A poeta sino-americana ZHANG ER nasceu em Beijing, China, e mudou-se para Nova York em 1986. É também médica. Publicou quatro antologias de poesia em chinês, a mais recente Yellow Walls: A String of Doors (2010), além de edições bílingues como So Translating Rivers and Cities (2007) e Verses on Bird (2004). Foi coeditora da importante coletânea de poesia chinesa contemporânea Another Kind of Nation: An Anthology of Contemporary Chinese Poetry (2007). Reside em Olympia, Washington. Leciona atualmente no Evergreen State College, em Washington.
Leitura de poesia
Sibila: Você lê poesia?
Zhang Er: Sim, naturalmente.
Sibila: Que poesia você lê?
Zhang Er: Leio poesia chinesa clássica e contemporânea. Também leio o trabalho de poetas americanos, uma vez que agora vivo nos Estados Unidos. Adoro ler poesia de outras línguas traduzida para o chinês.
Sibila: Você acha que a leitura de poesia tem algum efeito?
Zhang Er: Sim, para mim a poesia é a essência da vida. Sem ela, a vida seria pura rotina. Por isso, o “efeito” é que ainda estou aqui e gostando de nossa imperfeição.
Escrita de poesia
Sibila: O que você espera ao escrever poesia?
Zhang Er: Como toda jornada para uma selva desconhecida, nunca se sabe completamente o que esperar do novo poema a ser escrito, ou mesmo do novo verso. O elemento intrigante de escrever poesia é, em parte, devido à imprevisibilidade da empresa.
Sibila: Qual o melhor efeito que você imagina para a prática da poesia?
Zhang Er: “Praticar poesia” é uma frase fascinante que abrange mais do que apenas escrever / ler / publicar. Implica viver uma vida poética. Praticar poesia, para mim, significa conservar a curiosidade para com a vida, para com outras mentes, para com outras mentes possíveis.
Sibila: Você acha que a sua poesia tem interesse público?
Zhang Er: Sim, pois eu sou parte do público.
Publicação de poesia
Sibila: Qual o melhor suporte para a sua poesia?
Zhang Er: O trabalho de outros poetas e uma imprensa livre.
Sibila: Qual o melhor resultado que você espera da publicação da sua poesia?
Zhang Er: Algum reconhecimento e uma resenha séria seriam ótimos.
Sibila: Qual o melhor leitor de seu livro de poesia?
Zhang Er: Alguém que ame a poesia e que se interesse o suficiente para oferecer uma análise crítica.
Sibila: O que você mais gostaria que acontecesse após a publicação da sua poesia?
Zhang Er: Ter mais tempo livre para escrever e mais oportunidade de publicar meu trabalho futuro.
* * *
Plastic Flowers in the Porthole
Don’t rearrange the Everyday! It’s Beauty
itself, no – the search for same.
In five hundred years, indigestible plastic
emerges as Classic Art. As for you,
you are Eternity: flowing
non-stop, paying total voracious attention
to the outlines of things.
The silhouette scissors
cut room for various volumes and surfaces!
Alright then, how
should we treat life,
with all its transient needs?
Hunger, for example, sex
and (ta da!) marriage contract? Mountains rivers
all rush by-
men, women, their
enthusiastic creations-
where to put them all? What could possibly hold them?
Meaningless sky
matches the vase of plastic flowers,
blossoms bright industrial smile.
Let it Be Distinguished.
Let it Be Pure.
don’t move, don’t shake
don’t want instant noodle boxes, cigarette butts, soda bottles
don’t want tissue paper, fruit pit, garbage bag
don’t want another cold dish or diced chicken with garlic sauce
don’t want color, negative or positive
don’t want sound, nor the plot
don’t want a big scene, nor the actors
don’t want tears, nor resentment
no need for name-brand clothes, makeup
nor bra, flowery panties
don’t want you to bleed
don’t dynamite the old house
don’t dam river, build bridge instead
tell me story, don’t lecture
don’t look at me that way
don’t feed me apple guts
hold me tight
don’t allow this handful of clear crystal to change into turbid soup
hold me tight
don’t let your dark current
wash away these mornings, afternoons, nights
filled with laughter filled with
English version by Bob Holman
Flores de Plástico na Guarita
Não fique refazendo o Cotidiano! Beleza
em si, não – a busca pelo mesmo.
