YI SHA nasceu em 1966 em Chegdu e mudou-se aos dois anos, junto com a família, para a cidade de Xi’an, na província de Shaanxi, cidade da China Central. Ainda na escola, publicou seus primeiros poemas. Estudou chinês na Universidade Normal de Beijing [Pequim] e tornou-se uma figura conhecida entre os poetas chineses que estudavam na universidade. Trabalhou para revistas literárias, como apresentador de TV, como editor independente, e agora é professor assistente junto à Universidade de Estudos Internacionais de Xi’an. Em 1988 publicou sua primeira coletânea de versos, mimeografada, Rua solitária, mas encontrou um editor oficial para sua próxima coletânea, Que os poetas morram de fome! (1994).
Seus outros títulos de prosa e de poesia compreendem: Cais vagabundos (1996); Este Diabo de Yi Sha (1998); Os sons do bastardo (1999); Ídolos blasfemos (1999); Assassino na Moda (2000); Crítica de 10 poetas (2001); Meu herói (2003); Ignorantes não têm vergonha (2005). Sua poesia foi traduzida para muitas línguas, mas ele não tem recebido permissão para recitar seus poemas no estrangeiro, em diversas ocasiões. Seus Poemas curtos escolhidos foram publicados em edição bilíngue chinês-inglês, em 2003, em Hong Kong. Que os poetas morram de fome! (Bloodaxe Books, 2008) é seu primeiro livro em inglês, fora da China.
Leitura de poesia
Sibila: Você lê poesia?
Yi Sha: Claro, pois Confúcio já dizia: “Quem não lê poesia não tem o que comentar”. Sendo eu um poeta, se não ler poesia como haverei de escrevê-la?
Sibila: Que poesia você lê?
Yi Sha: Eu leio qualquer tipo de poesia. Eu não diria que “a leitura pode decifrar todos os enigmas”, mas que “a leitura de poesia pode ajudar na escritura poética”. Nos últimos três anos, eu e a minha esposa G. traduzimos mais de mil poemas do inglês [para o chinês] de mais de cem poetas de todos os lugares do mundo, que é a forma mais efetiva de leitura, uma espécie de dissecamento poético. Além disso, através da divulgação de um poema por dia no site “Clássicos da Poesia do Novo Século” hospedado em NetEasy, um dos quatro maiores portais da China, já são 1217 dias de publicação ininterruptas, dos quais resultaram três grandes antologias, fruto de minha leitura e seleção criteriosa de mais de 10 mil poemas.
Sibila: Você acha que a leitura de poesia tem algum efeito?
Yi Sha: Um antigo ditado chinês diz que, “ao saber de cor os trezentos poemas da dinastia Tang, se não souber escrever, ao menos saberá recitar”. O hábito de leitura diária fez com que fortificasse a minha sensibilidade poética e a percepção crítica, que se reflete no meu fazer poético. Outro provérbio chinês citado em A Arte da Guerra comenta que “conheça a si próprio e o outro e vencerá todas as guerras”; pode ser também muito bem aplicado ao fazer poético: Só é possível se escrever bem poesia a partir do profundo conhecimento das criações literárias da Antiguidade à contemporaneidade, da literatura nacional à estrangeira, pois o poeta precisa ter parâmetro para poder se localizar no mundo e saber qual a direção para jogar as suas energias.
Escrita de poesia
Sibila: O que você espera ao escrever poesia?
Yi Sha: Escrever poesia por si só já é um ato que me traz muita alegria e satisfação. Não consigo imaginar outra alegria maior. O meu destino está fadado a escrever poesia.
Sibila: Qual o melhor efeito que você imagina para a prática da poesia?
Yi Sha: Eu acredito que, devido à longa imersão poética, estou cada vez mais próximo da verdadeira poesia e distante das poesias de baixa qualidade. O maior valor da poesia é a construção de uma humanidade melhor.
Sibila: Você acha que a sua poesia tem interesse público?
