Depois da leitura dos textos de Cristina Monteiro de Castro Pereira acerca das traduções (“The Tyger” e “Poetry”) de Augusto de Campos, a Sibila chega a inevitável, constrangedora e triste conclusão que Augusto de Campos entregou ovelha por tigre desde sua estreia, em 1949. Trecho da defesa de Castro Pereira da tradução de“The Tyger”, de Blake: “Augusto traduziu “lamb” por ovelha, além de ter suprimido, no primeiro verso, o adjetivo “immortal”, referente à mão ou ao olho capaz de criar tal fera. O tigre forjado, moldado e trabalhado pelo artesão é o símbolo da arte, da poesia afiada, “de invenção”, da tradução-arte. Contrapõe-se à ovelha, símbolo de resignação e de mansidão, que se aproximaria de uma postura oposta a de Augusto em relação à tradução. A ovelha seria aquela tradução que se curva ao texto original, tentando em vão esclarecê-lo, sem perceber que o poema é um chiaroscuro, e que o excesso de luz o empalidece. Já atradução-arte, que pratica Augusto, como o tigre se retorce em nervos para recriar, em outra língua, o jogo de luz do poema. É faca de aço, estraçalha o “…cor, (que) ação” do poema com as garras de uma fera. A tradução-arte se transforma em tigre. E Augusto é a “fera” que recriou, com garra, The Tyger. As escolhas do tradutor fizeram emergir do poema de Blake a leitura mais atual e universal que o poema possibilita. E o fez com a precisão de um artesão, forjando os detalhes de cada entalhe, de cada curva para recriar o poema – e não para explicá-lo. Além das rimas, Augusto recria e amplia o universo sonoro do poema, bem como desenha suas formas em brasa, mostrando a beleza da fera que se constrói pela escrita e se dissolve em escrita”. http://www.cronopios.com.br/site/ensaios.asp?id=5364 e este sobre Marianne Moore de novo.
Releia os ensaios de Sibila sobre o tema