Skip to main content

Sibila, lugares contemporâneos da poesia: Pascal Poyet

Pascal Poyet nasceu em Rive-de-Gier em 1970. Cursou a escola de Belas Artes de Grenoble. Desde 1998, codirige com Goria as edições Contrat maint (mais de setenta títulos disponíveis), que publicam textos de artistas e de poetas contemporâneos, ensaios, traduções, em obras curtas cuja forma, inspirada na literatura de cordel brasileira, traduz uma utopia de pensamento e de ação.

Bibliografia: L’Entraînement, com Goria, contrat maint, 1998; Compadrio, com Jean Stern, contrat maint, 1998; Abigail Child, Climat / Plus, Format Américain, 1999; Charles Olson, Commencements, ouvrage collectif, Théâtre Typographique, 2000; L’Embarras, Patin & Couffin, 2000; Principes d’équivalences, Fidel Anthelme X, 2001; Expédients, La Chambre, 2002; Peter Gizzi, Revival, cipM / Spectres Familiers, 2003; Au compère, Le bleu du ciel, 2005; David Antin, je n’ai jamais su quelle heure il était, Héros-Limite, 2008; Trois textes cinq définitions, avec Goria, lnk, 2010; Draguer l’évidence, Éric Pesty éditeur, 2011; Causes cavalières, L’Attente (réédition 2000), 2011; Linéature, Éric Pesty éditeur, 2012; Un sens facétieux, cipM, 2012; David Antin, Accorder, Héros-Limite, 2012; Cinéma du présent, Lisa Robertson, Théâtre Typographique, 2015.

Traduções (Éditions contrat maint): Lisa Jarnot, Journal d’un ange sado maso (com Marie Borel), 2011; Rosmarie Waldrop, d’Absence abondante, 2009; Rosmarie Waldrop, Dans n’importe quelle langue, 2006; Miles Champion, Couverture fluide, 2004; Miles Champion, Mis à plat, 2002; Julian Opie, Conduire (com Goria), 2002; John Baldessari, Bars de rencontres et Montaigne (com Goria), 2002; David Antin, Huit Histoires pour John Baldessari, 2000; Peter Gizzi, Blue Peter, 2000; Rosmarie Waldrop, Pré & Con ou Positions & Jonctions, 1999.

Cf.: http://www.editionsdelattente.com/site/www/index.php/acteur/front/read?id=84#.

Leitura de poesia

Sibila: Você lê poesia?

Pascal: Leio poesia, prosa, ensaios, filosofia, linguística, sociologia; vou de umas às outras e me conto histórias.

Sibila: Que poesia você lê?

Pascal: As escrituras reflexivas, que inventam formas e novos modos de inscrição, curiosas por entrar em territórios pouco ou nada explorados. Algumas, por sinal, são classificadas como “ poesia”… Eu leio meus contemporâneos. Para mim, a leitura de poesia, muitas vezes, é a “consulta dos contemporâneos”.

Sibila: Você acha que a leitura de poesia tem algum efeito?

Pascal: O que acabo de descrever tem, para mim, um efeito revigorante!

Escrita de poesia

Sibila: O que você espera ao escrever poesia?

Pascal: Espero pensamentos, sentido circulando. Escrevo contra a paralisia do sentido (faço o que eu posso).

Sibila: Qual o melhor efeito que você imagina para a prática da poesia?

Pascal: Que num certo momento a gente se diga: “É isso!”, é o momento em que tudo muda.

Sibila: Você acha que a sua poesia tem interesse público?

Pascal: Você considera sinônimos os termos “valor” e “efeito”, nesse questionário? Seria necessário que eu, em primeiro lugar, imaginasse o assim chamado “público”, e eu nunca penso nele, quando trabalho. Mas, admitamos que eu levante os olhos e veja um público diante de mim. Que ele esteja lá e que fique lá, sem arrastar por demais as cadeiras: pode ser que esse público esteja achando que isso vale a pena, que tal?

Publicação de poesia

Sibila: Qual o melhor suporte para a sua poesia?

