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Dois poemas de Hart Crane

Tradução: Anderson Lucarezi

 

VOYAGES III

 

Infinite consanguinity it bears —

This tendered theme of you that light

Retrieves from sea plains where the sky

Resigns a breast that every wave enthrones;

While ribboned water lanes I wind

Are laved and scattered with no stroke

Wide from your side, whereto this hour

The sea lifts, also, reliquary hands.

 

And so, admitted through black swollen gates

That must arrest all distance otherwise, —

Past whirling pillars and lithe pediments,

Light wrestling there incessantly with light,

Star kissing star through wave on wave unto

Your body rocking!

and where death, if shed,

Presumes no carnage, but this single change, —

Upon the steep floor flung from dawn to dawn

The silken skilled transmemberment of song;

 

Permit me voyage, love, into your hands…

 

 

 

VIAGENS III

 

Guarda infinita consanguinidade —

Tal tema oferendado por você que a luz

Traz da oceânica planície onde o céu

Renega um seio entronizado pelas ondas;

Enquanto as pistas d’água pelas quais serpeio

São enxaguadas e dispersas sem batida

Ao largo do seu flanco, aonde nesta hora

O mar ergue, também, mãos relicárias.]

 

E admitido ao inchaço de portões escuros

Que obstam outros tipos de distância, —

Sob pilares giratórios, frontões macios,

Luz se atracando sem descanso, lá, com luz,

Estrelas se beijando, onda a onda, até

O embalo do seu corpo!

e onde a morte, se vertida,

Não pressupõe carnificina, só mudança, —

Na faixa funda que reflui de aurora a aurora

Macio, sutil transmembramento de canção;

 

Permita, amor, que eu viaje às suas mãos…

 

 

 

— AND BEES OF PARADISE

 

I had come all the way here from the sea,

Yet met the wave again between your arms

Where cliff and citadel — all verily

Dissolved within a sky of beacon forms —

 

Sea gardens lifted rainbow-wise through eyes

I found.

 

Yes, tall, inseparably our days

Pass sunward. We have walked the kindled skies

Inexorable and girded with your praise,

 

By the dove filled, and bees of Paradise.

 

 

 

— E ABELHAS DO PARAÍSO

 

Andei a trilha inteira vinda do oceano

Mas dei com nova onda dentro dos teus braços

Onde penhasco e cidadela — sem engano

Se dissolviam em céu de farolados traços —

 

Corais subindo ao arco-íris nos olhares

Achei.

 

Sim, alto, nossos dias, indivisos,

Vão rumo ao sol. Atravessamos céus solares

Cingidos, implacáveis, do que preconizo,

 

Repletos da pomba, e abelhas do Paraíso.

 

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Material incluído no livro “Transmembramento da canção” (Cobalto / 2024)

Transmembramento da canção
R$ 45,00
Autor: Hart Crane
Tradução: Anderson Lucarezi
132 págs – 16×23 cm
ISBN 978-65-85570-13-8

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 Sobre Hart Crane

Hart Crane (21 de julho de 1899 – 27 de abril de 1932) foi um poeta modernista dos Estados Unidos. Começou a escrever poesia moderna quando foi viver em Nova Iorque, influenciado por Pound e Eliot, escrevendo ainda em formas tradicionais e arcaicas. Em 1926, quando publicou sua primeira coleção de poemas, ainda sofria influência simbolista.