Escritor, poeta e ensaísta, Rolando Sanchez Mejías nasceu em Holguín, Cuba, em 1959. Publicou, entre outros títulos, Derivas (Havana, Letras Cubanas, 1994), Escrituras (Havana, Letras Cubanas, 1994), Cálculo de lindes (Cidade do México, Aldus, 2000), Historias de Olmo (Madri, Siruela, 2001), que foi publicado na Alemanha em 2002, e Cuaderno de Feldafing (Madri, Siruela, 2003). Teve sua poesia e prosa traduzida para vários idiomas, como o inglês, o francês, o alemão, o tcheco, o croata, o grego, o finlandês e o português. Vários de seus contos e poemas foram selecionados para diversas antologias de prosa e poesia cubanas e hispano-americanas do século XX, tanto em sua ilha natal quanto na Alemanha, nos Estados Unidos, na França e em outros países.
Em 1993, fundou o grupo literário DIASPORAS e, em 1996, a revista de mesmo nome, ambos fora das instituições culturais cubanas. O grupo e a revista tinham o propósito de rever e renovar o cânone literário cubano. Recebeu o Prêmio Nacional da Crítica em Cuba em 1993 e 1994. Em 1995, vivendo ainda em Havana, publicou no jornal El Pais da Espanha uma “carta aberta” contra a censura em Cuba. Seus livros foram retirados de circulação e ele foi proibido de fazer leituras e conferências públicas no país. Organizou a antologia Mapa imaginario: nuevos poetas cubanos (Havana, Embaixada da França em Cuba/Instituto Cubano do Livro, 1995), que foi retirada de circulação devido ao prólogo e ao ponto de vista adotado na seleção. Na Espanha, publicou 9 poetas cubanos del siglo XX (Océano, Espanha, Mondadori, 2000), Antologia del cuento chino maravilloso (Océano, Espanha, Mondadori, 2000) e Obras maestras del relato breve (Océano, Espanha, Mondadori, 2002).
Atualmente é professor de literatura na Escuela de Letras y Humanidades del Ateneo de Barcelona, cidade onde vive exilado desde 1997.
Nocturno
En las calles de este pueblo uno avanza y tiene la certeza de que envejece en tramos cortos.
Son casas anchas, verticales y abrazadas en una fachada común, con una consistencia semejante al cielo negro que insinúan.
A su paso, se avanza en proporción directa a la muerte: de muerte en muerte, con el desasosiego que implica este nuevo conocimiento.
para Antonio Ponte
Noturno
Nas ruas deste povoado se avança e se tem certeza de envelhecer em pequenos degraus.
As casas são amplas, verticais e atadas a uma fachada comum, com firmeza semelhante ao céu negro que insinuam.
Em seu passo, se avança em proporção direta à morte: de morte em morte, com o desassossego que implica este novo saber.
para Antonio Ponte
Jardin zen de Kyoto
Sólo un poco de grava inerte
quizá sirva para explicar
(al fin como metáfora vana)
que la dignidad del mundo consiste
en conservar para sí
cualquier inclemencia de ruina.
El monje
cortésmente inclinado
quizá también explique
con los dibujos del rastrillo
que no existe el ardor,
solamente el limpio espacio
que antecede a la ruina.
Alrededor del jardín
en movimiento nulo
de irrealidad o poesía
pernoctan
en un aire civil de turistas y curiosos
sílabas de sutras, pájaros que estallan sus pechos
contra sonidos de gong. Todo envuelto
en el halo de la historia
como en celofán tardío.
El lugar ha sido cercado:
breves muros y arboledas
suspenden la certeza
en teatro de hielo.
La cabeza rapada del monje
conserva la naturaleza de la grava
y de un tiempo circular, levemente
azul: cráneo de papel
o libro muerto
absorbe el sentido
que puede venir de afuera.
En la disposición de las grandes piedras
(con esfuerzo
pueden ser vistas
como azarosos dados de dioses
en quietud proverbial)
tampoco hay ardor. Sólo un resto
de cálida confianza
que el sol deposita
en su parodia de retorno sin fin.
La muerte
(siempre de algún modo poderosa)
podría situarnos
abruptamente dentro
y nos daría, tal vez,
la ilusión del ardor.
Como mimos, entonces,
trataríamos de concertar
desde el cuerpo acabado
el ninguna parte donde hay ardor alguno
en el corazón secreto
que podría brindar el jardín.
Pero hay algo
de helada costumbre
en el jardín
y en el ojo que observa.
Es posible que sea el vacío
(¿por fin el vacío?)
o la ciega intimidad
con que cada cosa responde
a su llamado de muerte.
Y esto se desdibuja
con cierta pasión
en los trazos del rastrillo,
junto a las pobres huellas del monje,
entre inadvertidas cenizas de cigarros
y otras insignificancias
que a fin de cuentas
en el corazón del jardín
parecen caídas del cielo.
Jardim zen de Kyoto
Só um pouco de cascalho inerte
talvez sirva para explicar
(ao cabo metáfora vã)
que a dignidade do mundo consiste
em conservar para si
qualquer inclemência de ruína.
O monge
gentilmente inclinado
talvez também explique
com os desenhos do restelo
que não existe ardor,
apenas o espaço limpo
que antecede a ruína.
Ao redor do jardim
um movimento nulo
de irrealidade ou poesia
pernoitam
numa aparência civil de turistas e curiosos
sílabas de sutras, pássaros que estalam seus peitos
contra os sons de gongos. Todo envolto
em um halo da história
como em celofane tardio.
O lugar foi cercado:
muros estreitos e árvores
suspendem a certeza
no teatro de gelo.
A cabeça raspada do monge
conserva a natureza do restelo
e de um tempo circular, levemente
azul: crânio de papel
ou livro morto
absorve o sentido
que pode vir de fora.
No arranjo das grandes pedras
(com esforço
podem ser vistas
como dados azarados de deuses
em proverbial quietude)
tampouco existe ardor. Só um resto
de cálida confiança
que o sol deposita
em seu arremedo de retorno sem fim.
A morte
(sempre de algum modo poderosa)
poderia situar-nos
abruptamente dentro
e nos daria, quem sabe,
a ilusão de ardor.
Como mímicos, então,
tentaríamos consertar
desde o corpo acabado
o nenhuma parte onde existe ardor algum
no coração secreto
que poderia brindar o jardim.
Todavia, existe algo
de hábito gelado
no jardim
e no olho que observa.
É possível que seja o vazio
(enfim o vazio?)
ou a cega intimidade
com que cada coisa responde
ao seu chamado de morte.
E isto se desfigura
com certa paixão
nos traços do restelo,
ao lado dos pobres rastros do monge,
entre inadvertidas cinzas de cigarros
e outras insignificâncias
que ao final das contas
no coração do jardim
parecem caídas do céu.
Traduções: Régis Bonvicino