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Les paradis artificiels

Jean-Louis Trintignant lit Les paradis artificiels

En 1971, Jean-Louis Trintignant lisait un extrait des Paradis artificiels. Dans cet essai de 1860, le poète revient sur son expérience de la drogue et s’interroge sur les liens entre drogue et création poétique. Extrait de la troisième partie du Poème du Haschisch intitulée Le théâtre de Séraphin :

“Qu’éprouve-t-on ? que voit-on ? des choses merveilleuses, n’est-ce pas ? des spectacles extraordinaires ? Est-ce bien beau ? et bien terrible ? et bien dangereux ? — Telles sont les questions ordinaires qu’adressent, avec une curiosité mêlée de crainte, les ignorants aux adeptes. On dirait une enfantine impatience de savoir, comme celle des gens qui n’ont jamais quitté le coin de leur feu, quand ils se trouvent en face d’un homme qui revient de pays lointains et inconnus. Ils se figurent l’ivresse du haschisch comme un pays prodigieux, un vaste théâtre de prestidigitation et d’escamotage, où tout est miraculeux et imprévu. C’est là un préjugé, une méprise complete {…}”.

O TEATRO DE SERAFIM

O que se experimenta? O que se vê? Coisas maravilhosas, não é? Espetáculos extraordinários? São belos? E terríveis? E perigosos? Tais são as perguntas que frequentemente fazem, com uma curiosidade misturada a medo, os ignorantes aos adeptos. Diríamos uma impaciência infantil em saber, como a das pessoas que nunca saíram de casa quando se encontram diante de um homem que volta de países longínquos e desconhecidos. Eles imaginam a embriaguez do haxixe como um país prodigioso, um vasto teatro de prestidigitação e escamotagem onde tudo é milagroso e imprevisto. Há aí um preconceito, um desprezo completo e uma vez que, para os leitores e curiosos comuns, a palavra haxixe comporta a ideia de um mundo estranho e confuso, a expectativa de sonhos prodigiosos (seria melhor dizer alucinações, que são, aliás, menos frequentes do que imaginamos), eu chamarei a atenção em seguida para a importante diferença que separa os efeitos do haxixe do fenômeno do sono. No sono, esta viagem aventurosa de todas as noites, há algumas coisas de positivamente milagroso; é um milagre cuja pontualidade acabou com o mistério. Os sonhos do homem são de duas classes. Uns, cheios de vida cotidiana e suas preocupações, seus desejos, seus vícios, combinam-se de uma maneira mais ou menos estranha com os objetos percebidos durante o dia que indiscretamente se fixaram sobre a vasta tela da memória. Eis o sonho natural; é o próprio homem. Mas e a outra espécie de sonho? O sonho absurdo, imprevisto, sem relação nem conexão com o caráter, a vida e as paixões do adormecido? Este sonho, que chamarei de hieroglífico, representa evidentemente o lado sobrenatural da vida, e é justamente por ser absurdo que os antigos julgavam-no divino.