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Poema de Marina Tsvetaeva – Tradução de Aurora Bernardini

Já os deuses não são tão generosos

Marina Tsvetaeva

 

Já os deuses não são tão generosos

Em seus leitos os rios não são os mesmos.

Nos vastos portões do ocaso,

Voem, pássaros de Vênus!

 

E eu, deitada em areias já frias,

Vou para o dia que já não se conta…

Como a serpente olha a velha pele –

Cresci para fora de meu tempo.

 


 

Уже богов – не те уже щедроты

На берегах – не той уже реки.

В широке закатные ворота,

Венерины, летите, толубки!

 

Я ж, на песках похолодевшмх лежа,

В день отойду, в котором нет числа…

Как змей на старую взирает кожу –

Я молодость свою переросла.

 

17 de outubro de 1921

 

Tradução: Aurora Bernardini


Marina Tsvetáieva (Марина Ивaновна Цветaева; Rússia, 1892-1941) foi poeta, escritora e tradutora. Da geração de Boris Pasternak, Óssip Mandelstam e Anna Akhmátova, Tsvetáieva também estabeleceu contato por correspondências com o poeta Rainer Maria Rilke. Sua poesia foi alvo da repressão stalinista. Como uma forma de represália, Marina não conseguia trabalho e tampouco se estabelecer por muito tempo em uma moradia. Exílios forçados por perseguição política, fugas em função da Segunda Guerra e uma vida de penúria forçaram Tsvetáieva ao suicidou em 1941 – ato, no entanto, hoje, contestado por outras versões, como a de que foi fuzilada pela polícia política soviética. Sua obra foi redescoberta a partir dos anos 1960. No Brasil, uma das principais referências na tradução da obra de Marina Tsvetáieva é a ensaista, professora e tradutora Aurora Fornoni Bernardini. São dela as traduções de Indícios flutuantes e Vivendo sob o fogo, publicadas pela Martins Fontes; O diabo, publicado pela editora Kalinka; e O poeta e o tempo, publicado pela editora Âyiné.


 Sobre Aurora Bernardini

Aurora Fornoni Bernardini é professora, escritora e tradutora. Na Universidade de São Paulo (USP), além de mestrado e doutorado sobre futurismo russo e italiano, concluiu em 1978 sua livre-docência sobre Marina Tsvetáieva. Bernardini começou a estudar russo em 1958 e, no fim da década de 1960, durante o mestrado, foi convidada para lecionar no curso de russo da USP por Boris Schnaiderman (1917–2016). Atualmente é professora titular de pós-graduação nos programas de Literatura e Cultura Russa (atual LETRA) e de Teoria Literária e Literatura Comparada (FFLCH/USP). Em 2003, foi finalista do prêmio Jabuti pela tradução de Cartas a Suvórin, de Anton Tchékhov (Edusp, com Homero Freitas de Andrade); em 2004, recebeu o prêmio Jabuti (segundo lugar), com o poeta Haroldo de Campos, pela tradução de Ungaretti: daquela estrela à outra (Ed. Ateliê Editorial); em 2006, foi vencedora do prêmio APCA pela tradução de O exército de cavalaria, de Isaac Bábel (CosacNaify, com Homero Freitas de Andrade); em 2006, foi contemplada com o prêmio Paulo Rónai pela tradução de Indícios flutuantes — poemas, de Marina Tsvetáieva (Martins Fontes), de quem Bernardini ainda verteu Vivendo sob o fogo: confissões (Ed. Martins, 2008); em 2007, foi vencedora do prêmio Jabuti (terceiro lugar) também pela tradução de Indícios flutuantes; em 2014, foi finalista do Jabuti pela tradução de “Os sonhos teus vão acabar contigo”: prosa, poesia, teatro, de Daniil Kharms.