Pascal: Um espaço (melhor do que um suporte) no qual eu até hoje tenho trabalhado bastante e onde acredito que meu trabalho se tenha desenvolvido de forma interessante está “um pouco acima do papel”. É um espaço onde me parece possível, por exemplo durante uma leitura pública, reescrever ou continuar escrevendo o texto, por estar mais próximo não tanto “daquilo” que está escrito, mas de “como” está escrito. A esse espaço dou o nome de fala. Por essa razão, meu livro, Draguer l’évidence [Dragar, drenar a evidência] tem duas “faces”, ou seja, duas versões que se questionam uma à outra. Uma está impressa; a outra, gravada. Um texto deve poder ser transportado.

Sibila: Qual o melhor resultado que você espera da publicação da sua poesia?

Pascal: Que o texto circule e que encontre seus leitores. E que, eventualmente, esses leitores reajam. Que a gente discuta. Que haja também leitores desconhecidos, para mim. Mas, como sabê-lo?

Sibila: Qual o melhor leitor de seu livro de poesia?

Pascal: Não quero adiantar-me prejulgando as maneiras de ler, até mesmo meu próprio texto. Existem muitas maneiras de ler que eu nem imagino – é isso que eu prefiro.

Sibila: O que você mais gostaria que acontecesse após a publicação da sua poesia?

Pascal: Para mim? Sair e dar uma volta. Escrever alguma outra coisa. Ou retomar outras, talvez.

Lecture de poésie

Sibila: Lisez vous poésie?

Pascal: Je lis de la poésie et de la prose, des essais, de la philosophie, de la linguistique, de la sociologie ; je vais des uns aux autres et je me raconte des histoires.

Sibila: Quel genre de poésie ?

Pascal: Les écritures réflexives, inventrices de formes et de nouveaux modes d’inscription, curieuses de territoires peu ou pas explorés. Certaines classées ailleurs qu’au rayon « poésie »… Je lis mes contemporains. Pour moi, la lecture de la poésie est souvent « la consultation des contemporains ».

Sibila: Pensez vous que la lecture de poésie produit quelque effet?

Pascal: Celle que je viens de décrire a sur moi un effet roboratif!

Écriture de poésie

Sibila: Qu’est ce que vous attendez en écrivant de la poésie ?

Pascal: De la pensée, du sens en circulation. J’écris contre l’arrestation du sens. (Je fais de mon mieux.)

Sibila: Quel est le meilleur effet que vous imaginez pour la pratique de la poésie?

Pascal: Qu’à un moment on se dise : « tiens ! ». C’est le moment où tout change.

Sibila: Pensez vous que votre poésie pourra avoir un certaine valeur pour le public? Lequel?

Pascal: Considérez-vous le mot « valeur », employé ici, et le mot « effet », dans la question précédente, comme des synonymes? Il faudrait d’abord que j’imagine le soi-disant public, et je ne pense jamais à lui en travaillant. Mais en admettant que, levant les yeux, je voie un public, en effet, qu’il soit là et qu’il reste, qu’on n’entende pas claquer trop de chaises: c’est peut-être qu’il trouve que ça vaut au moinsvla peine, non ?

Publication de poésie

Sibila: Quel est le meilleur support pour votre poésie?

Pascal: Un espace (plutôt qu’un support) dans lequel j’ai beaucoup travaillé jusqu’ici, où je crois que mon travail s’est déployé de façon intéressante, est « légèrement au-dessus du papier ». C’est un espace où il me semble qu’il est possible, par exemple au cours d’une lecture publique, de récrire ou de continuer à écrire le texte tout en étant au plus près non pas tant de « ce » qui est écrit que de « comment » c’est écrit. J’appelle cet espace la parole. Pour cette raison, mon livre Draguer l’évidence a deux « faces », disons, deux versions se questionnant l’une l’autre: l’une est imprimée, l’autre enregistrée. Un texte doit pouvoir être transporté.

Sibila: Quel est le résultat le plus intéressant que vous attendez de la publication de votre poésie?

