Poeta, dramaturgo, crítico de literatura, teatro e cinema, DOUGLAS MESSERLI, nascido em Waterloo, Iowa, em 1947, é um dos três mais importantes editores de poesia dos Estados Unidos nos últimos 30 anos e, pode-se afirmar, um dos mais importantes do mundo. Esteve à frente da lendária Sun & Moon Press e agora dirige a Green Integer, em Los Angeles, onde vive há várias décadas. Seu trabalho extraordinário como editor chegou a ofuscar o de bom poeta e dramaturgo. O enfoque nas poéticas marginalizadas e de inovação nacionais e internacionais do século 20 e ainda do século 21 tornaram Messerli uma figura ímpar. Ele recebeu do governo francês o título de Officier de l’Ordre des Arts et des Lettres em reconhecimento ao seu trabalho seminal. Messerli editou, em 1994, uma das mais consistentes e representativas antologias de poesia de seu país, desde The New American Poetry, de Donald M. Allen (1960): From the other side of the century: a New American Poetry 1960 — 1990 (Sun & Moon Press), com mais de 1000 páginas. No final de 1970, começou a publicar livros de figuras literárias então desconhecidas como como David Antin, Charles Bernstein, Paul Auster, Steve Katz, Russell Banks e Djuna Barnes. Em 1985, Messerli deixou sua cátedra na Universidade de Temple, Filadélfia, para se dedicar exclusivamente à Sun & Moon Press. No mesmo ano, seu companheiro Howard Fox foi nomeado Curador de Arte Contemporânea, no County Museum of Art de Los Angeles. Em 2000, ele começou a criar e editar uma série editorial, ainda em curso, de poesia internacional, o projeto “Inovadoras da poesia mundial”. Recentemente, Messerli tem igualmente se dedicado a seus seis websites on-line que exploram poesia, ficção, cinema, tesouros culturais americanos, drama, e experiências culturais em geral. Seu livro de leitura Films: My Cinema Internacional foi publicado em 2012. Ele editou, em 1997, nos Estados Unidos (sem edição no Brasil) a pioneira antologia de poesia brasileira Nothing the sun could not explain.
Leitura de poesia
Sibila: Você lê poesia?
Messerli: Leio numerosas coleções de poesia e centenas de poetas isolados, vivos ou não, por ano. Não apenas porque amo esse tipo de atividade, mas porque, por ser editor, é parte de meu trabalho.
Sibila: Que poesia você lê?
Messerli: Leio escritores contemporâneos e internacionais (ultimamente, mais esses últimos) e figuras significativas do modernismo internacional, que descreveria como escritores “inovadores”, por mais vago que possa ser o conceito. Não leio escritores acadêmicos, não inventivos ou tradicionalistas.
Sibila: Você acha que a leitura de poesia tem algum efeito?
Messerli: Bem, para mim, sim, certamente. A poesia tem um efeito enorme na minha maneira de pensar e em meu estado emocional. Mas não posso falar pelos outros. Aparentemente, para um grande número de pessoas, a poesia, particularmente a mais inovadora, é simplesmente algo intrigante e sem significado. Gosto de pensar que com um pouco de iniciação e de prática isso poderia ser mudado, mas, pelo jeito, os que não apreciam ou não entendem a poesia são também gente muito teimosa, determinada a ficar no escuro.
Escrita de poesia
Sibila: O que você espera ao escrever poesia?
Messerli: Não tenho expectativas. Eu, simplesmente, quero e preciso escrever. Isso me ajuda a compreender ou – ao menos – a explorar o incompreensível, o incognoscível. Força-me a pensar e a imaginar um sentido para mim próprio. Posso esperar encontrar um leitor para quem o poema que eu escrevo tenha o mesmo efeito. Mas não é por isso que eu escrevo: é uma necessidade, como o ar fresco, uma boa comida, a água.
Sibila: Qual o melhor efeito que você imagina para a prática da poesia?