Yi Sha: Parece que não, mas de fato há um grande valor social. Eu não vou negar isto devido à falta de reconhecimento da poesia pelo grande público. Não apenas não negarei como ainda tenho de reafirmá-lo. O poeta não deve ostentar, mas também não deve subestimar-se. Eu acredito que todo grande poeta do seu tempo foi bastante exigente consigo mesmo.
Publicação de poesia
Sibila: Qual o melhor suporte para a sua poesia?
Yi Sha: Eu acredito que a publicação seja o maior suporte. Especialmente daquele tipo de poesia que consegue adentrar nas listas de vendas tanto das livrarias reais como virtuais.
Sibila: Qual o melhor resultado que você espera da publicação da sua poesia?
Yi Sha: Muito simples: que os meus leitores consigam comprar o meu livro e extrair dele o melhor.
Sibila: Qual o melhor leitor de seu livro de poesia?
Yi Sha: Não sei dizer. Talvez os leitores sejam cem, mil ou 10 mil, e eu valorizo cada um deles. Num sarau literário, um afamado editor de uma das mais prestigiadas editoras chinesas me procurou para publicar minha antologia poética e me contou que havia lido meu livro de poesia na época da faculdade e que essa leitura o influenciou muito e definitivamente. As coisas são assim: o leitor de ontem pode se tornar o seu editor de hoje.
Sibila: O que você mais gostaria que acontecesse após a publicação da sua poesia?
Yi Sha: “Não se entristeça se não encontrar um confidente durante a jornada, pois você é reconhecido por todos”.1
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读诗
Sibila:你读诗吗?
伊沙:当然,我们的老祖先孔夫子早就说过:“不读诗,无以言”,我岂敢不读诗,不读诗连话都说不好,何况我是一个诗人,不读诗的话,想要写好门儿都没有。
Sibila:你读什么样的诗?
伊沙:什么诗都读。我不敢说我“读书破万卷”,但我敢说我“读诗破万首”,仅就近三年来说,我和我妻子老G合作通过英文翻译了世界各国一百多位诗人的一千余首长短诗作——翻译,可以说是最深入有效的阅读,是手术刀式的阅读;另外,我通过中国四大网站之一——网易开辟微专栏《新世纪诗典》,每天推荐一首中国当代优秀诗歌,迄今已经坚持了1217天,结集出版了三部大型诗选。这1217首诗,是我从大约十多万首诗作中精挑细选出来的。
Sibila:你认为阅读诗歌会产生什么影响?
伊沙:中国有句古话:“熟读唐诗三百首,不会作诗也会吟”,日常的广泛的阅读增强了我的诗感和判断力,反馈到自己的创作中;中国还有个成语:“知己知彼,百战不殆”——原来说的是打仗,用在写诗上也一样。不了解古今中外同行的创作成果,自己是很难写好的,没有参照系,也找不准自己的位置和努力的方向。
写诗
Sibila: 你对写诗有何期待?
伊沙:写诗本身的快乐便足以让我期待——那是一种创造的满足感——还有什么比这更大的快乐吗?我想不出来,所以命中注定只有写诗。
Sibila: 在你看来,什么是研习诗歌带来的最佳效果?
伊沙:我想:正是因为长期浸淫在诗歌中,我离真善美越来越近,离假丑恶渐行渐远——诗歌最大的价值就是有助于人类建设自身的美好。
Sibila:你认为你的诗有社会价值吗?
伊沙:貌似没有,实则有的,并且很大——我不会因为大众对于诗歌的漠视而否认这一点,不但不否认,而且要加强,诗人不可虚妄,也不可妄自菲薄,我相信人类历史上各个时期的大诗人都是从未放松过自我要求的人。
出版诗歌
Sibila:这是对你诗的最好的支持吗?
伊沙:我想是的,并且是最首要的支持,尤其是那种能够进入实体书店和网上书店等主流销售渠道的“大出版”。
Sibila:你对你诗出版所期待的最佳结果是什么?
伊沙:很简单:让真正想读到我诗的读者买到它、有所得。
Sibila:谁是你的最佳诗歌读者?