Pascal: Que le texte circule et qu’il trouve des lecteurs. Qu’éventuellement ces lecteurs réagissent, que nous en discutions. Qu’il y ait aussi des lecteurs inconnus de moi — mais comment le savoir?

Sibila: Quel est le meilleur lecteur de votre livre de poésie ?

Pascal: Je ne veux pas préjuger des façons de lire, même mon propre texte. Il existe sans aucun doute de très nombreuses façons de lire dont je n’ai même pas idée, — et je préfère ça.

Sibila: Quelle est la chose la plus intéressante qui pourrait se produire pour vous après la publication de votre poésie?

Pascal: Pour moi? Sortir faire un tour. Écrire autre chose. Reprendre, peut-être.

 

* * *

Leia a série completa

 

Lugares contemporâneos da poesia

Concepção do projeto: Alcir Pécora e Régis Bonvicino
Texto introdutório: Alcir Pécora
Realização: Régis Bonvicino, com a colaboração de Aurora Bernardini e Charles Bernstein

Há reiterados momentos do contemporâneo em que a prática da poesia se parece exatamente apenas uma prática, uma empiria, uma rotina. Faz-se poesia porque poesia é feita. Edita-se poesia porque livros de poesia são editados e foram editados. Por que não continuar editando-os?

Mas qual o significado da arte, quando a arte se reduz a empiria, procedimento habitual que não problematiza os seus meios? Que deixa de inventar os seus próprios fins? Que não desconfia de sua forma conhecida, nem arrisca um lance contra si, inconformada?

Para tentar saber o que pensam a respeito da poesia que produzem alguns dos mais destacados poetas estrangeiros em ação hoje, a Revista Sibila propôs-lhes algumas perguntas simples, primitivas até – silly questions! –, cujo escopo principal é deixar de tomar como naturais ou óbvios os automatismos da prática.

Trata-se de saber dos poetas, da maneira mais direta possível, o que ainda os move a ler, a escrever e a lançar um livro de poesia – ou, mais genericamente, a publicar poesia, seja qual for o suporte.

A condição de, por ora, ouvir apenas os estrangeiros é estratégica aqui. Convém evitar respostas que possam ser neutralizadas a priori por posicionamentos desconfiados de vizinhança.

Leitura de poesia, esforço de poesia e publicação de poesia: nada disso é compulsório, nada disso se explica de antemão. Tudo o que se faz, nesse domínio, é fruto de exigência apenas imaginária. Nada obriga, a não ser a obrigação que se inventa para si.

A revista Sibila quer saber que invenção é essa. Ou seja: o que os poetas ainda podem imaginar para a prática que os define como poetas.

Contemporary places for poetry

There are plenty of moments in our current life when the practice of poetry seems exactly a practice, something empirical, a kind of routine. One makes poetry because poetry has been made. One publishes poetry because books of poetry are published and were published, why not going on publishing them?

But what meaning does art have when art is reduced to empiricism, the habitual procedure which doesn’t discuss its means? Which doesn’t any longer make up its own aims? Which is not suspicious of its usual form, nor runs the risk of a move against itself, unresigned?

Trying to know what some of the most distinguished foreign poets in action today think about their own poetry, Sibila proposed some very simple questions, some naïve questions – silly questions! –, whose principal aim is no longer to consider as natural ( as obvious) the automatisms of the poetical practice.

Sibila asks the poets to tell in the more direct way what still moves them to read, to write, to publish a book of poetry – or, more generically, to publish poetry, in whatever support.

The choice, for the moment, to listen only to foreign poets’ voice is a strategic one. It’s better to avoid answers which would be neutralized a priori, due to suspicious neighbourly attitudes.

Reading poetry, straining to write poetry, publishing poetry: not at all compulsory, all this, not at all explainable in advance. Everything you do in this domain is the result of mere imaginary exacting. Nothing obliges you, unless the obligation you invent yourself, for yourself. Sibila wants to know what kind of invention is that. Id est: what poets may still make up for the practice which defines them as poets.