Skip to main content

Sibila, lugares contemporâneos da poesia: Maggie O’Sullivan

MAGGIE O’SULLIVAN (1951) é uma poeta, performer e artista visual  inglesa. Seu percurso artístico está associado à publicação britânica Poetry Revival.

O’Sullivan nasceu em Lincoln, Inglaterra, de pais irlandeses. Ela se mudou para Londres em 1971 e trabalhou para a BBC até 1988 Seus primeiros trabalhos apareceram em revistas e jornais. Ela, desde então, vive em Hebden Bridge, West Yorkshire.

O trabalho de O’Sullivan dialoga, segundo a crítica, com os de Basil Bunting, Kurt Schwitters, Joseph Beuys e Bob Cobbing, entre outros. Seus livros incluem Uma história incompleta natural (1984), Na casa do Shaman (1993), Desvio para o vermelho (2000) e Palácio de répteis (2003). Editou também An Anthology of Contemporary Linguistically Innovative Poetry by Women in North America & the UK (1996).

Seu trabalho aparece igualmente em revistas e antologias nacionais e internacionais. Colabora, escrevendo roteiros e poemas, com dançarinos e músicos e participou e participa de festivais de poesia e conferências nos Estados Unidos, Canadá, Europa, Irlanda, Grã-Bretanha. Alguns de seus livros e trabalhos visuais estão on-line como A Selection of Visual Work (1972-1995), o texto completo de Murmur (February 1999 – January 2004, até então inédito), o texto completo de “All Origins Are Lonely”, primeiramente publicado numa edição limitada, numerada e assinada pela autora, por Veer Books em Londres em 2003, e ainda o texto completo de Own Land from Waterfalls, 2012, e outros.

Mantém o website Maggie O’Sullivan.

Leitura de poesia

Sibila: Você lê poesia?

Maggie: Sim. Da mesma forma que eu leio aqueles maravilhosos objetos de transformação, panfletos e livros de poesia, continuo lendo, em termos de encontro e exposição, assistindo e ouvindo poetas e poemas na internet, participando de leituras de poemas, festivais de poesia, mostras de poesia etc. Por exemplo, o recente Festival de Poesia de Londres, no Birkbeck College, em maio – que incluía uma exibição fabulosa Visual & Audio Werx – introduziu-me em uma diversidade de poetas mais jovens e estimulantes, aqui na Inglaterra. Uma série de leituras de poemas – The Other Room –, em Manchester, também é uma fonte contínua de poesia ativa. Inclusive exposições, como a de Malévitch, agora, na Tate Modern Gallery, eu considero leitura de poesia. Digo leitura de poesia para significar poesia no sentido mais amplo possível.

Sibila: Que poesia você lê?

Maggie: Technicians of the Sacred  de Jerry Rothenberg  e o seu  3-volume de Poems for the Millennium (co-editado com Pierre Joris and Jeffrey Robinson) são companheiros de toda hora. Estou sempre voltando à obra de Emily Dickinson, John Clare, Susan Howe e  Leslie Scalapino. Charles Bernstein e Bill Griffiths são talismânicos, para mim.

Eu sempre levo comigo Lavish Absence: Recalling and Rereading de Rosmarie Waldrop, Edmond Jabès e/ou Simone Weil com seus Gravity e Grace toda vez que tenho de fazer alguma viagem longa de trem e sinto que posso ficar perdida por aí.

Agora mesmo sinto-me muito próxima a Daniil Kharms e a Alexander Vvedensky, traduzidos do russo. Mergulhei na Oberiu, An Anthology of Russian Absurdism (editada e traduzida por Eugene Ostashevsky), que contém O caderno azul de Daniil Kharms e “Morte”, extremamente comovente, de Yakov Druskin; Russia’s Lost Literature of the Absurd (obras escolhidas de Daniil Kharms e Alexander Vvedensky) traduzidas e editadas por George Gibian. Existe antologia bilíngue de Kharms em português, de cuja tradução participei, editada pela Editora Kalinka: Os sonhos teus vão acabar contigo e, de Alexander Vvedensky, An Invitation for Me to Think (obras escolhidas e traduzidas por Eugene Ostashevsky, com traduções adicionais de Matvei Yankelevich).

No verão passado [acabou de ser exibida no Rio e em Parati e faz parte da antologia em português] assisti à adaptação teatral de A velha, de Daniil Kharms, com Mikhail Baryshnikov e Willem Dafoe, como parte do Manchester International Festival.

Um ano atrás, mais ou menos, li Raúl Zurita, depois de assistir a sua incrível performance no Birkbeck College, em Londres, no verão passado.

No ano passado também voltei a Denise Riley, com sua obra Time Lived, Without Its Flow.