Messerli: O que disse acima: a chance de criar uma visão feita de palavras que me ajude a questionar a realidade ou aquilo que alguns costumam descrever como a vida de todo dia. Naturalmente, não acredito na vida de todo dia, mesmo se, muitas vezes, um dia se parece com o outro, e é maravilhoso o fato de que escrever me ajude não apenas a perceber, mas a fazer significar, mesmo sabendo que não há um significado coerente possível. Ali está a graça, tentar dar sentido a algo ao qual você sabe que não pode.
Sibila: Você acha que a sua poesia tem interesse público?
Messerli: Claro que isso depende inteiramente de como você define “público” e “valor”. Em sua acepção habitual essas palavras sugerem algum “valor” definível (geralmente ligado a questões monetárias ou, ao menos, a algo que tem a ver com posses). Não, minha poesia não tem “valor”. E quanto ao tipo de público ao qual me referi na primeira pergunta – um conjunto de pessoas que não encontram nenhum prazer ao ler poesia – de novo tenho que responder não.
Mas ao subconjunto de leitores que está aberto a meu tipo de escritura, eu digo sim, eu espero que minha poesia tenha um valor intelectual e mesmo espiritual, a espécie de valor que vem de se colocarem questões e de se desafiar aquilo que se percebe. E esta é, em muitos sentidos, a melhor atividade em que se possa estar engajado. Acho que é por isso, a despeito do olhar frio dos leitores, que tantos ainda se sentem atraídos a escrever o que descrevem como um poema.
Publicação de poesia
Sibila: Qual o melhor suporte para a sua poesia?
Messerli: Creio ter de admitir que meu melhor suporte são apenas alguns amigos chegados, que me leem. Gostaria de poder dizer que meus leitores representam uma ampla faixa dos que leem poesia e que me apoiam, mas seria uma mentira. Creio que cada poeta possa reivindicar o mesmo. Qualquer poeta, particularmente os americanos, caso não tivesse a ilusão de ter alguma espécie de apoio amplo, ficaria certamente desapontado, de alguma maneira e – provavelmente – deixaria logo de escrever.
Sibila: Qual o melhor resultado que você espera da publicação da sua poesia?
Messerli: Por eu ser, ao mesmo tempo, escritor e editor, diria que o melhor que se pode esperar é que cada leitor inteligente possa sentar-se e tentar descrever o que e como sua poesia representou para ela ou ele. Certamente é por isso que eu resenho tantos livros de poesia. Resenhar demonstra que pelo menos uma pessoa tentou – por bem ou por mal – lidar intelectualmente com suas palavras. E se o escrito for realmente bom, ele poderá também ajudar outras pessoas a encontrarem um jeito de entrar nele. Porém, como há tão poucos leitores que leem poesia regularmente, não posso imaginar que haja muitos leitores de resenhas de poesia. Mas também há tão poucas resenhas inteligentes de poesia…
Sibila: Qual o melhor leitor de seu livro de poesia?
Messerli: Meu melhor leitor é qualquer pessoa que esteja tentando seriamente se envolver com minhas palavras através da linguagem; pessoas que possam ouvir, sentir, pensar, com um choque de empatia em seus ossos – isso é tudo o que elas precisam. Muitas vezes encontro leitores sem nenhuma experiência na leitura de poesia, que se dão melhor com meus poemas. As crianças podem ser uma audiência perfeita – é pena que não encontre muitas, pessoalmente, assim há poucas chances de que isso ocorra. Leitores jovens, provavelmente, dar-se-ão melhor com meus poemas do que poetas de minha idade. Pelo jeito, parece que me atrasei de alguns anos em relação aos meus coetâneos com quem cresci. Descobri que alguns dos que dizem simplesmente odiar a poesia, não conseguir absolutamente entender a poesia e recusam se preocupar com ela, quando se dão a chance de ler, se dão bem com meus poemas. Não tenho ideia de como isso possa explicar o meu trabalho. Talvez ele seja menos difícil do que penso ou do que quero que seja. Como os modernistas, eu gosto da dificuldade, ou – ao menos – da estranheza de escrever, porque é somente então que se pode descobrir alguma coisa fora das conclusões óbvias às quais já chegamos, que, aliás, são todas mentiras. Quem sabe meu melhor leitor seja aquele que não sabe nada.
Sibila: O que você mais gostaria que acontecesse após a publicação da sua poesia?
