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A ERA DOS MUSEUS

O consumo e sua publicidade são veículos de intermediação e convivência social do mundo moderno com base no sistema de trocas da economia. Os novos museus fazem uma publicidade positiva da visibilidade cultural das cidades. São centros culturais onde o visitante encontra pequenos bens de consumo, livraria, loja de suvenir, café, bar, área de lazer, uma diversidade de atividades que ativam e satisfazem o desejo do consumidor familiarizado com o paraíso dos shoppings.

A criação de espaços museológicos, como instituições que respondem à necessidade de exibir a produção simbólica que representa o desenvolvimento econômico e comercial, acompanha os movimentos de expansão urbana e de concentração do capital. Paris no século XIX foi a capital da arte, o berço dourado das vanguardas artísticas que encantaram a modernidade. Após a segunda guerra mundial, Nova Yorque e o investimento americano em instituições museológicas, mais acessíveis à guarda da memória, estimuladora de novidades e formação de coleções, entre outras iniciativas, assumiu a liderança de centro mundial da arte contemporânea.

Em vários aspectos, os museus vêm contribuindo para a revitalização do centro da cidade e o desenvolvimento da sociedade, como um espaço de inclusão social e estimulador do exercício da cidadania. Em centros urbanos mais desenvolvidos as visitas aos museus são atividades rotineiras que fazem parte de uma política de educação e entretenimento, presente até nos roteiros de viagens das companhias de turismo. Em países do primeiro mundo houve, recentemente, um crescimento, ou melhor, um surto de criação de museus como um bem cultural integrado na vida da cidade capaz de contribuir com a melhoria da imagem e do uso da área onde está inserido.

Na paisagem urbana, os museus se destacam como instituições facilitadoras do desenvolvimento cultural e educacional, um espaço privilegiado de produção e reprodução de conhecimento a serviço do pensamento crítico da sociedade e sua história. Sua localização na malha urbana é fundamental para permitir a liberdade de acesso do público consumidor de arte, cultura e lazer.

Pelo menos em teoria, os objetivos dos museus contemplam educação, entretenimento, informação e inclusão social. Os objetos expostos num museu permitem ao público apreender e vivenciar experiências não somente intelectuais como também emocionais. Alocados em prédios apropriados para as funções que exercem, a arquitetura e as novas tecnologias disponíveis evoluíram nos últimos trinta anos. Para cada tipologia de acervo, equipamentos e projetos específicos de mobiliário, climatização e iluminação determinam a situação física e ambiental desses empreendimentos museográficos. Condições técnicas que satisfazem às demandas de guarda e exibição de objetos que integram um acervo foram desenvolvidas, pressionados pela nova ciência museológica.

Decorrentes de todas essas transformações do conceito de museu e consequentemente sua visibilidade, suas atividades culturais exercem importante papel na economia e na credibilidade da imagem de uma cidade. Muito mais do que um lugar de acondicionamento e exposição de coisas e objetos de valor histórico, artístico, cultural, religioso e também comercial, é função dessa instituição divulgar ou democratizar conhecimentos à sociedade.

Além da importância no sistema cultural, os museus estão inseridos com sua arquitetura imponente na paisagem da cidade e passou a ser um referencial do entorno. No Brasil, se destacam dois exemplos internacionais da arquitetura moderna de museus, o edifício do Museu de Arte de São Paulo, projetado pela arquiteta Lina Bo Bardi e edifício do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, projeto do arquiteto Afonso Eduardo Reidy. Além de marcos da arquitetura moderna brasileira, projetados na década de 1950, eles interagem com o entorno e a comunidade. A relação com o espaço em que está inserido seu significado simbólico para a população são questões que ultrapassam o discurso arquitetônico e mostram a dimensão pública da arquitetura de museus na contemporaneidade.

Na Bahia, praticamente não se investiu na edificação de museus, estes estão alocados em edificações adaptadas. Um desafio cada vez mais difícil de enfrentar, com as recentes exigências da museologia, o de conciliar a arquitetura histórica com a intervenção interna, mesclar a preservação do antigo com as exigências contemporâneas indispensáveis à instalação de um museu. E sem uma política pública que provoque demandas sociais efetivas de mais acesso aos bens culturais, os museus baianos, mesmo os que dispõem de instalações razoáveis, padecem da falta de interesse do público e os recursos indispensáveis para sua manutenção dependem de tráfego de influências e favores. Aliás, esse é um problema que faz parte do cotidiano dos grandes museus brasileiros.

 

 


Almandrade
(artista plástico, poeta e arquiteto)