As gravações e os vídeos do Penn Sound e também do Jacket2 estão entre as fontes que são meus salva-vidas.

Sibila: Você acha que a leitura de poesia tem algum efeito?

Maggie: A poesia que eu considero significativa e de imenso valor  é a inventiva, em termos de forma e imaginação. Perigosa, contrária à mediocridade, contrária à certeza, ao fechamento, CONTRÁRIA. Um incitamento à liberdade imaginativa. Um incitamento ao ativismo pessoal. Não é de estímulo menor, para mim, re-imaginar, re-pensar, esperar.

Escrita de poesia

Sibila: O que você espera ao escrever poesia?

Maggie: Aprofundar meu próprio empenho.

Sibila: Qual o melhor efeito que você imagina para a prática da poesia?

Maggie: Praticar poesia tem sido essencial em minha vida, mesmo antes que eu soubesse que ela tinha nome. Quando criança, amava todo o encantamento que me dava a leitura-escritura de poesia. (“My Songs Made Me” de Orpingalik, o Xamã dos povos inuites) [indígenas do Ártico]. Até hoje eu tenho ele comigo.

Sibila: Você acha que a sua poesia tem interesse público?

Maggie: Esta questão é irrelevante, para mim.

maggie2

Publicação de poesia

Sibila: Qual o melhor suporte para a sua poesia?

Maggie: Convites para ler, vindos dos que atribuem valor a meu trabalho, como parte de uma conversa contínua e mais ampla. Dão-me a oportunidade de compartilhar e trabalhar com poetas e ouvintes com os quais tenho afinidades.

Sibila: Qual o melhor resultado que você espera da publicação da sua poesia?

Maggie: Que meu trabalho esteja por aí, de modo que as pessoas possam achá-lo, da mesma forma que eu achei e continuo achando o trabalho de outros.

Sibila: Qual o melhor leitor de seu livro de poesia?

Maggie: Será que existe um?

Sibila: O que você mais gostaria que acontecesse após a publicação da sua poesia?

Maggie: Não penso muito no que acontecerá além das demandas imediatas da feitura do trabalho. Que eu seja ainda capaz e empenhada no esforço de fazê-lo, ainda esfomeada, isso é suficiente para mim.

Ouça Maggie O’Sullivan lendo seus poemas

* * *

Reading poetry

Sibila: Do you read poetry?

Maggie: Yes. As well reading those wonderful objects of transformation, poetry pamphlets and books, I take reading to mean exposure and engagement with viewing and listening to poets and poetry on the internet, being at poetry readings, poetry festivals, poetry exhibitions, etc. For example, the recent London Poetry Festival at Birkbeck College, in May – which included a fabulous Visual & Audio Werx exhibition – introduced me to a diversity of exciting younger poets here in the UK. The Other Room poetry reading series in Manchester is also a continuing strong source of active poetries. Also, such exhibitions as the current Malevich exhibition at Tate Modern I regard as poetry reading. I take poetry reading to mean poetry in the broadest possible sense.

Sibila: What kind of poetry do you read?

Maggie: Jerry Rothenberg’s Technicians of the Sacred and his 3-volume Poems for the Millennium (co-edited with Pierre Joris and Jeffrey Robinson) are abiding companions. I am always returning to the work of Emily Dickinson, John Clare, Susan Howe and Leslie Scalapino. Charles Bernstein and Bill Griffiths are talismanic.

I often take Rosmarie Waldrop’s Lavish Absence: Recalling and Rereading Edmond Jabès and/or Simone Weil’s Gravity and Grace along with me if I have a long train journey and I feel I might get lost somewhere.

Right now, I am feeling close to Daniil Kharms and Alexander Vvedensky, in translation from the Russian. I am absorbed in Oberiu, An Anthology of Russian Absurdism (edited and translated by Eugene Ostashevsky) which contains The Blue NoteBook by Daniil Kharms and the very moving Death by Yakov Druskin; Russia’s Lost Literature of the Absurd (Selected Works of Daniil Kharms and Alexander Vvedensky) translated and edited by George Gibian and Alexander Vvedensky’s An Invitation for Me to Think (selected and translated by Eugene Ostashevsky, additional translations by Matvei Yankelevich).

Last summer I saw Robert Wilson’s electrifying staging of Daniil Kharms’s The Old Woman, with Mikhail Baryshnikov and Willem Dafoe as part of the Manchester International Festival.

Over the last year or so, I’ve been reading Raúl Zurita, after witnessing his tremendous performance at Birkbeck College, London last summer.

Also over the last year I’ve also been returning to Denise Riley’s Time Lived, Without Its Flow.

The Penn Sound recordings and videos, as well as Jacket2 are among the sources that are lifelines to me.

Sibila: Do you think that reading poetry would produce any effect?

