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Sibila, Lugares contemporâneos da poesia: Zeyar Lynn

Miammar ou Burma acaba de sofrer mais um golpe de Estado, exatamente em 1º de fevereiro quando a Conselheira de Estado Aung San Suu Kyi, o presidente Win Myint e outros líderes do partido governante foram detidos pelo Tatmadaw, o exército do país. Horas depois, o exército declarou estado de emergência e anunciou que o poder havia sido entregue ao comandante-chefe das forças armadas, Min Aung Hlaing. Sibila publica como protesto uma entrevista inédita (feita já há alguns anos) de Zeyar Lynn, poeta, crítico, escritor, tradutor e professor de inglês. Vive em Rangum, Burma.. É autor de Distinguishing Features (2006), Real/Life: Prose Poems (2009) e Kilimanjaro (2010). Traduziu vários poetas do Ocidente, como Wisława Szymborska, Tomas Tranströmer, John Ashbery, Sylvia Plath e Charles Bernstein. Com James Byrne e Ko Ko Thett, Lynn está editando a primeira antologia de poesia burmesa em inglês. É um dos editores da trimestral Poetry World. Ele ensina inglês numa escola especializada de linguagem.

 

Leitura de poesia

Sibila: Você lê poesia?

Lynn: Sim, eu leio. É meu ritual de cada dia. Não consigo dormir sem ler alguns poemas ou algum artigo sobre poesia. Sem isso, não há conclusão, em meu dia.

Sibila: Que poesia você lê?

Lynn: Leio principalmente o que aparece como “experimental”, “inovador” ou “novo”, tanto faz se for americano, alemão, francês, japonês ou sul-americano. No momento estou deslumbrado com o neobarroco da América Latina.

Sibila: Você acha que a leitura de poesia tem algum efeito?

Lynn: Ler poesia me consola, me surpreende, me estrangula, me inspira e me revigora. Faz-me franzir o cenho, ilumina-me as células do cérebro, leva-me a agarrar uma caneta e um caderno e ir adiante costurando a linguagem.

 

Escrita de poesia

Sibila: O que você espera ao escrever poesia?

Lynn: Gratificação do ego e realização sociopoética.

Sibila: Qual o melhor efeito que você imagina para a prática da poesia?

Lynn: O sentido de estar vivo-na-linguagem.

Sibila: Você acha que a sua poesia tem interesse público?

Lynn: Não costumo fazer marketing com a poesia, mas gosto de sentir que aquilo que eu escrevo (as palavras especiais e as combinações que eu escolho) exerce certa influência nos que leem meus poemas.

 

Publicação de poesia

Sibila: Qual o melhor suporte para a sua poesia?

Lynn: Em termos financeiros, zero, mas me instiga a continuar escrevendo.

Sibila: Qual o melhor resultado que você espera da publicação da sua poesia?

Lynn: O reconhecimento, por parte dos leitores, de que sou um poeta.

Sibila: Qual o melhor leitor de seu livro de poesia?

Lynn: Não saberia dizer. Definitivamente, não eu.

Sibila: O que você mais gostaria que acontecesse após a publicação da sua poesia?

Lynn: A dinâmica da discussão e um retorno (seja ele construtivo ou não) por parte dos leitores e dos críticos.

 

Reading poetry

Sibila: Do you read poetry?

Lynn: Yes, I do. It is my daily ritual. I can’t sleep without reading some poems or some article on poetry. Without it, there’s no closure to my day.

Sibila: What kind of poetry do you read?

Lynn: Mostly those that come under ‘experimental’, ’innovative’, or ‘new’, whether its American, German, French, Japanese, or Latin American. Currently, I’m dazzled by Latin American neo-baroque.

Sibila: Do you think that reading poetry would produce any effect?

Lynn: Reading poetry soothes, startles, strangles, inspires, and re-invigorates me. It knits my brows, makes my brain cells light up, and moves me to grab a pen and a notebook to carry on the language thread.

 

Writing poetry

Sibila: What do you expect from writing poetry?

Lynn: Ego gratification and socio-poetical fulfillment.

