A NINFA
Manuel Bandeira
Estranha volta ao lar naquele dia!
Tornava o filho pródigo à paterna
Casa, e não via em nada a antiga e terna
Jubilação da instante cotovia.
Antes, em tudo a igual monotonia,
Tanto mais flébil quanto mais eterna.
A ninfa estava ali. Que alvor de perna!
Mas, em compensação, como era fria!
Ao vê-la assim, calou-se no passado
A voz que nunca ouviu sem que direito
Lhe fôsse ao coração. Logo a seu lado
Buliu na luz do lar, na luz do leito,
Como um brasão de timbre indecifrado,
O ruivo, raro isóscele perfeito.
Nota: Conheço duas gravações desse poema na voz de Manuel Bandeira: numa, ele o reproduz tal como aparece escrito. Mas, no cd que acompanha a recente reedição dos 50 melhores poemas do autor, Bandeira muda o último verso dizendo: “O ruivo, claro isóscele perfeito.”. O poeta suaviza a aliteração dos /rr/ vibrantes (ruivo-raro) ao optar pelo / l/ de “claro”, que vem se avolumando obsessivamente desde “Logo a seu lado/ buliu na luz do lar, na luz do leito…”; além disso “raro” sobrevive dentro de “claro” feito um aro de som. E o vocábulo “isóscele” traz esse “claro” à tona do verso reforçando a consonância em / l /. “A ninfa” é um soneto decassilábico com acentuação heroica. Tônicas nas 6ª e 10ª sílabas. Ronald Augusto