伊沙:我不知道。他们或许有一百个人或一千个人或一万个人,我珍惜他们每一个,前不久,在一次诗会上,中国最著名最权威的一家文学出版社的编辑来约我的诗集,他告诉我:他在大学时代读过我的一本诗集,对其视野、思维产生了很大的影响——就是这样,你昨天的读者,有可能成为你今天的编辑。
Sibila:你最希望你的诗出版后会发生什么?
伊沙:“莫愁前路无知己,天下谁人不识君”。
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Tradução: Ms. Márcia Schmaltz 修安琪
Departamento de Português / Department of Portuguese
Faculdade de Letras e Humanidades/ Faculty of Arts and Humanities – Universidade de Macau
澳門大學人文學院葡文系
Notas
- N.T.: renomado poema de despedida de Gao Shi (702-765) ao músico Dong Tinglan (? 695-765), que não encontrou reconhecimento na corte do imperador Tang Xuanzong.
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- Sibila, Lugares contemporâneos da poesia: Zeyar Lynn
Lugares contemporâneos da poesia
Concepção do projeto: Alcir Pécora e Régis Bonvicino
Texto introdutório: Alcir Pécora
Realização: Régis Bonvicino, com a colaboração de Aurora Bernardini e Charles Bernstein
Há reiterados momentos do contemporâneo em que a prática da poesia se parece exatamente apenas uma prática, uma empiria, uma rotina. Faz-se poesia porque poesia é feita. Edita-se poesia porque livros de poesia são editados e foram editados. Por que não continuar editando-os?
Mas qual o significado da arte, quando a arte se reduz a empiria, procedimento habitual que não problematiza os seus meios? Que deixa de inventar os seus próprios fins? Que não desconfia de sua forma conhecida, nem arrisca um lance contra si, inconformada?
Para tentar saber o que pensam a respeito da poesia que produzem alguns dos mais destacados poetas estrangeiros em ação hoje, a Revista Sibila propôs-lhes algumas perguntas simples, primitivas até – silly questions! –, cujo escopo principal é deixar de tomar como naturais ou óbvios os automatismos da prática.
Trata-se de saber dos poetas, da maneira mais direta possível, o que ainda os move a ler, a escrever e a lançar um livro de poesia – ou, mais genericamente, a publicar poesia, seja qual for o suporte.
A condição de, por ora, ouvir apenas os estrangeiros é estratégica aqui. Convém evitar respostas que possam ser neutralizadas a priori por posicionamentos desconfiados de vizinhança.
Leitura de poesia, esforço de poesia e publicação de poesia: nada disso é compulsório, nada disso se explica de antemão. Tudo o que se faz, nesse domínio, é fruto de exigência apenas imaginária. Nada obriga, a não ser a obrigação que se inventa para si.
A revista Sibila quer saber que invenção é essa. Ou seja: o que os poetas ainda podem imaginar para a prática que os define como poetas.
Contemporary places for poetry
There are plenty of moments in our current life when the practice of poetry seems exactly a practice, something empirical, a kind of routine. One makes poetry because poetry has been made. One publishes poetry because books of poetry are published and were published, why not going on publishing them?
But what meaning does art have when art is reduced to empiricism, the habitual procedure which doesn’t discuss its means? Which doesn’t any longer make up its own aims? Which is not suspicious of its usual form, nor runs the risk of a move against itself, unresigned?
Trying to know what some of the most distinguished foreign poets in action today think about their own poetry, Sibila proposed some very simple questions, some naïve questions – silly questions! –, whose principal aim is no longer to consider as natural ( as obvious) the automatisms of the poetical practice.
Sibila asks the poets to tell in the more direct way what still moves them to read, to write, to publish a book of poetry – or, more generically, to publish poetry, in whatever support.
The choice, for the moment, to listen only to foreign poets’ voice is a strategic one. It’s better to avoid answers which would be neutralized a priori, due to suspicious neighbourly attitudes.
Reading poetry, straining to write poetry, publishing poetry: not at all compulsory, all this, not at all explainable in advance. Everything you do in this domain is the result of mere imaginary exacting. Nothing obliges you, unless the obligation you invent yourself, for yourself. Sibila wants to know what kind of invention is that. Id est: what poets may still make up for the practice which defines them as poets.