Messerli: Bem, uma vez que o que eu vou dizer nunca aconteceu, não vou falar muito sobre isso. Gostaria que as pessoas viessem correndo, todas elas gritando e querendo mais! Mas isso é ridículo, diante dos fatos. Certamente poucos de nós ficam satisfeitos com o silêncio total que muitas vezes recebemos, depois da publicação de um livro. Ou então, umas poucas expressões gentis, querendo nos animar, como “É muito interessante” etc.
A única coisa que posso esperar realmente, depois de publicar um livro, é começar a escrever outro, imediatamente, varrendo o silêncio com a possibilidade de novas explorações do significado. É claro que, quando estou cuidando de publicar um de meus livros, já escrevi alguns outros; minha única esperança é nunca deixar de emparelhar as duas coisas. Quando o fizer, certamente terei dito ou tentado dizer tudo o que eu podia.
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* * *
POEMAS NOVOS
Espaço (2)
Foi a formiga no braço e não
a mulher mais velha que amparava
quem me fez rir um pouco – a coincidência
de a irmã de minha mãe olhar pro
céu enquanto eu estava tão intensamente
absorto no prado de ervas daninhas
que os pelos de meu corpo acidentalmente
inventaram para o pequeno inseto.
Um sopro de brisa fez a coitada
se ajoelhar, e ela me fitou
Ajude, por favor! Nada eu
podia fazer, ainda mais na altura
aonde ela havia ido.
Eu já sabia que a outra
sentia-se perfeitamente em casa lá.
Space (2)
for Cole Swensen
It was the ant on my arm and not
the older woman I was holding up
that made me giggle – the coincidence
of my mother’s sister staring into
space while I was so intensely
focused on the field of weeds
my body hair had accidentally
invented for the small insect.
A simple breeze brought the subject
to its knees, and she looked up
Help me please! There was nothing
I could do, even in the lift
from where she’d gone
I already knew the other
was perfectly at home there.
Noite e dia
Toda noite atiro nas estrelas
feito soldado numa terra mágica
onde o mundo mergulhou nas cinzas.
Em meu sono vejo um fulgor
que acende todas as cidades do mapa.
Chamo você pelo nome, sem saber.
Sem saber de sua chegada
atiro em outra e abaixo a carabina.
Peço ao vento, por favor deixe-me um alento
mas os anos correm numa corrida vácua.
Rezo para que me esqueça
sem pesar. Mas não, de manhã
você se apruma. O preto breu do alvorecer
é rompido por seu próprio bocejar.
Shhhh, você sussurra. Não há estrelas.
Anos não há. O mapa está fechado
no maleiro do carro. Na chuva tudo
é verde de novo. e sua carabina
era meu braço.Vamos! hora de levantar!
Night and Day
for Howard
Every night now I shoot the stars
like a soldier in a magic land
where the world has sunk into ash.
In my sleep I see a burning
to light all the cities of the map.
I call your name without knowing.
I call knowledge into me without your arrival,
shoot another and lay down my gun.
I beg the wind, please leave me a breath,
but the years run by in a vacuous rush.
I pray that you will forget me
without regret. But no, in the morning
you sit up. The black tar of daybreak
is cracked by your very yawn.
Shhhh, you whisper. There are no stars.
There are no years. The map is trapped
in the trunk of the car. In the rain everything
is green again. and the gun you held
was my arm. Come along, it’s time to get up!
November 13, 2003 (Los Angeles).
O Problema do Vidro
O problema do vidro
– é que ele quebra
faz uma estria no punho, atrás,
os cacos estilhaçados
cortam quase tudo o que se vê.
O coração é feito de tecido
o cérebro, de massa corrugada.
Vidro é areia recomposta.
Quem vive em pedras
não atire gelo.
The Problem with Glass
The problem with glass
– it breaks
it striates a wrist, the back
shattering shards
sever almost everything in sight.
The heart is made up of tissue
the brain corrugated mass.
Glass is recomposed sand.
People who live in stones
should not throw ice.
February 22, 2012 (Los Angeles)
Traduções de Aurora Bernardini
* * *
Reading poetry
Sibila: Do you read poetry?