Sibila: In your opinion, which is the best effect one can get from practicing poetry?

Lynn: The sense of being alive-in-language.

Sibila: Do you think your poetry has any public value?

Lynn: I don’t do poetry marketing, but I like to feel that what I write (the particular words and the combinations I choose) have some kind of bearing on whoever reads my poems.

 

Publishing poetry

Sibila: Which is the best support for your poetry?

Lynn: Financially, zero, but keeps me want to go on writing.

Sibila: Which is the best result you expect from the publishing of your poetry?

Lynn: Reader-acknowledgement of me as a poet.

Sibila: Who is the best reader of your poetry?

I don’t know. Definitely not I myself.

Sibila: What would you most like to happen after the publication of your poetry?

Lynn: Dynamics of discussion and feedback (constructive or not) from readers and critics.

 

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Leia a série completa

 

Lugares contemporâneos da poesia

Concepção do projeto: Alcir Pécora e Régis Bonvicino
Texto introdutório: Alcir Pécora
Realização: Régis Bonvicino, com a colaboração de Aurora Bernardini e Charles Bernstein

Há reiterados momentos do contemporâneo em que a prática da poesia se parece exatamente apenas uma prática, uma empiria, uma rotina. Faz-se poesia porque poesia é feita. Edita-se poesia porque livros de poesia são editados e foram editados. Por que não continuar editando-os?

Mas qual o significado da arte, quando a arte se reduz a empiria, procedimento habitual que não problematiza os seus meios? Que deixa de inventar os seus próprios fins? Que não desconfia de sua forma conhecida, nem arrisca um lance contra si, inconformada?

Para tentar saber o que pensam a respeito da poesia que produzem alguns dos mais destacados poetas estrangeiros em ação hoje, a Revista Sibila propôs-lhes algumas perguntas simples, primitivas até – silly questions! –, cujo escopo principal é deixar de tomar como naturais ou óbvios os automatismos da prática.

Trata-se de saber dos poetas, da maneira mais direta possível, o que ainda os move a ler, a escrever e a lançar um livro de poesia – ou, mais genericamente, a publicar poesia, seja qual for o suporte.

A condição de, por ora, ouvir apenas os estrangeiros é estratégica aqui. Convém evitar respostas que possam ser neutralizadas a priori por posicionamentos desconfiados de vizinhança.

Leitura de poesia, esforço de poesia e publicação de poesia: nada disso é compulsório, nada disso se explica de antemão. Tudo o que se faz, nesse domínio, é fruto de exigência apenas imaginária. Nada obriga, a não ser a obrigação que se inventa para si.

A revista Sibila quer saber que invenção é essa. Ou seja: o que os poetas ainda podem imaginar para a prática que os define como poetas.

Contemporary places for poetry

There are plenty of moments in our current life when the practice of poetry seems exactly a practice, something empirical, a kind of routine. One makes poetry because poetry has been made. One publishes poetry because books of poetry are published and were published, why not going on publishing them?

But what meaning does art have when art is reduced to empiricism, the habitual procedure which doesn’t discuss its means? Which doesn’t any longer make up its own aims? Which is not suspicious of its usual form, nor runs the risk of a move against itself, unresigned?

Trying to know what some of the most distinguished foreign poets in action today think about their own poetry, Sibila proposed some very simple questions, some naïve questions – silly questions! –, whose principal aim is no longer to consider as natural ( as obvious) the automatisms of the poetical practice.

Sibila asks the poets to tell in the more direct way what still moves them to read, to write, to publish a book of poetry – or, more generically, to publish poetry, in whatever support.

The choice, for the moment, to listen only to foreign poets’ voice is a strategic one. It’s better to avoid answers which would be neutralized a priori, due to suspicious neighbourly attitudes.

Reading poetry, straining to write poetry, publishing poetry: not at all compulsory, all this, not at all explainable in advance. Everything you do in this domain is the result of mere imaginary exacting. Nothing obliges you, unless the obligation you invent yourself, for yourself. Sibila wants to know what kind of invention is that. Id est: what poets may still make up for the practice which defines them as poets.