CRISTINO BOGADO nasceu em Assunção, em 1967. Publicou: Plágio inconsciente de Leopoldo, editado na Espanha em 2014; Contra o futebol e outros nihilpoemas, em 2013; Dandy com vertigem, em 2004; Desperezamiento Punk, em 2007; Suco Loco, Last poesia paraguaia 1996-2007, em 2007; Dandy Maká Ut, em 2008; Eros. Feminino Erotika parawayensis Poesia, em 2009; Tatu ro’o metafísico (xapoesía em poro’unhol) em 2008; Quase Parawayo, em 2009; Amor KARAIVA, em 2010, entre outros livros. Publicou também poemas e ensaios em revistas chilenas como Bilis e Mar com Soroche, mexicanas como Orientação e Metropolis, peruanas como Pen Pelicano, espanholas como La Caja Stores (fanzine) e Daimon, laissezaller e La Migra na Argentina.
Leitura de poesia
Sibila: Você lê poesia?
Bogado: Sim, com a frequência em que brotam ou se descobrem os poemas, flor rara. De tempo em tempo. Não há pressa.
Sibila: Que poesia você lê?
Bogado: Entre os brasileiros, meu livro preferido é Martim Cererê, de Cassiano Ricardo, e, entre os mais recentes, Mar Paraguayo de Wilson Bueno e Astronauta Paraguayo de Douglas Diegues. Leio sobretudo Wordsworth, Baudelaire, Laforgue, Rilke, Christian Morgenstern, Leopoldo Maria Panero (espanhol), Anna Ajmatova, Marcabru, Diego Maquieira (chileno).
Sibila: Você acha que a leitura de poesia tem algum efeito?
Bogado: A leitura de poesia é um milagre secreto, um evento em 4 D, uma ação entrópica invertida, positiva. Conforme a segunda lei da termodinâmica, o mundo inteiro tende ao desgaste, à fermentação, à morte… isso é o século XIX, época do pensamento aceleracionista e pessimista. Hoje se fala (Serres e Schroedinger) da negantropia, seres microscópicos chamados parasitas que invertem essa corrente sombria, que do mal fazem um bem. Como o parasita que nos torna possíveis o pão, a cerveja, o vinho. Fazem Beleza do fermentado. Parasitas baudelairianos.
Escrita de poesia
Sibila: O que você espera ao escrever poesia?
Bogado: Eternizar o esplendor da grama, voltar a ver outra vez a Beatriz púbere em uma rua qualquer da vida cinzenta. Intuir, perceber, é criar, inventar, poetizar. O que se passa na rua, o que vejo passar nela é obra minha, sempre. Por isso não apenas me interessa, mas também me preocupa.
Sibila: Qual o melhor efeito que você imagina para a prática da poesia?
Bogado: Só há um efeito, deter a ilusão de aceleracionismo (esse tempo contínuo e homogêneo pelo qual Walter Benjamin sentia desprezo) da realidade capitalista niilista, envaginar o espaço euclidiano em um fora-dentro fantástico, isto é, abrir outro espaço topológico, seja uma vagina, uma concha, uma vieira, um oco kafkiano (uma toca de sapo), onde possam habitar nossas ancas, perversa e poeticamente.
Sibila: Você acha que a sua poesia tem interesse público?
Bogado: Minha poesia, como toda poesia, é uma deusa disfarçada em gente, no meio da multidão; somente quem tem fé poderá desvelar seu rosto luminoso. Conta-se que Ibn Arabi de Múrcia viu a Dama (de onde os provençais, na Idade Média, extrapolariam sua Dama Cortesã, a virgem Hovy dominadora da Lua média dos cristãos) depois de ficar girando em volta da pedra negra, a kaaba. É a visão da epifania, o momento feliz da vida, o domingo da vida, a poesia.
Publicação de poesia
Sibila: Qual o melhor suporte para a sua poesia?
