Logo em seguida ao mestrado, mudou-se para os Estados Unidos para estudar e escrever uma tese de doutorado em Literatura Italiana Contemporânea. Trabalhou como professora em universidades norte-americanas, onde viveu por cinco anos. Seus poemas têm sido publicados em revistas literárias italianas importantes. Elisa Biagini publicou dois livros de poemas: Questi nodi (1993) e Uova (1999), este em versão bilíngüe italiano/inglês. Além disso, é tradutora da poesia de Sharon Olds e de Alicia Ostriker.