Messerli: I read numerous collections of poetry and hundreds of individual poets by writers living and dead each year. Not only do I love the activity, but, as a publisher, it is part of my job.
Sibila: What kind of poetry do you read?
Messerli: Contemporary American and international writers (these days, particularly the latter) and significant international modernist figures, all of whom I would describe as “innovative” writers — however vague that concept might be. I do not read academic, un-inventive, or traditionalist writers.
Sibila: Do you think that reading poetry would produce any effect?
Messerli: Well, it certainly does for me. Poetry has an enormous effect on my thinking and emotional state. But I cannot speak for others. Apparently, for most people, poetry, particularly more innovative work, is simply puzzling and meaningless. I’d like to think that with a little bit of education and practice that might be changed, but it appears that those who don’t like or understand poetry are also very stubborn folk, determined to remain in the dark.
Writing poetry
Sibila: What do you expect from writing poetry?
Messerli: I have no expectations. I simply desire and need to write. It helps me to comprehend or at least to explore the incomprehensible, the unknowable. It forces me to think and imagine meaning for myself. I might hope that I find a reader for whom the poem I write has the same effect. But that isn’t why I write: that’s a necessity like fresh air, good food, and water.
Sibila: In your opinion, what is the best effect one can get from practicing poetry.
Messerli: Just what I described above: the chance to create a vision made of words that helps me to question reality or what some describe as everyday life. Of course, I don’t really believe in everyday life even if every day often feels just like another. But I know that it truly isn’t — that each second of each day is utterly different from the next, and that’s a wonderful thing which writing helps me to not only perceive but to make meaning of, all the while knowing that there is no coherent meaning possible. But that’s the fun, trying to make sense of something you know you can’t.
Sibila: Do you think your poetry has any public value?
Messerli: Of course that depends entirely upon how you define the “public” and “value.” In the usual application of those words, suggesting some definable “worth” (usually couched in monetary terms or at least something to do with possessions) no, my poetry has no “value.” And for a notion of the public I’ve suggested in my first question, a mass of individuals who find no pleasure in reading poetry whatsoever, again I’d have to answer no.
But for a subset of general readers, open to my kind of writing, yes, I do hope my poetry has intellectual and even spiritual value, the kind of values that come from asking questions and challenging what we perceive. And in many ways that is the most valuable activity anyone can engage in. I think that’s why, despite the bleak outlook when it comes to readers, so many people are still attracted to writing what they describe as a poem.
Publishing poetry
Sibila: Which is the best support for your poetry?
Messerli: I guess I’d have to admit, my very best support is just a few close, reading friends. I wish I could say that my readership represented a wide swath of poetry readers who all might come to my support, but this is a lie, I believe, that very poets can claim. Any poet, particularly American poets, deluded enough to believe they’ve got some kind of broad support will surely be disappointed in all kinds of ways, and probably, will quickly give up writing.
Sibila: Which is the best result you expect from the publishing of your poetry?
Messerli: As both a writer and a publisher I’d say the very best you can expect is that some intelligent reader might sit down and try to describe what and how your poetry meant to her or him. Surely that’s why I do so many reviews of poetry books. Such writing demonstrates that, at least, one person has attempted — for better or worse — to intellectually wrestle with you words. And if the writing is really good, it may also help others to find a way to enter the writing. But then, since there are so few regular poetry readers, I can’t imagine that there are many readers of poetry reviews. And then, there are so few intelligent poetry reviews….
Sibila: Who is the best reader of your poetry?
Messerli: Anyone who is serious about attempting to engage through language with my words, a person who can hear, feel, and think, with a dash of empathy is his or her bones — that’s all they need. I often find readers without any experience in reading poetry do best with my poems. Children might be the perfect audience, but unfortunately I don’t encounter many children personally, and so the opportunities for that are few. Younger readers probably will do better with my work than poets of my own age. I’ve always, it appears, been a few years behind those with who I grew up. I’ve found that some of those who just hate poetry, who claim they cannot understand poetry at all, and refuse to bother with it, do quite nicely, if they give themselves the opportunity, with my poems. I don’t know what that says about my work. Perhaps it’s not as difficult as I think it is or want it to be. Like the Modernists, I like the difficulty or, at least the strangeness, of writing because its only then that one can discover anything outside of the obvious conclusions we’ve already made, which, obviously, are all lies. Maybe someone who knows nothing is the best reader for me.