Bogado: Youtube, SounCloud, Scribd, issu, Twitter, FB etc.
Sibila: Qual o melhor resultado que você espera da publicação da sua poesia?
Bogado: Nenhum. Me agrada apenas a poesia, não seus mal-entendidos!
Sibila: Qual o melhor leitor de seu livro de poesia?
Bogado: O melhor leitor é, de longe, esse leitor especialista em ler o livro da vida, que use seus instrumentos para ler minha poesia – que construa uma ponte sutil entre ambas.
Sibila: O que você mais gostaria que acontecesse após a publicação da sua poesia?
Bogado: Que fosse lida!
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EN EL CIRCO
Entre el Este y el Oeste
entre Dios y el Demonio
entre el ser y el no ser
entre el alguien y el nadie
entre la hora
del corazón y del estómago,
voy por la cuerda, de brazos
abiertos,
en cada mano un plato
de la balanza.
En el uno el dolor, en otro la balanza.
De Um dia depois do outro (1947), Cassiano Ricardo.
Tradução de Ángel Crespo
Assista Contra el fútbol
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Lectura de poesía
Sibila: ¿Usted lee poesía?
Bogado: Sí. Con la frecuencia en que brotan o se descubren las poesías, flor rara. De tanto en tanto. No hay apuro.
Sibila: ¿Qué poesía lee?
Bogado: Sí los leo, les cité un español y un chileno antes. Entre los brasileros, mi libro preferido es Martim Cerere de Cassiano Ricardo y de entre los más recientes Mar Paraguayo de Wilson Bueno, y Astronauta Paraguayo de Douglas Diegues, Wordsworth, Baudelaire, Laforgue, Rilke, Christian Morgenstern, Leopoldo Maria Panero (español), Anna Ajmatova, Marcabru, Diego Maquieira (chileno).
Sibila: ¿Leer poesía tiene algún efecto?
Bogado: La lectura de poesia es un milagro secreto, un evento en 4 d, una acción entrópica invertida, positiva. Según la segunda ley da termodinámica, todo en el mundo tiende al desgaste, la fermentación, la muerte…esto es siglo 19, época del pensamiento aceleracionista y pesimista. Hoy se habla (Serres y Schrondinger) de la negantropía, seres microscópicos llamados parásitos que invierten esta corriente sombría, que hacen bien del mal. Como el parásito que posibilita el pan, la cerveza y el vino. Hacen Belleza de lo fermentado. Parásitos baudelairianos.
Escritura de poesía
Sibila: ¿Qué espera usted al escribir poesía?
Bogado: Eternizar el esplendor de la hierba, volver a ver una y otra vez a Beatrix púber en una calle cualquiera de la vida gris. Intuir, percibir, es crear, inventar, poetizar. Lo que pasa en la rua, lo que veo en ella pasar es obra mía, siempre. Por tanto no solo me interesa sino me preocupa.
Sibila: ¿Cuál sería el mejor efecto que puede uno obtener de la práctica de poesía?
Bogado: Solo hay una, detener la ilusión de aceleracionismo (ese tiempo continuo y homogéneo que despreciaba Walter Benjamin) de la realidad capitalista nihilista, invaginar el espacio euclidiano en un afuera-dentro fantástico…
Sibila: ¿Su poesía tiene interés público?
Bogado: Mi poesía, como toda poesía, es una diosa disfrazada de civil, en medio de la multitud, solo para el que tiene fe podrá develar su rostro luminoso. Se dice que Ibn Arabi de Murcia vio a la Dama (de donde los provenzales luego en la Edad Media extrapolarían su Dama Cortesana, Virgen Hovy domiandora de la Luna media de los cristianos) después de estar girando alrededor de la piedra negra, la kaaba. Es la visión de la epifanía, el momento feliz de la vida, el domingo de la vida, la poesía.
Publicación de poesía
Sibila: ¿Cuál es el mejor soporte para su poesía?
Bogado: Youtube, SounCloud, Scribd, issu, Twitter, FB etc.
