Omid Shams é um escritor iraniano, crítico literário e jornalista freelance. Fez mestrado no American Studies da Universidade de Torino, Itália, e publicou vários livros, incluindo poemas, romances e traduções de proeminentes autores americanos para Farsi, como Ginsberg e Bergstein. Ele escreveu ensaios sobre poesia e teoria crítica, publicados em vários jornais literários, revistas e também on-line. Foi coeditor de revistas literárias como Zendeh Rood, Bidaar e Dastoor.
Depois de ter experimentado ameaças e ataques de autoridades do Irã, como consequência de seus escritos e engajamento por causa da situação dos direitos humanos no Irã, ele deixou seu país de origem e foi para a Europa. Shams chegou são e salvo a Aarhus em abril de 2014, onde continua seus escritos e trabalhos artísticos.
Cf.: http://icorn.org/writer/omid-shams-gakieh
Leitura de poesia
Sibila: Você lê poesia?
Shams: Creio que sim.
Sibila: Que poesia você lê?
Shams: Gosto de ler poesia como uma viagem de ida e volta; lendo os clássicos e voltando para a vanguarda. Lendo Rumi e voltando para Rimbaud, lendo Ginsberg e voltando a Blake, lendo Mallarmé e Hafiz e voltando para Lautreamont e Bernstein.
Sibila: Você acha que a leitura de poesia tem algum efeito?
Shams: Ler poesia me ajuda a viver mais do que uma vez. Dá-me o prazer de observar a língua – e, como consequência, o mundo – ser destruída e reconstruída constantemente.
Escrita de poesia
Sibila: O que você espera ao escrever poesia?
Shams: Espero que a poesia contamine a realidade. Escrevo poesia com a esperança de que o trabalho escrito possa, eventualmente, vir a ser ultrapassado por um real incidente poético. Em outras palavras, minha expectativa última, ao escrever poesia, é a de subverter a vida real em favor de uma volta à vida poética ou estética.
Sibila: Qual o melhor efeito que você imagina para a prática da poesia?
Shams: O melhor efeito seria o de testemunhar que a poesia continua sendo levada adiante, sendo realizada; ver os demônios e os diabos, os gênios e os leviatãs da mente do melancólico e do esquizofrênico serem soltos pelas ruas do mundo real.
Sibila: Você acha que a sua poesia tem interesse público?
Shams: Não, pois não é bem de consumo.
Publicação de poesia
Sibila: Qual o melhor suporte para a sua poesia?
Shams: Espalhar-se como um incêndio, como uma doença.
Sibila: Qual o melhor resultado que você espera da publicação da sua poesia?
Shams: O melhor resultado da publicação de meus poemas é o de não mais me encontrar sozinho com meus pensamentos. Eu os excreto, livro-me deles. Eu os materializo em forma de um livro, ou de um e-book. Agora já são inegáveis; e quando alguém os lê, já não estou mais sozinho, a ver coisas que são invisíveis. Deixo rastros que se espera não partilhem do mesmo destino de meu corpo mortal. Dizem que, quando você morre, seu corpo ejacula automaticamente o esperma. O corpo resiste à morte semeando e plantando suas últimas esperanças de sobreviver. Meus poemas são minhas últimas esperanças de resistência contra todas as muitas faces que a morte tem, incluindo o silêncio, a supressão, a submissão e o esquecimento.
Sibila: Qual o melhor leitor de seu livro de poesia?
Shams: Aquele que não suporta ver meus poemas algemados às páginas. Aquele que os emancipa, liberta-os das páginas e os deixa viver como se fossem reais.
Sibila: O que você mais gostaria que acontecesse após a publicação da sua poesia?
Shams: O caos.
Reading poetry
Sibila: Do you read poetry?
Shams: I believe I do.
Sibila: What kind of poetry do you read?
Shams: I enjoy reading poetry as a journey to and fro; reading classics and returning to avant-gardes. Reading Rumi and returning to Rimbaud, reading Ginsberg and returning to Blake, reading Mallarme and Hafiz, returning to Lautreamont and Bernstein.
Sibila: Do you think that reading poetry would produce any effect?
Shams: Reading poetry helps me to live more than once. It gives me the pleasure of watching language- and consequently the world- getting destructed and reconstructed constantly.
Writing poetry
Sibila: What do you expect from writing poetry?
Shams: I expect poetry to contaminate the reality. I write poetry, hoping the written work would be, eventually, superseded with a real poetic incident. In other words, my highest expectation of writing poetry is to subvert the real life in favor of returning to the poetic or aesthetic life.
Sibila: In your opinion, which is the best effect one can get from practicing poetry?
