LILIANE GIRAUDON, nascida em 1946, vive em Marselha, escrevendo entre o que ela denomina de “literatura de combate” e de “literatura lixo”. Publicações recentes: La Poétesse (homobiographie), ed. P.O.L, 2009; Hôtel (com Bernard Plossu et JJ Viton), Argol, 2009; Biogres, Ritournelles/Malagar, 2009; L’Omelette rouge, P.O.L, 2011; Les Pénétrables, P.O.L, juin 2012; Histoires d’ail (com Xavier Girard), Argol, 2013; Madame Himself, P.O.L, 2013; La Sphinge mange cru, Al Dante, 2013.
Leitura de poesia
Sibila: Você lê poesia?
Giraudon: Sim, eu leio muita poesia.
Sibila: Que poesia você lê?
Giraudon: Francesa, estrangeira, contemporânea e antiga. Nesse momento estou relendo, em tradução francesa, as Notas sobre Édipo de Hölderlin. Acredito que, às vezes, há mais poesia em algumas prosas.
Sibila: Você acha que a leitura de poesia tem algum efeito?
Escrita de poesia
Sibila: O que você espera ao escrever poesia?
Giraudon: Escrever poesia é conectar-me com a memória da língua e captar o mundo.
Sibila: Qual o melhor efeito que você imagina para a prática da poesia?
Giraudon: A prática da poesia é vital. Suas formas estão em constante mudança. Todos os suportes e todas as manifestações da poesia (sonora, visual etc.) são necessárias. Mas o livro permanece essencial, para mim (herança de Mallarmé). Trabalhar para fazer um livro utilizando todos os acidentes é uma forma de chance.
Sibila: Você acha que a sua poesia tem interesse público?
Giraudon: Não saberia dizer. Eu escrevo para leitores desconhecidos. Meu desejo é poder ser lida por não leitores de poesia. Coisa utópica, por sinal.
Publicação de poesia
Sibila: Qual o melhor suporte para a sua poesia?
Giraudon: Creio que o melhor suporte para minha poesia é o livro. Mas a leitura pública e a performance propõem outros acessos. A internet abre novos suportes.
Sibila: Qual o melhor resultado que você espera da publicação da sua poesia?
Giraudon: Leitores desconhecidos. O reconhecimento dos meus pares. Traduções. Entrar a fazer parte daquilo que nosso caro Haroldo de Campos chamava “um proletariado internacional”.
Sibila: Qual o melhor leitor de seu livro de poesia?
Giraudon: Um leitor desconhecido.
Sibila: O que você mais gostaria que acontecesse após a publicação da sua poesia?
Giraudon: Ser lida por desconhecidos.
* * *
Lecture de poésie
Sibila: Lisez vous poésie?
Giraudon: Oui. Je lis beaucoup de poésie.
Sibila: Quel genre de poésie?
Giraudon: Française, étrangère, contemporaine et ancienne. En ce moment je relis en traduction française les Remarques sur Œdipe de Hölderlin. Je pense qu’il y a parfois plus de poésie dans certaines proses.
Sibila: Pensez vous que la lecture de poésie produit quelque effet?
Écriture de poésie
Sibila: Qu’est ce que vous attendez en écrivant poésie?
Giraudon: Ecrire de la poésie c’est me connecter à la mémoire de la langue et saisir le monde.
Sibila: Quel est le meilleur effet que vous imaginez pour la practique de la poésie?
Giraudon: La pratique de la poésie est vitale. Ses formes en perpétuel devenir. Tous les supports et toutes les manifestations de la poésie (sonore, visuelle etc.) sont nécessaires. Mais le livre demeure pour moi essentiel (dans l’héritage de Mallarmé). Travailler à faire un livre en utilisant tous les accidents est une forme de hasard.
Sibila: Pensez vous que votre poésie pourra avoir un certaine valeur pour le public? Lequel?
Giraudon: Je ne sais pas. J’écris pour des lecteurs inconnus. Mon désir est de pouvoir être lue par des non-lecteurs de poésie. Ce qui est utopique.
Publication de poésie
Sibila: Quel est le meilleur support pour votre poésie?
Giraudon: Je pense que le meilleur support pour ma poésie est le livre. Mais la lecture publique et la performance proposent d’autres accès. Internet ouvre de nouveaux supports.
Sibila: Quel est le résultat le plus intéressant que vous attendez de la publication de votre poésie?
Giraudon: Des lecteurs inconnus. La reconnaissance de mes pairs. Des traductions. Entrer dans ce que le cher Haroldo de Campos appelait “un prolétariat international”.
Sibila: Quel est le meilleur lecteur de votre livre de poésie?
Giraudon: Un lecteur inconnu.
Sibila: Quelle est la chose la plus intéressante qui pourrait se produire pour vous après la publication de votre poésie?
Giraudon: Être lue par des inconnus.