Em 500 anos, o plástico indigesto
emerge agora como Arte Clássica. Quanto a você,
você é a Eternidade: fluindo
sem parar, prestando toda atenção voraz
aos limites das coisas.
A tesoura silhueta
recorta o espaço para vários volumes e superfícies!
Muito bem, então, como
tratar da vida,
e suas necessidades transitórias?
A fome, por exemplo, o sexo
e (ta lá!) o contrato de casamento? Montanhas, rios
todos se precipitam
homens , mulheres, suas
entusiásticas criações –
onde metê-las todas? O que sustenta isso?
Um céu sem sentido
combina com o vaso de flores de plástico,
floresce um luminoso sorriso industrial.
Que seja diferente.
Que seja puro.
não se mova, não se mexa
não queira caixinhas de macarrão instantâneo, pontas de cigarro, garrafas de soda
não queira lenço-papel, coração de fruta, saco de lixo
não queira um outro prato frio ou galinha em dados com molho ao alho
não queira em cores, negativo ou positivo
não queira som, nem o enredo
não queira uma grande cena, nem os atores
não queira lágrimas, nem mágoa
não precisa de roupas de grife, maquiagem
nem de sutiãs, calcinhas floridas
não queira sangrar
não exploda a velha casa
não represe o rio, construa ao invés a ponte
me conte a história, não pontifique
não me olhe desse jeito
não me dê maçã em caroço
me abrace apertado
não permita que essa mão cheia de cristal claro se mude em sopa turva
me abrace apertado
não deixe sua correnteza escura
arrastar essas manhãs, tardes, noites
cheias de riso cheias de
Traduções para o português: Aurora Bernardini
舷窗前的塑料花
让它固定,延长我们的追求-
留下不动,日子便成为永恒
艺术,你源源不断
只留意事物的轮廓,让出
各种体积和表面。那么
我们该怎样对待生命
短暂的必需?
比如食欲,性
还有婚约?山山水水
就流过去了-
男人、女人和他们
热切的创作-
放在哪里?端在哪里?
天没有意思,就着一捧塑料花
灿然绽开工业化的微笑。
让它风流,让它纯粹
不要动,不要摇
不要方便面盒子,烟头,饮料瓶
不要手纸,果核,垃圾袋
不要加冷盘,或者宫宝鸡丁
不要颜色,正片或底版
不要声音,不要很多情节
不要大场面,不要人物性格
不要眼泪,不要怨恨
不要名家时装,或者化妆
不要乳罩,透花内裤
不要你流血
不要把老房子炸掉
不要大坝,架一座桥
讲故事吧,不要讲道理
不要那么看我
不要喂我苹果的心肠
抱紧我
这捧清亮不要让它变成汤
抱紧我
不要让你的水
流失这些充满欢笑的
早晨
下午
和
夜
* * *
Mais Zhang Er
- Ouça Zhang Er lendo seus poemas
- Zhang Er Poetry Reading
* * *
Reading poetry
Sibila: Do you read poetry?
Zhang Er: Yes. Of course.
Sibila: What kind of poetry do you read?
Zhang Er: I read classical and contemporary Chinese poetry. I also read American poets’ work since I now live in US. I love reading poetry translated into Chinese from other languages.
Sibila: Do you think that reading poetry would produce any effect?
Zhang Er: Yes, for me poetry is the essence of life. Without it, life would be a sheer drudgery. So the “effect” is that I am still here and enjoy our imperfection.
Writing poetry
Sibila: What do you expect from writing poetry?
Zhang Er: Like any journey in the wildness, one can never fully know what to expect in writing the next poem or even the next line. The intriguing element of writing poetry is partly due to unpredictability in the undertaking.
Sibila: In your opinion, which is the best effect one can get from practising poetry?