Shams: The best effect would be to witness poetry being carried out, being realized; to watch the demons and devils, Geniuses and Leviathans of the melancholic and schizophrenic minds, being unleashed on the streets of the real world.
Sibila: Do you think your poetry has any public value?
Shams: No, because it is not consumable.
Publishing poetry
Sibila: Which is the best support for your poetry?
Shams: To be spread like wildfire, like disease.
Sibila: Which is the best result you expect from the publishing of your poetry?
Shams: The best result of publishing my poetry is that I am no longer alone with my thoughts. I excrete them, I get rid of them. I materialize them in the form of a book, or e-book. They are undeniable now; and when someone reads them, I am no longer alone with seeing things which are unseen. I leave traces, which hopefully will not share the same fate as my mortal body. It is said that when you die, your body automatically ejaculates the sperms. The body resists death through the attempt of inseminating and planting its last hopes of survival. My poems are my last hopes of resistance against all the many faces of death including silence, suppression, submission and oblivion.
Sibila: Who is the best reader of your poetry?
Shams: The one who cannot stand my poems chained to the pages. The one who emancipates them, liberates them from those pages and let them live as real.
Sibila: What would you most like to happen after the publication of your poetry?
Shams: Chaos
* * *
Leia a série completa
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- Sibila, Lugares contemporâneos da poesia: Zeyar Lynn
Lugares contemporâneos da poesia
Concepção do projeto: Alcir Pécora e Régis Bonvicino
Texto introdutório: Alcir Pécora
Realização: Régis Bonvicino, com a colaboração de Aurora Bernardini e Charles Bernstein
Há reiterados momentos do contemporâneo em que a prática da poesia se parece exatamente apenas uma prática, uma empiria, uma rotina. Faz-se poesia porque poesia é feita. Edita-se poesia porque livros de poesia são editados e foram editados. Por que não continuar editando-os?
Mas qual o significado da arte, quando a arte se reduz a empiria, procedimento habitual que não problematiza os seus meios? Que deixa de inventar os seus próprios fins? Que não desconfia de sua forma conhecida, nem arrisca um lance contra si, inconformada?
Para tentar saber o que pensam a respeito da poesia que produzem alguns dos mais destacados poetas estrangeiros em ação hoje, a Revista Sibila propôs-lhes algumas perguntas simples, primitivas até – silly questions! –, cujo escopo principal é deixar de tomar como naturais ou óbvios os automatismos da prática.
Trata-se de saber dos poetas, da maneira mais direta possível, o que ainda os move a ler, a escrever e a lançar um livro de poesia – ou, mais genericamente, a publicar poesia, seja qual for o suporte.
A condição de, por ora, ouvir apenas os estrangeiros é estratégica aqui. Convém evitar respostas que possam ser neutralizadas a priori por posicionamentos desconfiados de vizinhança.
Leitura de poesia, esforço de poesia e publicação de poesia: nada disso é compulsório, nada disso se explica de antemão. Tudo o que se faz, nesse domínio, é fruto de exigência apenas imaginária. Nada obriga, a não ser a obrigação que se inventa para si.
A revista Sibila quer saber que invenção é essa. Ou seja: o que os poetas ainda podem imaginar para a prática que os define como poetas.
Contemporary places for poetry
There are plenty of moments in our current life when the practice of poetry seems exactly a practice, something empirical, a kind of routine. One makes poetry because poetry has been made. One publishes poetry because books of poetry are published and were published, why not going on publishing them?
But what meaning does art have when art is reduced to empiricism, the habitual procedure which doesn’t discuss its means? Which doesn’t any longer make up its own aims? Which is not suspicious of its usual form, nor runs the risk of a move against itself, unresigned?
Trying to know what some of the most distinguished foreign poets in action today think about their own poetry, Sibila proposed some very simple questions, some naïve questions – silly questions! –, whose principal aim is no longer to consider as natural ( as obvious) the automatisms of the poetical practice.
Sibila asks the poets to tell in the more direct way what still moves them to read, to write, to publish a book of poetry – or, more generically, to publish poetry, in whatever support.
The choice, for the moment, to listen only to foreign poets’ voice is a strategic one. It’s better to avoid answers which would be neutralized a priori, due to suspicious neighbourly attitudes.
Reading poetry, straining to write poetry, publishing poetry: not at all compulsory, all this, not at all explainable in advance. Everything you do in this domain is the result of mere imaginary exacting. Nothing obliges you, unless the obligation you invent yourself, for yourself. Sibila wants to know what kind of invention is that. Id est: what poets may still make up for the practice which defines them as poets.