* * *
Leia a série completa
- Sibila, lugares contemporâneos da poesia: Etel Adnan
- Sibila, lugares contemporâneos da poesia: Pascal Poyet
- Sibila, lugares contemporâneos da poesia: Omid Shams
- Sibila, lugares contemporâneos da poesia: Hu Xudong
- Sibila, lugares contemporâneos da poesia: Vivek Narayanan
- Sibila, lugares contemporâneos da poesia: Vincent Broqua
- Sibila, lugares contemporâneos da poesia: Roger Santiváñez
- Sibila, lugares contemporâneos da poesia: François Luong
- Sibila, lugares contemporâneos da poesia: Mercedes Roffé
- Sibila, lugares contemporâneos da poesia: Iván Humanes
- Sibila, lugares contemporâneos da poesia: Thérèse Bachand
- Sibila, lugares contemporâneos da poesia: Enrique Winter
- Sibila, lugares contemporâneos da poesia: Fernando Escobar Páez
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- Sibila, lugares contemporâneos da poesia: Ko Ko Thett
- Sibila, lugares contemporâneos da poesia: Norbert Lange
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- Sibila, lugares contemporâneos da poesia: Alberte Momán
- Sibila, lugares contemporâneos da poesia: Reynaldo Jiménez
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- Sibila, lugares contemporâneos da poesia: Viacheslav Kupriianov
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- Sibila, lugares contemporâneos da poesia: John Yau
- Sibila, lugares contemporâneos da poesia: Martín Gubbins
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- Sibila, lugares contemporâneos da poesia: Jean-Marie Gleize
- Sibila, lugares contemporâneos da poesia: Jean-Jacques Viton
- Sibila, lugares contemporâneos da poesia: Maggie O’Sullivan
- Sibila, lugares contemporâneos da poesia: Paul Hoover
- Sibila, lugares contemporâneos da poesia: Nanni Balestrini
- Sibila, lugares contemporâneos da poesia: Yi Sha
- Sibila, lugares contemporâneos da poesia: Marco Giovenale
- Sibila, lugares contemporâneos da poesia: Liliane Giraudon
- Sibila, lugares contemporâneos da poesia: Eduardo Milán
- Sibila, Lugares contemporâneos da poesia: Zeyar Lynn
Lugares contemporâneos da poesia
Concepção do projeto: Alcir Pécora e Régis Bonvicino
Texto introdutório: Alcir Pécora
Realização: Régis Bonvicino, com a colaboração de Aurora Bernardini e Charles Bernstein
Há reiterados momentos do contemporâneo em que a prática da poesia se parece exatamente apenas uma prática, uma empiria, uma rotina. Faz-se poesia porque poesia é feita. Edita-se poesia porque livros de poesia são editados e foram editados. Por que não continuar editando-os?
Mas qual o significado da arte, quando a arte se reduz a empiria, procedimento habitual que não problematiza os seus meios? Que deixa de inventar os seus próprios fins? Que não desconfia de sua forma conhecida, nem arrisca um lance contra si, inconformada?
Para tentar saber o que pensam a respeito da poesia que produzem alguns dos mais destacados poetas estrangeiros em ação hoje, a Revista Sibila propôs-lhes algumas perguntas simples, primitivas até – silly questions! –, cujo escopo principal é deixar de tomar como naturais ou óbvios os automatismos da prática.
Trata-se de saber dos poetas, da maneira mais direta possível, o que ainda os move a ler, a escrever e a lançar um livro de poesia – ou, mais genericamente, a publicar poesia, seja qual for o suporte.
A condição de, por ora, ouvir apenas os estrangeiros é estratégica aqui. Convém evitar respostas que possam ser neutralizadas a priori por posicionamentos desconfiados de vizinhança.
Leitura de poesia, esforço de poesia e publicação de poesia: nada disso é compulsório, nada disso se explica de antemão. Tudo o que se faz, nesse domínio, é fruto de exigência apenas imaginária. Nada obriga, a não ser a obrigação que se inventa para si.
A revista Sibila quer saber que invenção é essa. Ou seja: o que os poetas ainda podem imaginar para a prática que os define como poetas.
Contemporary places for poetry
There are plenty of moments in our current life when the practice of poetry seems exactly a practice, something empirical, a kind of routine. One makes poetry because poetry has been made. One publishes poetry because books of poetry are published and were published, why not going on publishing them?
But what meaning does art have when art is reduced to empiricism, the habitual procedure which doesn’t discuss its means? Which doesn’t any longer make up its own aims? Which is not suspicious of its usual form, nor runs the risk of a move against itself, unresigned?
Trying to know what some of the most distinguished foreign poets in action today think about their own poetry, Sibila proposed some very simple questions, some naïve questions – silly questions! –, whose principal aim is no longer to consider as natural ( as obvious) the automatisms of the poetical practice.
Sibila asks the poets to tell in the more direct way what still moves them to read, to write, to publish a book of poetry – or, more generically, to publish poetry, in whatever support.
The choice, for the moment, to listen only to foreign poets’ voice is a strategic one. It’s better to avoid answers which would be neutralized a priori, due to suspicious neighbourly attitudes.
Reading poetry, straining to write poetry, publishing poetry: not at all compulsory, all this, not at all explainable in advance. Everything you do in this domain is the result of mere imaginary exacting. Nothing obliges you, unless the obligation you invent yourself, for yourself. Sibila wants to know what kind of invention is that. Id est: what poets may still make up for the practice which defines them as poets.