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Lobato e Oswald: o ideal de uma arte brasileira

Equacionar as preferências de Monteiro Lobato e de Oswald de Andrade no que diz respeito às artes visuais pode parecer um exercício estranho, especialmente porque a intenção é mostrar seus pontos de convergência e não de desacerto. O caminho do desencontro talvez fosse o mais lógico, bastando para isso lembrar que no incontornável, ainda que pouco esclarecedor, affair Anita Malfatti temos, ao menos em tese, Lobato e Oswald em polos opostos. No entanto, se atentarmos para outros textos críticos produzidos por ambos no período, veremos que seus critérios e suas escolhas não eram assim tão distantes.

Novas edições de José Paulo Paes

José Paulo Paes: Crítica Reunida sobre Literatura Brasileira & Inéditos em Livros reúne em dois volumes ensaios dedicados a poetas e ficcionistas do século 16 ao 20, textos que não eram tão acessíveis aos leitores, e leva o trabalho de José Paulo Paes (1926-1998) a quem não é familiarizado com o autor.   Autor de […]

O compositor Gilberto Mendes aos 100 anos

Naquela década mágica dos 1920, recuperação pós-guerra, euforia pela aviação e o rádio num brilhante nascedouro, a disseminação da cultura de massa e o entretenimento onipresente marcados pela consolidação do “American way of life” forjaram nosso personagem, não perdendo em densidade na erudição. Gilberto Mendes parece saído das elucubrações de Adorno ao fascínio caleidoscópico por tudo que seja faro de sensibilidade em Umberto Eco: criou uma música carregada de significados a partir dos estalos de todas as criatividades em ebulição, fricção e potencial de replicação em infinitos perceptos. Não me esquecerei de um dos seus bordões cult: “Eu gosto de gostar das coisas”, saídos da “Factory” de Andy Warhol. Aquela Santos que fundaria a quarta emissora de rádio do Brasil (a Rádio Clube PRB04), que chegou a ter 32 cinemas de bairro, que recebia em primeira mão concertistas de passagem entre Nova York e o Colón de Buenos Aires era a mesma do Bazar Paris, livraria procurada por Ruy Barbosa e Washington Luiz. Sebos, cafés coalhavam o centro em torno da Rua XV de Novembro, considerada a Wall Street tupiniquim onde pontificava a Bolsa do Café e a Associação Comercial presidida por João Moreira Salles e a Construtora do megaempresário Roberto Simonsen.

Vanguardismo ou passadismo?

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Desde o final do século XIX, intelectuais brasileiros mantiveram uma intensa relação com aquilo que acontecia nos grandes centros europeus. Não eram incomuns as viagens de artistas brasileiros para países como França e Itália, em especial aqueles de alguma forma ligados ao mundo das artes visuais. Existiam, ainda que operando de modo pouco burocratizado e racionalizado, bolsas que financiavam a permanência de artistas em formação na Europa, a fim de lhes garantirem aprendizado técnico e contato com as tendências estéticas ora em vigor no Velho Mundo.

A estreia de Plínio Marcos sob o signo de Pagu

Durante as décadas de 1950 e 1960, além de conhecida nacionalmente, Pagu exerceria uma importante influência no panorama cultural da cidade. Ao mesmo tempo em que escrevia para A Tribuna de Santos, promovia festivais e espetáculos, fomentando grupos amadores e a fundação do Teatro de Vanguarda (TEV). Graças a Pagu, Santos teve a oportunidade de assistir, pela primeira vez no país, Fando e Lis, de Fernando Arrabal, traduzida por ela em 1958 – ano em seria também encenada Barrela. Pagu e Plínio Marcos teriam se conhecido em 1957, quando ele aparece como ator do GETI: “em 1957, esta distinta senhora (Pagu), então com 47 anos, adentrou os bastidores do Circo Pavilhão Teatro Liberdade procurando o palhaço Frajola; queria que o rapaz trabalhasse com ela”. Com a atuação de Plínio Marcos em Pluft, ele passa a frequentar um grupo de intelectuais, pintores e músicos do círculo de Pagu e Geraldo Ferraz.

A tacanha intransigência de Sergio Miceli com as vanguardas

Vanguardas em retrocesso nos apresenta Sergio Miceli na figura de um crítico legista, o sociólogo realiza verdadeiras necropsias textuais para investigar a causa do apagamento das práticas sociais na obra desses criadores que são o alvo de sua pesquisa, práticas sociais que, segundo Miceli, viabilizaram suas reputações. Para o crítico legista tal investigação se faz necessária principalmente quando este apagamento ocorre em circunstâncias misteriosas. É como se estivéssemos não diante de algumas obras de arte, mas diante da sonegação de provas de um crime.