Sibila: ¿Cuál es el mejor resultado que espera de la publicación de su poesía?
Bogado: Ninguno. Solo me gusta la poesía no sus malentendidos!
Sibila: ¿Quién sería el mejor lector de sus libros de poesía?
Bogado: El mejor lector es por lejos ese baqueano lector del libro de la vida y que use sus instrumentos sobre mi poesía – que construya un puente sutil entre ambos
Sibila: ¿Qué es lo que más le gustaría que sucediera después de la publicación de su poesía?
Bogado: Leerlos!
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Leia a série completa
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- Sibila, Lugares contemporâneos da poesia: Zeyar Lynn
Lugares contemporâneos da poesia
Concepção do projeto: Alcir Pécora e Régis Bonvicino
Texto introdutório: Alcir Pécora
Realização: Régis Bonvicino, com a colaboração de Aurora Bernardini e Charles Bernstein
Há reiterados momentos do contemporâneo em que a prática da poesia se parece exatamente apenas uma prática, uma empiria, uma rotina. Faz-se poesia porque poesia é feita. Edita-se poesia porque livros de poesia são editados e foram editados. Por que não continuar editando-os?
Mas qual o significado da arte, quando a arte se reduz a empiria, procedimento habitual que não problematiza os seus meios? Que deixa de inventar os seus próprios fins? Que não desconfia de sua forma conhecida, nem arrisca um lance contra si, inconformada?
Para tentar saber o que pensam a respeito da poesia que produzem alguns dos mais destacados poetas estrangeiros em ação hoje, a Revista Sibila propôs-lhes algumas perguntas simples, primitivas até – silly questions! –, cujo escopo principal é deixar de tomar como naturais ou óbvios os automatismos da prática.
Trata-se de saber dos poetas, da maneira mais direta possível, o que ainda os move a ler, a escrever e a lançar um livro de poesia – ou, mais genericamente, a publicar poesia, seja qual for o suporte.
A condição de, por ora, ouvir apenas os estrangeiros é estratégica aqui. Convém evitar respostas que possam ser neutralizadas a priori por posicionamentos desconfiados de vizinhança.
Leitura de poesia, esforço de poesia e publicação de poesia: nada disso é compulsório, nada disso se explica de antemão. Tudo o que se faz, nesse domínio, é fruto de exigência apenas imaginária. Nada obriga, a não ser a obrigação que se inventa para si.
A revista Sibila quer saber que invenção é essa. Ou seja: o que os poetas ainda podem imaginar para a prática que os define como poetas.
Contemporary places for poetry
There are plenty of moments in our current life when the practice of poetry seems exactly a practice, something empirical, a kind of routine. One makes poetry because poetry has been made. One publishes poetry because books of poetry are published and were published, why not going on publishing them?
But what meaning does art have when art is reduced to empiricism, the habitual procedure which doesn’t discuss its means? Which doesn’t any longer make up its own aims? Which is not suspicious of its usual form, nor runs the risk of a move against itself, unresigned?
Trying to know what some of the most distinguished foreign poets in action today think about their own poetry, Sibila proposed some very simple questions, some naïve questions – silly questions! –, whose principal aim is no longer to consider as natural ( as obvious) the automatisms of the poetical practice.
Sibila asks the poets to tell in the more direct way what still moves them to read, to write, to publish a book of poetry – or, more generically, to publish poetry, in whatever support.
The choice, for the moment, to listen only to foreign poets’ voice is a strategic one. It’s better to avoid answers which would be neutralized a priori, due to suspicious neighbourly attitudes.
Reading poetry, straining to write poetry, publishing poetry: not at all compulsory, all this, not at all explainable in advance. Everything you do in this domain is the result of mere imaginary exacting. Nothing obliges you, unless the obligation you invent yourself, for yourself. Sibila wants to know what kind of invention is that. Id est: what poets may still make up for the practice which defines them as poets.