Sibila: What would you most like to happen after the publication of your poetry?
Messerli: Well, since it never has, I’ll not say much about this. I think we’d all love to have people come running, all screaming for more of the work! But that’s ridiculous, given the facts. Certainly few of us are pleased by the utter silence that, upon the publication of a book, we often receive. Or a few kind assurances such “That was interesting” etc.
The only thing I can truly hope after I publish another book is that I begin immediately upon writing another one, drowning out the silence with the possibilities of new explorations into meaning. Of course, by the time I get around to publishing some of my works, I have already written a few others; my only hope is that I never catch up. When I do, surely, I’ll have said all or tried to say all that I can.
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Leia a série completa
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- Sibila, Lugares contemporâneos da poesia: Zeyar Lynn
Lugares contemporâneos da poesia
Concepção do projeto: Alcir Pécora e Régis Bonvicino
Texto introdutório: Alcir Pécora
Realização: Régis Bonvicino, com a colaboração de Aurora Bernardini e Charles Bernstein
Há reiterados momentos do contemporâneo em que a prática da poesia se parece exatamente apenas uma prática, uma empiria, uma rotina. Faz-se poesia porque poesia é feita. Edita-se poesia porque livros de poesia são editados e foram editados. Por que não continuar editando-os?
Mas qual o significado da arte, quando a arte se reduz a empiria, procedimento habitual que não problematiza os seus meios? Que deixa de inventar os seus próprios fins? Que não desconfia de sua forma conhecida, nem arrisca um lance contra si, inconformada?
Para tentar saber o que pensam a respeito da poesia que produzem alguns dos mais destacados poetas estrangeiros em ação hoje, a Revista Sibila propôs-lhes algumas perguntas simples, primitivas até – silly questions! –, cujo escopo principal é deixar de tomar como naturais ou óbvios os automatismos da prática.
Trata-se de saber dos poetas, da maneira mais direta possível, o que ainda os move a ler, a escrever e a lançar um livro de poesia – ou, mais genericamente, a publicar poesia, seja qual for o suporte.
A condição de, por ora, ouvir apenas os estrangeiros é estratégica aqui. Convém evitar respostas que possam ser neutralizadas a priori por posicionamentos desconfiados de vizinhança.
Leitura de poesia, esforço de poesia e publicação de poesia: nada disso é compulsório, nada disso se explica de antemão. Tudo o que se faz, nesse domínio, é fruto de exigência apenas imaginária. Nada obriga, a não ser a obrigação que se inventa para si.
A revista Sibila quer saber que invenção é essa. Ou seja: o que os poetas ainda podem imaginar para a prática que os define como poetas.
Contemporary places for poetry
There are plenty of moments in our current life when the practice of poetry seems exactly a practice, something empirical, a kind of routine. One makes poetry because poetry has been made. One publishes poetry because books of poetry are published and were published, why not going on publishing them?
But what meaning does art have when art is reduced to empiricism, the habitual procedure which doesn’t discuss its means? Which doesn’t any longer make up its own aims? Which is not suspicious of its usual form, nor runs the risk of a move against itself, unresigned?
Trying to know what some of the most distinguished foreign poets in action today think about their own poetry, Sibila proposed some very simple questions, some naïve questions – silly questions! –, whose principal aim is no longer to consider as natural ( as obvious) the automatisms of the poetical practice.
Sibila asks the poets to tell in the more direct way what still moves them to read, to write, to publish a book of poetry – or, more generically, to publish poetry, in whatever support.
The choice, for the moment, to listen only to foreign poets’ voice is a strategic one. It’s better to avoid answers which would be neutralized a priori, due to suspicious neighbourly attitudes.
Reading poetry, straining to write poetry, publishing poetry: not at all compulsory, all this, not at all explainable in advance. Everything you do in this domain is the result of mere imaginary exacting. Nothing obliges you, unless the obligation you invent yourself, for yourself. Sibila wants to know what kind of invention is that. Id est: what poets may still make up for the practice which defines them as poets.