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Poemas do sino-americano Arthur Sze

Arthur Sze, nascido na cidade de Nova York em 1º de dezembro de 1950, é um poeta de ascendência sino-americana. Seus pais migraram para os Estados Unidos em decorrência da ocupação japonesa na China e permaneceram nos EUA após o reacender da Guerra Civil. No período entre 1968 e 1970, frequentou o Massachusetts Institute of Technology (MIT). Posteriormente, em 1970, transferiu-se para a Universidade da Califórnia, Berkeley, onde concentrou-se na área da poesia, iniciando seus estudos na língua e na tradução do chinês clássico. Atualmente, Arthur Sze reside em Santa Fé, Novo México, onde é professor emérito do Instituto de Artes Indígenas Americanas. Em 2017, Sze foi eleito para a Academia Americana de Artes e Ciências e atuou como Chanceler da Academia de Poetas Americanos de 2012 a 2017. Seus escritos poéticos foram traduzidos para diversas línguas, incluindo albanês, chinês, holandês, italiano, romeno e turco, além de, agora, ganhar tradução para o português de Sight Lines (Copper Canyon Press), livro pelo qual o autor recebeu o importante National Book Award for Poetry, em 2019. Entre outros prêmios literários importantes recebidos por Sze, podemos destacar o Ruth Lilly Poetry Prize e o National Book Foundation Science + Literature Award. Os poemas selecionados foram traduzidos pelo pesquisador de língua inglesa Júlio Bonatti e extraídos do livro Linhas Horizontes.


 

Westbourne Street

 

A lâmpada da varanda ilumina degraus brancos, luz

sobre o portão da garagem, sombras por dentro das janelas—

e a escuridão expõe as fraquezas.

Um modelador de vidro dá forma a um cavalo rampante

que se alterna, sobre um suporte, de um alaranjado ofuscante

a um cristal reluzente; de repente o cavalo

 

se despedaça em pernas, cabeça, corpo e crina.

À meia-noite, “Seu idiota!”, uma mulher grita,

revirando a casa; junto de uma cerca viva,

um homem dorme, o casaco cobrindo a cabeça, pernas de fora;

às oito da manhã, ipomeias desabrocham

sobre uma cerca; uma retroescavadeira domina a rua.

 

Desta janela, ele enxerga folhas de bananeiras,

uma laranjeira com cinco laranjas, casas

cobertas por seus telhados e degraus que levam

a um apartamento no andar superior; lá adiante, palmeiras

e, mais além, uma rua íngreme, oceano, céu;

mas qual das vias dessa visão nos guia à revelação?

 

 

Vazio

 

Nenhum sinal do gavião empoleirado

no suporte do carro e caçando

canários; a matiz rubra da hera

ao largo de um muro de pedra se aguça;

quando apanha um tomate dourado

no jardim e o sente estourar na boca,

ele nota uma essência de laranja no ar;

enquanto acende a chama da caldeira,

checando o termostato, para ele

aquele som da água na fonte é como

uma oração; a um tempo atrás no verão

ele contemplava um beija-flor pousar,

beber água e molhar suas asas,

mas, agora, só um extenso vazio

consome esse momento; ao ver de perto

um ninho de towhee descoberto no dintel,

ele compreende como caçar chanterelles

nas zonas de esqui e desfrutá-los

no jantar já ficou a anos luz distante.

 

 

Linhas Horizontes

 

Percorro a paisagem do Rio Nambé—

um tamariz brota do barro junto a um canal de irrigação—

a massa de neve nos Montes Sangre de Cristo já derreteu antes da primavera—

ao menos não há incêndios nos bosques de coníferas sobre Los Alamos—

os restos de plutônio foram levados para um depósito subterrâneo—

um homem que construiu detonadores de plutônio hoje é criador de cavalos—

ninguém poderia prever esta distância desde Monticello—

Jefferson menosprezava os jornais, porém nada nos afasta daquilo que somos—

durante a Revolução Cultural Chinesa um garoto viu sua mãe ser executada por um pelotão de fuzilamento—

uma mulher explode assim que um comando de texto aciona bombas atadas ao seu corpo—

quando me deparo com uma ovalada tampa de aço verticalmente posta, saio do canal—

eu saio do canal porém entro mais profundamente em mim mesmo—

chego a um lugar que já não precisa mais de outono ou de primavera—

descubro ginseng onde não há ginseng, meu talismã do desejo—

embora estejam visitando Paris, tenho vocês aqui na ponta dos meus dedos—

não obstante eu volte ao canal, nenhuma nuvem artificial dispersa o mistério deste mundo—

este canal flui desde antes da Compra da Luisiana—

caminho no barro, entrevendo cavalos no campo—

repousar as formas dos nossos corpos em areia branca—

ainda que linhas paralelas só se encontrem no infinito, o infinito é aqui—

 

Traduções de Júlio Bonatti

 

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