Zhang Er: “Practicing poetry” is a fascinating phrase and encompass more than just writing / reading / publishing. It implies living a poetic life. To practice poetry for me meaning to maintain curiosity about life and curiosity about other minds and other possible minds.
Sibila: Do you think your poetry has any public value?
Zhang Er: Yes, since I am part of that public.
Publishing poetry
Sibila: Which is the best support for your poetry?
Zhang Er: Other poets’ work, and free press.
Sibila: Which is the best result you expect from the publishing of your poetry?
Zhang Er: Some recognition and serious review would be great.
Sibila: Who is the best reader of your poetry?
Zhang Er: A person who loves poetry and cares enough to offer critical analysis.
Sibila: What would you most like to happen after the publication of your poetry?
Zhang Er: To have more leisure to write and more opportunity to publish future work.
* * *
Leia a série completa
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- Sibila, Lugares contemporâneos da poesia: Zeyar Lynn
Lugares contemporâneos da poesia
Concepção do projeto: Alcir Pécora e Régis Bonvicino
Texto introdutório: Alcir Pécora
Realização: Régis Bonvicino, com a colaboração de Aurora Bernardini e Charles Bernstein
Há reiterados momentos do contemporâneo em que a prática da poesia se parece exatamente apenas uma prática, uma empiria, uma rotina. Faz-se poesia porque poesia é feita. Edita-se poesia porque livros de poesia são editados e foram editados. Por que não continuar editando-os?
Mas qual o significado da arte, quando a arte se reduz a empiria, procedimento habitual que não problematiza os seus meios? Que deixa de inventar os seus próprios fins? Que não desconfia de sua forma conhecida, nem arrisca um lance contra si, inconformada?
Para tentar saber o que pensam a respeito da poesia que produzem alguns dos mais destacados poetas estrangeiros em ação hoje, a Revista Sibila propôs-lhes algumas perguntas simples, primitivas até – silly questions! –, cujo escopo principal é deixar de tomar como naturais ou óbvios os automatismos da prática.
Trata-se de saber dos poetas, da maneira mais direta possível, o que ainda os move a ler, a escrever e a lançar um livro de poesia – ou, mais genericamente, a publicar poesia, seja qual for o suporte.
A condição de, por ora, ouvir apenas os estrangeiros é estratégica aqui. Convém evitar respostas que possam ser neutralizadas a priori por posicionamentos desconfiados de vizinhança.
Leitura de poesia, esforço de poesia e publicação de poesia: nada disso é compulsório, nada disso se explica de antemão. Tudo o que se faz, nesse domínio, é fruto de exigência apenas imaginária. Nada obriga, a não ser a obrigação que se inventa para si.
A revista Sibila quer saber que invenção é essa. Ou seja: o que os poetas ainda podem imaginar para a prática que os define como poetas.
Contemporary places for poetry
There are plenty of moments in our current life when the practice of poetry seems exactly a practice, something empirical, a kind of routine. One makes poetry because poetry has been made. One publishes poetry because books of poetry are published and were published, why not going on publishing them?
But what meaning does art have when art is reduced to empiricism, the habitual procedure which doesn’t discuss its means? Which doesn’t any longer make up its own aims? Which is not suspicious of its usual form, nor runs the risk of a move against itself, unresigned?
Trying to know what some of the most distinguished foreign poets in action today think about their own poetry, Sibila proposed some very simple questions, some naïve questions – silly questions! –, whose principal aim is no longer to consider as natural ( as obvious) the automatisms of the poetical practice.
Sibila asks the poets to tell in the more direct way what still moves them to read, to write, to publish a book of poetry – or, more generically, to publish poetry, in whatever support.
The choice, for the moment, to listen only to foreign poets’ voice is a strategic one. It’s better to avoid answers which would be neutralized a priori, due to suspicious neighbourly attitudes.
Reading poetry, straining to write poetry, publishing poetry: not at all compulsory, all this, not at all explainable in advance. Everything you do in this domain is the result of mere imaginary exacting. Nothing obliges you, unless the obligation you invent yourself, for yourself. Sibila wants to know what kind of invention is that. Id est: what poets may still make up for the practice which defines them as poets.