Maggie: Poetry that I find significant and of immeasurable personal value is imaginatively and formally inventive. Dangerous, averse to mediocrity, averse to certainty, to closure. AVERSE. An incitement to imaginative freedom. An incitement to personal activism. Nothing short of an incitement for me to to re-imagine, to re-think, to hope.

Writing poetry

Sibila: What do you expect from writing poetry?

Maggie: To deepen my own struggle.

Sibila: In your opinion, which is the best effect one can get from practicing poetry?

Maggie: This doing of it has been core in my life even before I knew it had a name. As a child I loved the whole wonderment of writing-reading. (‘My Songs Made Me’ – Orpingalik, the Inuit Shaman). It has been with me to here.

Sibila: Do you think your poetry has any public value?

Maggie: The question is irrelevant to me.

Publishing poetry

Sibila: Which is the best support for your poetry?

Maggie: Invitations to read from those who accord my work a value as part of an ongoing and wider conversation. They provide me the opportunity to share and work with kindred practitioners and listeners.

Sibila: Which is the best result you expect from the publishing of your poetry?

Maggie: That the work is out there, that a person might find it, just as I have found and continue to find the work of others.

Sibila: Who is the best reader of your poetry?

Maggie: Does one exist?

Sibila: What would you most like to happen after the publication of your poetry?

Maggie: I don’t think much beyond the immediate demands of the making of the work. That I am still able and engaged in the struggle with making, still hungry, is enough for me.

* * *

Leia a série completa

 

Lugares contemporâneos da poesia

Concepção do projeto: Alcir Pécora e Régis Bonvicino
Texto introdutório: Alcir Pécora
Realização: Régis Bonvicino, com a colaboração de Aurora Bernardini e Charles Bernstein

Há reiterados momentos do contemporâneo em que a prática da poesia se parece exatamente apenas uma prática, uma empiria, uma rotina. Faz-se poesia porque poesia é feita. Edita-se poesia porque livros de poesia são editados e foram editados. Por que não continuar editando-os?

Mas qual o significado da arte, quando a arte se reduz a empiria, procedimento habitual que não problematiza os seus meios? Que deixa de inventar os seus próprios fins? Que não desconfia de sua forma conhecida, nem arrisca um lance contra si, inconformada?

Para tentar saber o que pensam a respeito da poesia que produzem alguns dos mais destacados poetas estrangeiros em ação hoje, a Revista Sibila propôs-lhes algumas perguntas simples, primitivas até – silly questions! –, cujo escopo principal é deixar de tomar como naturais ou óbvios os automatismos da prática.

Trata-se de saber dos poetas, da maneira mais direta possível, o que ainda os move a ler, a escrever e a lançar um livro de poesia – ou, mais genericamente, a publicar poesia, seja qual for o suporte.

A condição de, por ora, ouvir apenas os estrangeiros é estratégica aqui. Convém evitar respostas que possam ser neutralizadas a priori por posicionamentos desconfiados de vizinhança.

Leitura de poesia, esforço de poesia e publicação de poesia: nada disso é compulsório, nada disso se explica de antemão. Tudo o que se faz, nesse domínio, é fruto de exigência apenas imaginária. Nada obriga, a não ser a obrigação que se inventa para si.

A revista Sibila quer saber que invenção é essa. Ou seja: o que os poetas ainda podem imaginar para a prática que os define como poetas.

Contemporary places for poetry

There are plenty of moments in our current life when the practice of poetry seems exactly a practice, something empirical, a kind of routine. One makes poetry because poetry has been made. One publishes poetry because books of poetry are published and were published, why not going on publishing them?

But what meaning does art have when art is reduced to empiricism, the habitual procedure which doesn’t discuss its means? Which doesn’t any longer make up its own aims? Which is not suspicious of its usual form, nor runs the risk of a move against itself, unresigned?

Trying to know what some of the most distinguished foreign poets in action today think about their own poetry, Sibila proposed some very simple questions, some naïve questions – silly questions! –, whose principal aim is no longer to consider as natural ( as obvious) the automatisms of the poetical practice.

Sibila asks the poets to tell in the more direct way what still moves them to read, to write, to publish a book of poetry – or, more generically, to publish poetry, in whatever support.

The choice, for the moment, to listen only to foreign poets’ voice is a strategic one. It’s better to avoid answers which would be neutralized a priori, due to suspicious neighbourly attitudes.

Reading poetry, straining to write poetry, publishing poetry: not at all compulsory, all this, not at all explainable in advance. Everything you do in this domain is the result of mere imaginary exacting. Nothing obliges you, unless the obligation you invent yourself, for yourself. Sibila wants to know what kind of invention is that. Id est: what poets may still make up for the practice which defines them as poets.